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Augusto Nunes

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Deonísio da Silva: Ouviu cantar o galo, mas não sabe onde

Cozinhar o galo é postergar alguma decisão, fazer de conta de que está tomando providências para resolver algum problemas, quando está apenas simulando

Por Augusto Nunes 22 out 2017, 12h43

Aves e animais estão presentes em numerosas expressões do Português. O galo está em algumas muito populares, de que são exemplos cantar de galo, cozinhar o galo e ouvir cantar o galo sem saber onde.

Cantar de galo nasceu da observação do que faz o galo no terreiro e imitar seu poder, isto é, impor sua vontade como faz a todo-poderosa ave antes, naturalmente, de ser escolhida para a panela, já como galo velho.

Cozinhar o galo é postergar alguma decisão, fazer de conta de que está tomando providências para resolver algum problemas, quando está apenas simulando, fingindo que trabalha para aquele objetivo.

Ouvir cantar o galo sem saber onde foi explicada por Castro Lopes em seu delicioso Origens de Anexins, Prolóquios: Locuções Populares, Siglas etc. (Lisboa, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Editora Francisco Alves, 1909).

Diz ele que ainda no século XVIII teve existência famosa no Rio um galo pertencente a um alfaiate conhecido por Mestre Malaquias. A ave era o terror e o assombro de todos os galos do Rio, por ser um galo que jamais perdia uma briga.

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É verdade que havia algumas trapaças. Mestre Malaquias esfregava pimenta por baixo das asas do galo para cegar os adversários e disfarçadamente lançava pílulas de ópio para deixá-los tontos. As lutas aconteciam no Campo de Santana. Era ali “a arena dos gladiadores galináceos” e “quase todos apostavam no galo do Mestre Malaquias, e ele recolhia uma porcentagem não pequena de tais apostas”.

Um dia, sem mais nem menos, o galo desapareceu. Mestre Malaquias pediu ajuda a Deus e a todo o mundo para encontrar o seu galo, vivo ou morto.

Morava com Mestre Malaquias um aprendiz de alfaiate chamado Brás, a quem o patrão “ofereceu uma molhadura equivalente ao salário de um ano”, se encontrasse o galo.

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Interessadíssimo na recompensa, designada por molhadura naqueles anos, de onde temos o indício de molhar a mão expressando gorjeta, Braz dedicou-se diuturnamente a procurar o galo.

E certa noite acordou Mestre Malaquias para avisar: “Sô Mestre, eu ouvi cantar o galo”.

Malaquias voltou a dormir, sem se importar com o aviso. Duas ou três horas depois, Braz insistiu, quando o dia já amanhecia: “Sô Mestre, eu ouvi cantar o galo”.

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“Mas, então, onde está o galo?”, perguntou Mestre Malaquias cheio de alegria. E Braz respondeu a frase que se tornaria famosa: “Eu ouvi cantar o galo, mas não sei onde”.

Irritado, Mestre Malaquias demitiu o aprendiz. E, dali por diante, sempre que alguém, “querendo explicar os fatos, ignora as circunstâncias indispensáveis e essenciais”, diz-se que ouviu cantar o galo, mas não sabe onde.

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