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Augusto Nunes

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Entrevista Walkiria Gattermayr Ribeiro, diretora do Colégio Vértice: O Brasil só vai ficar melhor se melhorar a educação

Aiuri Rebello Fundado pela pedagoga Walkiria Gattermayr Ribeiro em 1976, no Campo Belo, na zona sul de São Paulo, o Colégio Vértice foi considerado um dos melhores do estado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2010. A escola obteve 743,75 pontos na avaliação. Figura no grupo 1, que reúne os colégios nos quais […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 10h35 - Publicado em 3 out 2011, 23h12

Aiuri Rebello

Fundado pela pedagoga Walkiria Gattermayr Ribeiro em 1976, no Campo Belo, na zona sul de São Paulo, o Colégio Vértice foi considerado um dos melhores do estado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2010. A escola obteve 743,75 pontos na avaliação. Figura no grupo 1, que reúne os colégios nos quais os estudantes alcançaram, no Enem do ano passado, um aproveitamento acima de 75%.  Também está entre as primeiras colocações no ranking nacional. Hoje com duas unidades, o colégio valoriza especialmente o aprendizado da leitura e da escrita ─ enquanto incute nos alunos o respeito a valores éticos e regras de comportamento. Na entrevista, Walkiria aponta os motivos do sucesso, comenta as dificuldades do ensino público e relaciona os desafios enfrentados pelo sistema educacional do Brasil.

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O que o Colégio Vértice tem de diferente?

Acreditamos que a disciplina faz toda a diferença. Não me refiro à disciplina de colégio militar, nada disso. O aluno começa a entender desde cedo que não está na escola porque os pais o obrigam a isso, mas porque é bom para ele próprio. Pais e professores também são conscientizados da importância de uma disciplina interior. O objetivo do Vértice não é apenas formar alunos bem colocados no Enem, ou aprovados em determinado vestibular. Queremos formar cidadãos preparados tanto para a vida quanto para o mercado de trabalho. Há outras diferenças. Por exemplo: nosso Ensino Médio não é dividido em Exatas, Humanas e Biológicas. Essa diversidade traz uma riqueza de conhecimento muito maior. Os alunos também aprendem que há diferenças entre eles ─ um é melhor em matemática, outro em português e assim por diante. A diversidade faz com que todos aprendam melhor, inclusive nas áreas em que não são tão bons. Outra coisa: os alunos recebem uma nota, mas não ficam sabendo qual foi. A nota é o menos importante de uma prova. O mais importante é o aluno entender por que errou.

Esse critério vale para todas as séries?

Só até a 5ª série do Ensino Fundamental. Até esta série, os alunos não sabem nem quais provas terão na semana de avaliação. É preciso estudar tudo o tempo todo, não apenas para as provas. Isso não significa que é necessário se matar de estudar. A lição de casa do 5º ano, por exemplo, pode ser feita em 45 minutos diários.

Por que o Vértice valoriza tanto a leitura e a escrita?

A leitura e a escrita são fundamentais em todas as áreas e em todas as disciplinas. O aluno tem de saber ler e interpretar bem um problema matemático, um texto de ciência, de geografia, de todas as matérias. Enfatizamos a importância de se ter um bom vocabulário. Até o 5º ano, temos aulas de leitura interpretativa com professores de teatro.

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Por que o ensino privado se tornou tão melhor que o público?

Há muito tempo os poderes públicos deixaram de valorizar o professor. Lamentavelmente, as condições de trabalho na escola pública são muito ruins. Começam pelo prédio, passam pela direção, que nem sempre apoia os professores, e chegam ao salário. O professor precisa dar aulas em várias escolas para completar a renda mensal. O despreparo dos professores é um problema grave, faculdades devem ser repensadas.  E há também a questão da indisciplina dos alunos.

Os livros didáticos adotados pelo Vértice incluem obras que, por exemplo, ensinam que não é errado falar “nós pega o peixe’?

Não, esse tipo de livro não entra mesmo. Primeiro, vemos se o livro primeiro se encaixa na nossa proposta pedagógica. Depois, os professores avaliam a obra. Só depois disso decidimos se merece ser adotada.

Se fosse nomeada ministra da Educação, qual seria sua primeira medida?

Promoveria reuniões regionais com diretores de escolas, inclusive das privadas, para conversar, para saber como é a realidade de cada lugar. E pediria sugestões, porque eles conhecem o universo com que lidam. A partir daí seriam montadas as políticas públicas. Eu nunca fui chamada para uma conversa com alguém do Ministério da Educação.

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Como é mantida a disciplina no cotidiano da escola?

Quando o professor está ensinando, é proibido conversar na sala de aula. Antes de ir para a classe, o aluno precisa ler a matéria que vai ter naquele dia. Tem que se preparar para a aula, para entender o que será dito pelo professor. Isso melhora o rendimento. Fazemos um trabalho de acompanhamento permanente. Há relatórios completos sobre cada aluno. Periodicamente, fazemos o que chamamos de verificação. A nota final leva em conta a nota da verificação e a nota da prova. Os estudantes entendem que a nota cairá se não fizerem a lição de casa, não acompanharem a aula com atenção, não se dedicarem às atividades programadas.

A carga horária no Vértice é maior?

Só no Ensino Médio. No 1º e no 2º ano do Ensino Médio, os estudantes têm dois dias de período integral durante a semana. No 3º, isso se estende a todos os dias. Esse período extra é dividido entre aulas normais, como laboratórios de reforço e de redação, e atividades extras, como aula de sapateado ou prática de esportes. Cada aluno tem seus interesses extracurriculares, e procuramos atendê-los tanto quanto possível. São coisas que complementam o aprendizado.

O que a senhora acha do sistema de progressão continuada adotado nas escolas públicas?

Uma loucura. Foi um retrocesso muito grande. Com esse sistema, tentaram corrigir a evasão escolar, que também é um problema grave. Aí instituíram a progressão, e a evasão diminuiu muito. Mas as causas da evasão não foram atacadas. É inútil simplesmente reprovar, mas também não adianta aprovar sem que o aluno tenha aprendido o que deveria. Do jeito que a coisa está, o estado se livra do ônus de ter reprovado o aluno.  Mas na vida, lá na frente, a coisa vai ficar pesada para quem não teve uma formação decente.

O ambiente familiar influencia o rendimento dos alunos?

Muito. Quando os pais são leitores e consomem cultura de qualidade, o aluno chega mais preparado. A linguagem dessa criança tende a ser mais desenvolvida, o vocabulário é mais amplo. Mas a questão não envolve apenas aspectos econômicos, não se restringe a classes sociais. Na classe média mais favorecida financeiramente, muitas vezes temos crianças que são quase menores carentes, só que com comida na mesa e casa para morar. A educação doméstica é um problema em todas as classes. Também é um erro achar que famílias com nível de instrução mais baixo não estimulam a busca do conhecimento pelas crianças. Creio que todo mundo compreende a importância da cultura.

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O que deve ser feito para melhorar o ensino público?

Conheço inúmeras professoras de escolas públicas que são verdadeiras heroínas. Mas não são reconhecidas. Enquanto o governo fizer programas de gabinete sem ouvir quem está no front, na sala de aula, não vai dar certo. Precisamos melhorar esse país, e isso só será possível se a educação se tornar muito melhor. Não adianta abrir mais escolas, nem elaborar projetos mirabolantes e gastar milhões.

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