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Augusto Nunes

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Confidências de João Figueiredo numa noite das arábias (2)

Publicado em 1º de junho de 2009 Capítulo 2 O EXTERMINADOR DE COELHOS ─ O que eles querem é me pegar de calção e a Dulce de maiô ─ está dizendo João Baptista de Oliveira Figueiredo, à vontade no sofá da sala imensa, quando o empresário Georges Gazale, dono da mansão em que o ex-presidente […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 13h00 - Publicado em 31 jan 2011, 15h47

Publicado em 1º de junho de 2009

figueiredo2

Da esquerda para a direita: Paulo Maluf, Elio Gaspari, Cesar Civita, Victor Civita, João Figueiredo e o colunista

Capítulo 2

O EXTERMINADOR DE COELHOS

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─ O que eles querem é me pegar de calção e a Dulce de maiô ─ está dizendo João Baptista de Oliveira Figueiredo, à vontade no sofá da sala imensa, quando o empresário Georges Gazale, dono da mansão em que o ex-presidente da República se hospedava havia cinco dias, apresenta os dois recém-chegados ao homem de calça social cinza claro, camisa esporte cinza claro e cardigan cinza claro. (Os sapatos e as meias eram pretos).

─ Esses moços são jornalistas ─ previne Gazale. ─ Mas jornalistas amigos, gente de confiança ─ ressalva antes que o general da cavalaria sempre cismado com a imprensa se levante do sofá já prendendo e arrebentando.

O outro moço é meu amigo Carlos Maranhão, editor da Playboy , também hasteado a um metro da figura que acaba de erguer-se. Figueiredo está uns dez quilos mais gordo e milhares de volts menos tenso, constato. A perna esquerda, que balança feito pêndulo doido quanto fica nervoso, permanece tranquilizadoramente imóvel. E então recomeço o diálogo que, sete anos antes, não havia passado de cinco segundos, duas frases, cinco palavras e uma vírgula.

─ Boa noite, presidente.

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─ Boa noite, como vai? ─ sorri Figueiredo, que cumprimenta Maranhão e se senta para retomar a história que está contando a meia dúzia de convidados que chegaram mais cedo para o jantar oferecido por Gazale em homenagem ao hóspede ilustre.

Estou no lucro, contabilizo às oito da noite de 12 de março de 1987. A conversa já chegara a dez segundos, sete palavras, duas vírgulas e um ponto de interrogação. Fora o sorriso, que prometia continuação. Devo essa ao Maranhão, registro. Estou lá graças àquele moço.

─ O Gazale vai dar um jantar para o Figueiredo na quinta-feira e me convidou ─ Maranhão me surpreendera no almoço de segunda, ainda na fase dos aperitivos. ─ Perguntei se podia te levar e ele disse que sim.

Grande Maranhão. Grande notícia. Só não paguei o almoço porque o dono do Au Liban era o próprio Gazale, que não cobrava nada de ninguém que conhecesse há mais de duas horas. A generosidade do proprietário foi um dois motivos que transformaram o Au Liban no nosso restaurante predileto. O outro foi a boa qualidade da comida árabe. Estou pensando na cozinha do lugar quando um garçon se aproxima do grupo, ao qual me juntara sem pedir licença, que ouve o caso do calção e do maiô. Esses salgadinhos são de lá, adivinho ao mesmo tempo em que descubro quem eram as figuras misteriosas que o ex-presidente chamara de “eles” na primeira frase que ouvi. “Eles” eram fotógrafos.

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─ Sempre tem um cara em cima de algum morrinho, com aquelas máquinas enormes ─ esclarece a continuação da narrativa do confronto entre a turma da teleobjetiva e o homem de 69 anos que, longe dos quartéis e do poder, buscava sossego no seu sítio em Nogueira, perto de Petrópolis, na Serra Fluminense.

O duelo, silencioso e recorrente, começava sempre às cinco da manhã. Assim que aparecia na porta da casa o ermitão com pernas arqueadas de cowboy, barriga saliente, cabelos lisos, testa ampla, cara amarrada e olhar desconfiado, uma câmera brilhava em alguma elevação a 100 metros de distância. Imediatamente, Figueiredo apoiava o pulso direito no antebraço esquerdo, dava uma acintosa banana para o espião e, sem desfazer o gesto, marchava em direção à piscina. O bombardeio de cliques e flashes se intensificava nos fins de semana em que Dulce Figueiredo aparecia no sítio, vinda do apartamento no Rio em que passava todos os dias úteis.

Figueiredo confessa que gosta mesmo é de ficar sozinho. Primeiro, porque pode passar o dia inteiro só de calção. Depois, porque fica livre de visitas ou telefonemas e liberado para dedicar-se a seus coelhos. Vistoria a criação todas as manhãs, depois das braçadas na piscina.

─ No momento tenho cem ─ informa. ─ Gosto muito de coelho. Gosto tanto que já-já reduzo a turma. De cada dois, eu como um.

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Não é pouca coisa, mas o ex-presidente pretende melhorar o desempenho. Precisa manejar com mais aplicação o garfo e a faca, e aumentar o ritmo do extermínio, para acompanhar a velocidade espantosa com que aqueles bichos se multiplicavam. Gazale, que voltara à roda dois minutos antes, acha que o amigo começou a enveredar por areias movediças e reitera o alerta.

─ Eu disse que esses moços são jornalistas, presidente?

Figueiredo faz que sim com a cabeça, engata uma segunda e pisa no acelerador.

─ Só achava chato quando vinha aquele bando de jornalistas atacando a gente com microfones nas mãos ─ abre o sorriso. ─ Sempre com uma repórter bonitinha na frente.

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Faz uma pausa, passa em revista com os olhos os dois moços da imprensa e lembra que se dera bem com os repórteres que frequentavam diariamente a sala de imprensa do Palácio do Planalto. Todos o tratavam com muita cortesia, eram bastante gentis. Feito o registro, comanda a carga da cavalaria ligeira:

─ É o que sempre digo à Dulce: jornalistas e picaretas são muito educados.

Finjo que não ouvi direito para continuar ouvindo Figueiredo. Ele tinha muito a dizer.

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