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Augusto Nunes

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De onde vêm as palavras: Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão

Deonísio da Silva recorda o sermão de Padre Vieira: “Nem os reis podem ir ao paraíso sem levar consigo os ladrões, nem os ladrões podem ir ao inferno sem levar consigo os reis”

Por Augusto Nunes Atualizado em 4 jun 2024, 19h04 - Publicado em 27 nov 2016, 11h12

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Estas frases, que se tornaram um provérbio muito popular,  foram ditas pela primeira vez como desculpa pelo pirata e corsário inglês Francis Drake.

Depois de alegar que roubava outros ladrões, ele recebeu o honroso título de Sir, concedido pela rainha Elisabeth I, também conhecida por Isabel, a Rainha Virgem. A  rainha deu uma desculpa diferente: ele roubava de ladrões e trazia os bens para a Inglaterra.

Francis Drake morreu de disenteria aos 56 anos. A larápios contumazes nem sempre o maior de todos os males que lhes advêm é a morte. Às vezes, há outras humilhações, incluindo viver como presidiários ou mesmo morrer literalmente entre excrementos. Não è à toa que a situação de estar mal é definida por expressão chula, indicando as fezes como local onde a pessoa está: “Fulando está na mer…”.

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O corpo do bandidão jaz nas proximidades de Portobelo, no Panamá, onde foi lançado ao mar dentro de um caixão de chumbo, portando armadura inteirinha de ouro e segurando uma longa espada, também de ouro.

É o que diz a lenda. E o jornalismo segue a velha máxima recomendada no filme O homem que matou o facínora, de John Ford, com John Wayne: “se a lenda é mais interessante do que a realidade, imprima-se a lenda”.

No mesmo século do inglês Francis Drake, o português Pedro Álvares Cabral roubou de modo diferente: fez o primeiro superfaturamento  do Brasil.

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A pimenta, o cravo e a canela, tão logo chegados a Portugal, tiveram um aumento de 1.000%, tudo aprovado pelo rei Dom Manuel, o Venturoso, que autorizou a majoração com o fim de compensar a perda dos naufrágios.

O episódio é narrado também pelo historiador Eduardo Bueno, que destoa de quase todos os seus colegas de ofício pela graça e pelo sabor de seu estilo, na escrita e na fala, como demonstra sua antológica entrevista dada a Augusto Nunes aqui nesta revista.

Das 13 naus do Descobrimento, apenas seis voltaram a Portugal. O navegador chefe da frota tinha apenas  32 anos. O rei autorizou a bandalheira, mas ninguém mais ouviu falar de Cabral, a ponto de para a antiga nota de mil cruzeiros ter sido inventada uma efígie dele, uma vez que não havia um único registro dos traços de seu rosto.

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Os ladrões brasileiros, governantes ou governados, que desceram agora aos infernos, fizeram jus a essas outras viagens que ora fazem, rumo à cadeia. Mas talvez o pior castigo não seja ser preso e, sim, sentir-se ameaçado de prisão.

Quem escolhe ladrões para auxiliar o governo deve prestar atenção ao que diz o Padre Vieira, logo na abertura de seu Sermão do Bom Ladrão:Nem os reis podem ir ao paraíso sem levar consigo os ladrões, nem os ladrões podem ir ao inferno sem levar consigo os reis. Isto é o que hei de pregar”.

Confira aqui outros textos de Deonísio da Silva

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