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Augusto Nunes

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De onde vêm as palavras: O Brasil está sempre à beira do abismo

Deonísio da Silva relembra algumas frases atribuídas a personalidades que, entretanto, jamais as pronunciaram

Por Augusto Nunes Atualizado em 4 jun 2024, 20h29 - Publicado em 23 jan 2017, 14h11

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“O Brasil está beira do abismo”, reconheceu o marechal Castello Branco, primeiro presidente do ciclo militar pós-1964.

“O Brasil deu um passo à frente”, acrescentou seu sucessor, o marechal Costa e Silva.

“Ninguém segura este país”, completou o ocupante do terceiro mandato autoritário, o general Emílio Garrastazu Médici, entronizado depois da Junta Militar que ficara no interstício entre o segundo e o terceiro.

Verdadeiras ou lendárias, estas frases teriam sido proferidas, então, num curto período histórico, por três presidentes da República. Ilustradas em tom de deboche, estavam numa edição de O Pasquim, censurada e apreendida nas bancas.

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Todavia a primeira frase, “O Brasil está à beira do abismo”,  é mais antiga e vem sendo pronunciada desde os tempos imperiais. Foi registrada na peça de teatro O Diabo no Corpo, de Coelho Neto, apresentada pela  primeira vez em 1899, no Theatro Lucinda, no Rio, mas publicada em livro apenas em 1905.

Não raro são frases ditas por políticos, mas arrumadas e editadas por jornalistas, quando não de autoria de intelectuais que as escreveram para serem pronunciadas por autoridades, como  diz Carlos Drummond de Andrade no poema O Sequestro de Guilhermino César, em que fala de “repartições públicas onde se cumpria o destino de literatos sem pecúnia,/ autores de discursos que jamais pronunciaríamos,/ pois os concebíamos para outros pronunciarem / no majestático palanque do Poder”.

Há muitos exemplos de frases atribuídas a personalidades que entretanto jamais as pronunciaram. Lembremos três delas.

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Elementar, meu caro Watson”, o célebre fecho com que o detetive Sherlock Holmes dá a entender  a seu amigo Watson que tudo estava claro desde o início. Ela não é encontrada em nenhum livro do autor.

O Brasil não é um país sério” foi atribuída ao general Charles De Gaulle. Ele nunca a pronunciou.

E para homenagear o jornalista Augusto Nunes, que sabe tudo sobre Jânio Quadros, lembremos por último “Fi-lo porque qui-lo”, imputada ao presidente,  que entretanto jamais a pronunciou. Se a  proferisse, diria “fi-lo porque o quis”.

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Outras foram ditas e escritas, mas não do modo como se tornaram conhecidas. Eis duas delas.

“Nesta terra, em se plantando, tudo dá” é creditada ao escrivão Pero Vaz de Caminha na certidão de nascimento do País, a sua famosa Carta do Achamento do Brasil. Sim, esta terra foi achada, não descoberta. A frase está lá, mas foi escrita de outro modo: “Querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo”.

“Sangue, suor e lágrimas”. Esta é atribuída ao Winston Churchill em seu primeiro discurso na Câmara dos Comuns, em 1940. Mas Churchill ofereceu, não três, mas  quatro coisas: “Sangue, trabalho, lágrimas e suor”. Esqueceram o trabalho!

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Para escrevê-la, o então primeiro-ministro inspirou-se num discurso de Giuseppe Garibaldi, pronunciado em 1849: “Não ofereço nenhum pagamento, nem postos, nem provisões. Ofereço fome, sede, marchas forçadas, batalhas e morte”.

O brasileiro é frajola e adora uma frase. Frajola, do Quimbundo fwala dyola, significa isso mesmo: por falar bonito, a pessoa é vista como elegante e faceira: fwala é falar; dyola é claro, puro.

Frajola designou originalmente aquele que fala com clareza uma língua que a maioria não conhece. Atualmente designa indivíduo vestido com elegância exagerada.

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E assim fica o dito pelo não dito, uma outra frase famosa, aliás.

Confira aqui outros textos de Deonísio da Silva

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