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Augusto Nunes

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Especial VEJA: Carlos Lacerda ─ A tragédia da vitória

Publicado na edição impressa de VEJA “Os civis também sabem morrer”, disse Carlos Lacerda a Humberto Castello Branco quando o general tentou convencê-lo a abandonar o Palácio Guanabara, sede do governo estadual, na noite de 31 de março de 1964. Ou pelo menos é assim que, já perto da morte, em 1977, preferiu lembrar o […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h01 - Publicado em 18 abr 2014, 08h52

Publicado na edição impressa de VEJA

Carlos Lacerda

“Os civis também sabem morrer”, disse Carlos Lacerda a Humberto Castello Branco quando o general tentou convencê-lo a abandonar o Palácio Guanabara, sede do governo estadual, na noite de 31 de março de 1964. Ou pelo menos é assim que, já perto da morte, em 1977, preferiu lembrar o mais fenomenalmente dramático personagem político em ação à época, capaz de misturar tragédia grega e dramalhão mexicano com mente de intelectual canônico, tradutor de Júlio César, de Shakespeare, e de John Kenneth Galbraith, e coração de apresentador de auditório.

Quando se trancafiou no Guanabara, protegido por um batalhão da PM, caminhões de lixo, a fina flor da sociedade carioca e voluntários portando lenços azuis e brancos, tudo podia acontecer. Até um momento descrito como “emocionante” por Marcelo Garcia, assessor de Lacerda: a chegada dos generais e marechais reformados, que vinham aderir à rebelião e defender o Guanabara. “A essa altura, já não havia fuzis nem metralhadoras. Houve distribuição de pistolas. O brigadeiro Eduardo Gomes apareceu dizendo ter sido informado de que Aragão iria atacar o Palácio”, contou Garcia.

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Cândido Aragão, almirante esquerdista que havia apoiado a revolta dos marinheiros, e seus fuzileiros nunca apareceram. Tiros, só os da retórica do homem que tinha o apelido de Corvo e a fama de “derrubador de governos”. Alvo de uma tentativa de assassinato, ele virou o jogo e empurrou Getúlio Vargas ao suicídio, também teve influência na patética renúncia de Jânio Quadros e contra João Goulart usava todos os truques do manual. Principalmente os sujos. Em 1963, em uma entrevista ao Los Angeles Times, ele denunciou a infiltração comunista no governo, com a ressalva de que Jango não era propriamente da turma: “Ele é um totalitário, à moda sul-americana. É um caudilho com todos os recursos dos tempos modernos”. A entrevista motivou uma malograda tentativa de prendê-lo (ou sequestrá-lo, já que a ordem de prisão, a ser efetuada por militares, não era oficial).

No dia do golpe, usando uma japona preta sobre a camisa branca para dificultar que fosse alvejado, conseguiu fazer pronunciamentos no rádio, na televisão e por altofalantes instalados no palácio. Comparou Jango ao fratricida Caim: “O que fizeste de teus irmãos que iam ser mortos por teus cúmplices comunistas, de teus irmãos que eram roubados para que tu te transformasses no maior latifundiário e ladrão do Brasil? Abaixo João Goulart!”. Desafiou o comandante dos fuzileiros: “Aragão, covarde, incestuoso, deixe os seus soldados e venha decidir comigo essa parada. De homem para homem. Quero matá-lo com o meu revólver”. Como nada disso aconteceu, caiu de joelhos e agradeceu a Deus quando os míseros três tanques que guardavam o Laranjeiras, o palácio presidencial, passaram para o Guanabara. Três anos depois, estava na Rua Leyenda Patria, em Montevidéu. “Estou procurando a casa do presidente João Goulart. Não sei o número porque perdi o papel”, disse a uma brasileira que não reconheceu. Maria Thereza Goulart levou-o ao marido. Os dois ex-inimigos, ambos cassados, abraçaramse e planejaram a nunca materializada Frente Ampla. A ditadura havia definitivamente derrubado o “derrubador de governos”.

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