Especial VEJA: Ieda Maria Vargas, a constelação da gaúcha
Publicado na edição impressa de VEJA Aos 18 anos, Ieda Maria Vargas era a mulher mais linda de todas as galáxias. Pelo menos aos olhos dos cinco jurados que no dia 20 de julho de 1963 a elegeram Miss Universo. Linda e abstraída de questões políticas. Quando chegaram a Miami as primeiras notícias da deposição […]

Publicado na edição impressa de VEJA
Aos 18 anos, Ieda Maria Vargas era a mulher mais linda de todas as galáxias. Pelo menos aos olhos dos cinco jurados que no dia 20 de julho de 1963 a elegeram Miss Universo. Linda e abstraída de questões políticas. Quando chegaram a Miami as primeiras notícias da deposição do presidente João Goulart, ela só notou algo estranho no comportamento do pai, que estava nervoso e fumando muito. As coisas iam mudar, e para pior, dizia ele. O motivo estava no doce apadrinhamento da política brasileira. Consagrada com o título e recebida em palácio pelo presidente, ela só poderia cumprir suas elevadas funções com o consentimento paterno se a família fosse toda para os Estados Unidos, uma mudança economicamente inviável. Solução: Jango nomeou o conterrâneo José Vargas, professor remotamente aparentado com Getúlio Vargas, para um cargo diplomático em Miami. Era o risco de perdê-lo que causava inquietação ao pai de Ieda nos instáveis dias do fim de março e começo de abril de 1964.
O regime mudou, mas a vida da família continuou a mesma. O pai manteve o cargo e Ieda, sua rotina de miss, dividida entre a casa da família em Miami Beach durante o dia e as noites passadas num hotel, em companhia de uma chaperona, espécie de governanta, que a acompanhava também nas viagens ao exterior. “Acho até que para os militares foi mais interessante ter uma miss do Brasil”, relembra Ieda. Convidada para um jantar em Brasília com o novo general-presidente, Humberto Castello Branco, avaliou: “Um baixinho cheio de superstições. Evitava passar sob escadas e arcos”. Mas com poder. Quando enfrentou dificuldades em trazer para o Brasil um Impala, carrão da GM que poucos brasileiros podiam ter, apelou ao baixinho. Problema resolvido. Ieda manteve contato com o casal Goulart, exilado no Uruguai, e ficou amiga de Maria Thereza, que viria a ser sua madrinha de casamento: “Falávamos de roupa, revista, filho. De política, nada”. As conexões de Ieda na constelação gaúcha tinham uma complexidade adicional: uma prima dela se casou com um dos filhos de Emílio Garrastazu Médici. “Desde que era mocinha até o tempo em que ele foi presidente, passamos muitas noites jogando biriba.” Chamava-o pelo apelido familiar, Milito.
Colaboradores: André Petry, Augusto Nunes, Carlos Graieb, Diogo Schelp, Duda Teixeira, Eurípedes Alcântara, Fábio Altman, Giuliano Guandalini, Jerônimo Teixeira, Juliana Linhares, Leslie Lestão, Otávio Cabral, Pedro Dias, Rinaldo Gama, Thaís Oyama e Vilma Gryzinski.