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Celso Arnaldo acompanha a viagem da leitora que dorme na segunda página

O jornalista Celso Arnaldo Araújo nem precisou embarcar com Dilma Rousseff para acompanhá-la numa espantosa viagem pelo mundo dos livros. Entre outros assombros, o caçador de cretinices descobriu uma das grandes diferenças entre a presidente eleita e Lula. O criador não esconde a invencível aversão por leituras. A criatura finge que lê. Confira: “Dilma Rousseff […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 13h40 - Publicado em 10 nov 2010, 16h11

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O jornalista Celso Arnaldo Araújo nem precisou embarcar com Dilma Rousseff para acompanhá-la numa espantosa viagem pelo mundo dos livros. Entre outros assombros, o caçador de cretinices descobriu uma das grandes diferenças entre a presidente eleita e Lula. O criador não esconde a invencível aversão por leituras. A criatura finge que lê. Confira:

“Dilma Rousseff não viaja se não tiver três livros na bagagem”, avisa a repórter Catia Seabra, enviada especial da Folha à Alemanha, confiando cegamente em sua fonte – no caso, a própria Dilma.

A jornalista viajou, na First da TAM para Frankfurt, a caminho de Seul, por intermináveis 11 horas, ao lado da presidente eleita – que voa em aviões de carreira enquanto não puder estrear o Aerodilma.

Sim, “três livros na bagagem”, relata a Folha de hoje. Pode ter sido apenas uma força de expressão da repórter – aliás, um surrado clichê jornalístico. Algo como: “Paul McCartney chegou ao Brasil trazendo na bagagem o desejo de fazer aqui os melhores shows de sua vida”. Isto é: o “na bagagem”, nesses casos, tem o sentido metafórico de continente de um conteúdo também imaginário.

Mas nada mais adequado à dobradinha Dilma-livros. Mesmo porque, a jornalista volta à fantasia no final de sua crônica aérea: “Na bagagem, carrega um iPad e três livros”. E aspeando Dilma: “Se eu não tiver três livros, sei lá. Não fico bem.”

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Sei lá: Dilma se contenta apenas em “ter” os três livros? Ler não está nos planos de viagem? E o que significa esse “não fico bem?” Será que, para Dilma, livros em viagem têm o efeito daqueles paninhos de estimação que crianças carregam pra baixo e pra cima e sem os quais não dormem?

De qualquer forma, como a repórter não conta ter visto a presidente sequer folheando um dos três anônimos livros-paninhos durante as 11 horas de voo, presumo que eles tenham mesmo apenas função terapêutica-cognitiva: Dilma precisa saber que eles estão lá, “na bagagem”, para “ficar bem”.

Não fica bem é com as letras. Como notaram os colaboradores desta coluna, ao longo dos últimos meses, Dilma dá permanentemente a impressão de nunca ter lido nenhum livro, sobre qualquer assunto. Sua bagagem literária, porém, é enorme. A repórter, no penúltimo parágrafo de seu relato, menciona, em passant, tê-los visto ao lado de cremes e maquiagem — mas certamente se esqueceu de perguntar os títulos dos três livros trazidos pela presidente eleita em sua primeira viagem internacional.

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Preferiu puxar conversa sobre seus genéricos hábitos de leitura, aérea ou terrestre. E resume assim as preferências presidenciais: “Dilma enaltece autores angolanos, rasga elogios ao belga Georges Simenon e admite que dormiu na segunda página de um livro do mexicano Carlos Fuentes”.

Eu gostaria de saber o nome, apenas o nome, sem a necessária correspondência de obra, de um, apenas um, desses enaltecidos autores angolanos. E de conhecer o teor dos “rasgados elogios” de Dilma a Simenon, sobre cuja obra vale o mesmo repto: Georges Simenon assinou 190 livros e 154 novelas e escreveu, sob uns 20 diferentes pseudônimos, mais uns 150 romances — Dilma bem que poderia citar um só. E bem que o Inspetor Maigret, criação imortal de Simenon, poderia ser chamado para comprovar a existência e a autoria desses três misteriosos livros que Dilma carregou para a viagem a Seul.

Quanto a Carlos Fuentes, o fascinante Carlos Fuentes, diplomata mexicano com status intelectual para dar aulas em Harvard, Princeton e Cambridge, é mesmo um sonífero para passageiros como Dilma – será esta, aliás, a função basal dos três livros da presidente eleita?

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Nesta viagem a Frankfurt, especificamente, não. Catia relata que Dilma, sem nenhuma leitura, dormiu 7 das 11 horas a bordo – de pijaminha marrom da Primeira Classe. Antes, deu corda ao repórter e ao fotógrafo, mas fez um pedido: “Não vá tirar uma foto minha dormindo. Todo mundo baba quando dorme”.

Esse estado quase catatônico em voo é produto, talvez, de um também misterioso “remedinho francês” para insônia a que ela recorre, como revelou à repórter da Folha.

Bem, aí o assunto deixa o âmbito literário para invadir a seara do Temporão. Esse remedinho já está disponível no SUS?

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Se a repórter quisesse detalhes sobre as três obras, Dilma Rousseff iria consumir as 11 horas do voo caçando respostas em vão. Como comprova o vídeo, o neurônio solitário não sabe sequer o nome do autor nem o título do livro que está lendo. Só o timaço de comentaristas pode desvendar o enigma: que livros estavam na bagagem da viajante, amigos?

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