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Augusto Nunes

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Engraçada é apelido

Tia Marília é a rainha das diversões, mas como toda pessoa, ela é complexa e tem muitos atributos

Por Débora Nunes
Atualizado em 30 jul 2020, 20h27 - Publicado em 27 Maio 2018, 15h30

Débora Nunes

Penso nela e já dou risada. Minha tia Marília, a irmã mais nova do meu pai, tem sempre uma piada pronta para qualquer situação. E, melhor, ela é a personagem principal de várias delas.

Tenho algumas que me vêm à mente.

A melhor aconteceu no trajeto entre Taquaritinga e Santos, onde ela mora. Sua filha, Maria Fernanda, em visita à nossa cidade, ganhou um pônei de presente. A Marília teve um ideia: levar o mimo para casa. Pois a Má não teve dúvida e colocou o pequeno cavalo dentro do carro como quem coloca um bicho doméstico num automóvel. Só que havia um detalhe: o tamanho do carro e o do animal eram incompatíveis.

E não é que durante 6 horas, o tempo da viagem, sua família dividiu o espaço com um animal destinado a viver no campo e passou por todo tipo de perrengue imaginável? O pônei dava coice, relinchava, babava, fazia cocô. Até a roupa verde da minha tia foi confundida com grama e ela precisava se movimentar a todo momento para não ser incomodada. De acordo com a Má — e de um jeito que só ela sabe narrar —, o cobrador do pedágio tirou os óculos e esfregou os olhos, algumas vezes, para se certificar do que via. Sim, era aquilo mesmo. Queria ser uma mosca para estar na casa do moço quando ele contou à família o que vira no trabalho naquele dia fatídico. Imagino que, até hoje, reúne os amigos para contar a cena mais bizarra da sua vida. Assim como faço ao pedir para a Má repeti-la toda vez que a encontro. Eu morro de rir. Sempre e sem parar.

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O pônei durou alguns dias em Santos. Os vizinhos achavam esquisito um pequeno cavalo andar pelo jardim da casa. E ela, finalmente, entendeu que o bicho nunca seria domesticado. Garanto que a população de Santos agradece. Até hoje.

Outra que a Má sempre gostava de aprontar: ficar deitada no chão, com a boca cheia de ketchup para parecer sangue, fingindo estar morta. Juro! Na primeira vez, quase morri de susto. Depois, fui me acostumando com a brincadeira da minha tia que sempre pareceu ter veia de atriz.

E tem também suas preferências musicais. A Má sempre gostou de Jerry Adriani, Jane e Herondy e afins. Até aí, tudo bem. Meu gosto musical também não é apurado. Mas o duro era o que a Marília aprontava. Quando passeávamos de carro, ela aumentava a música no último volume, cantava alto e diminuía a velocidade. Criança, isso me divertia. Na adolescência, a coisa mudou. Quando nosso point, a Avenida Paulo Scandar, estava lotada de amigos e paqueras, eu me afundava no banco para ninguém saber que estava dentro do carro — que mais parecia de som do que de passeio.

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Como ela era a rainha das diversões e nos carregava para cima para baixo, tudo acontecia com ela.

Estávamos juntas no trenzinho quando um vagão descarrilhou ou, ainda, quando a roda-gigante quebrou e ficamos paradas no topo quase uma hora.

Sobrevivemos a tudo e ela nos deu um repertório de histórias engraçadas, capazes de animar qualquer roda.

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Mas a Marília é só engraçada?

Claro que não. Como toda pessoa, ela é complexa e tem muitos atributos.

O maior dele é seu coração gigante. Com ela aprendi a palavra que carrego comigo: “Tadinho!”. A Má tem dó do mundo e é capaz de estar com um enorme problema, mas se sensibilizar e ajudar o outro.

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Se alguém precisa de um incentivo, pode ter certeza, a Má é para onde você vai correr. Ela tem sempre alguma palavra positiva ou estimulante para te levantar. É exagerada, mas sabe fazer um afago na auto-estima como poucos.

A Má, por sinal, também contribuiu para eu ser uma mãe melhor. Ficou comigo, em São Paulo, durante o tempo em que fazia fertilização in-vitro. Acompanhei sua dedicação e seu sofrimento com as injeções de hormônio que ela precisava se aplicar todos os dias. Por uma dessas ironias do destino, o tratamento não deu certo, mas ela engravidou naturalmente depois de desistir dos métodos artificiais.

Sua filha, Maria Fernanda, foi seu grande presente e também sabe do lado brincalhão da mãe. Aliás, ela passa vergonha em suas mãos assim como passávamos quando a Má encafifava de ser engraçada. E, assim como nós, sabe que a mãe tem um coração que não cabe dentro de si, de tão grande.

Sinto-me sortuda por ter a Má em minha vida. Ela é riso e amor garantidos, em uma só pessoa.

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