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Augusto Nunes

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Especial VEJA: Miguel Arraes, o cabra marcado

Publicado na edição impressa de VEJA De uma coisa Miguel Arraes nunca duvidou: qualquer que fosse o lado a sacar primeiro a garrucha o acertaria também. Para seus inimigos da direita ─ Carlos Lacerda era só o mais barulhento ─, o governador de Pernambuco era um rematado comunista; para seus competidores da esquerda ─ Jango […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h01 - Publicado em 19 abr 2014, 08h36

Publicado na edição impressa de VEJA

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De uma coisa Miguel Arraes nunca duvidou: qualquer que fosse o lado a sacar primeiro a garrucha o acertaria também. Para seus inimigos da direita ─ Carlos Lacerda era só o mais barulhento ─, o governador de Pernambuco era um rematado comunista; para seus competidores da esquerda ─ Jango na primeira fila ─, um incômodo umbuzeiro a fazer-lhes sombra. No dia 31, quando já estava claro quem havia atirado mais rápido, seu destino foi selado. Teria sido deposto naquela mesma tarde, não fosse o fato de o comando militar local, ocupado com as muitas tarefas que envolvem derrubar um governo, achar que essa poderia esperar até o dia seguinte. Arraes, afinal, encontrava-se “docilmente confinado em seu palácio, já quase impossibilitado de nos trazer perturbações”, como escreveu na autobiografia o general Joaquim Justino Alves Bastos, comandante do IV Exército e desafeto de longa data do governador. (“O instinto herdado de meu pai, um caçador de onças, fez-me ver nele desde a primeira hora um inimigo”, disse o general. “Declarei-lhe guerra desde que o conheci. E isolei-o, afinal, na solidão de um penhasco perdido no meio do Atlântico.”)

No Palácio do Campo das Princesas, ninguém dormiu naquela noite. Magdalena, mulher de Arraes, passou a madrugada arrumando as malas dos nove filhos para despachá-los de manhã à casa da avó. Por via das dúvidas, fez também a do marido. No dia anterior, quase 1 000 pessoas haviam sido presas no estado, incluindo o líder comunista Gregório Bezerra, que, amarrado à traseira de um caminhão por um ex-policial, escapou por pouco de ser trucidado na rua (“Este é o comunista que queria destruir os lares de vocês. Agita agora, traidor!”, gritava seu captor).

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Quando raiou o dia 1º de abril, o almirante José Dias Fernandes, o mesmo que na véspera havia garantido a Arraes que Pernambuco “resistiria a qualquer tentativa de golpe”, voltou ao palácio ─ desta vez para comunicar que “houve uma revolução”, visto que “as Forças Armadas não podiam mais suportar a baderna”. O governador teria de demitir seu secretário de Segurança e se comprometer a não usar a PM contra o Exército. Arraes respondeu que não governaria sob condições. Quando, mais tarde, o coronel João Dutra de Castilho veio para lhe dizer que estava deposto, Arraes perguntou se estava também preso. “O senhor pode ir para casa”, disse o coronel, ao que Arraes respondeu que a residência do governador era o Palácio das Princesas e, portanto, era lá que ficaria. Das janelas do salão nobre, via-se a Praça da República tomada por canhões do Exército apontando para o jardim.

Vieram prendê-lo às 19h15. O grupo liderado pelo coronel Frederico Pimentel encontrou o governador deposto à mesa de jantar, ao lado de um tio, uma irmã e um cunhado ─ as crianças já estavam na casa da avó. Arraes levantou-se, convidou os oficiais para o terraço e lá recebeu a ordem de prisão, assinada pelo general Bastos. Deixou o palácio no Fusca do cunhado, cortesia do coronel Pimentel, e no dia seguinte partiu para o cárcere no penhasco perdido em meio ao Atlântico – preso como comunista e janguista, duas coisas que nunca foi.

Colaboradores: André Petry, Augusto Nunes, Carlos Graieb, Diogo Schelp, Duda Teixeira, Eurípedes Alcântara, Fábio Altman, Giuliano Guandalini, Jerônimo Teixeira, Juliana Linhares, Leslie Lestão, Otávio Cabral, Pedro Dias, Rinaldo Gama, Thaís Oyama e Vilma Gryzinski.

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