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Afinal, para que serve o Twitter?

Artigo publicado na Folha desta quinta-feira. É UM PÁSSARO? É O SUPER-HOMEM? Márion Strecker Às vezes me perguntam sobre o Twitter: o que é, como funciona, pra que serve. Ele serve para escrever e/ou ler frases de até 140 caracteres que os outros escrevem. São mais de 10 milhões de brasileiros que usam o site desse microblog, […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 14h55 - Publicado em 1 jul 2010, 14h01

Artigo publicado na Folha desta quinta-feira.

Twitter

É UM PÁSSARO? É O SUPER-HOMEM?

Márion Strecker

Às vezes me perguntam sobre o Twitter: o que é, como funciona, pra que serve. Ele serve para escrever e/ou ler frases de até 140 caracteres que os outros escrevem. São mais de 10 milhões de brasileiros que usam o site desse microblog, diz o Ibope, fora os que usam pelo celular. Então me lembrei da propaganda de um velho seriado de TV.

Os mais velhos vão sentir nostalgia. Era assim: “Mais rápido que uma bala. Mais poderoso que uma locomotiva. Capaz de transpor altos prédios de um pulo só. Olhe lá no céu! É um pássaro? É um avião? É o Super-Homem!

Um estranho visitante de um outro planeta que veio à Terra com poderes e habilidades muito além das conhecidas pelo homem. O Super-Homem! Que pode mudar o curso dos rios caudalosos, vergar o aço com as próprias mãos e se disfarça de Clark Kent, o melhor repórter de um grande jornal da cidade. Enfrenta uma luta infindável pela verdade, justiça e bem-estar de todos!”.

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O logotipo do Twitter é um pássaro. Ele é rápido como uma bala; e perigoso. Como a publicação é instantânea e os usuários recebem sempre o mais recente primeiro, a leitura é imediata.

Por isso essa “engenhoca dos pensamentos ligeiros”, conforme descreveu aqui na Folha Fernando Barros e Silva, é o paraíso das ratas, gafes, exibições e confissões irrefletidas. Já provocou crises políticas e demissões, muito comentadas no próprio Twitter, porque ele se retroalimenta, com a mania de republicação constante de seus usuários. Daí o surgimento do novo ditado popular: “Se beber, não tuíte!”.

Daí também a discussão se o Twitter pertence à esfera privada ou à profissional do autor. Claro que a ambas. KremlinRussia segue WhiteHouse no Twitter, o que evoca a capacidade de transpor altos prédios de um pulo só. Candidatos à eleição estão lá. E, se espiarmos os endereços twitter.com/eikebatista, twitter.com/paulocoelho ou twitter.com/aherchcovitch, leremos o homem mais rico do Brasil, o autor de best-sellers ou o estilista. Em tese, eles também vão ler o que qualquer um escrever para eles. Se amarem ou odiarem, talvez respondam.

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O Twitter é de outro planeta, diferente daquele planeta do Orkut, do Facebook ou do Sonic, em que a lei impõe a reciprocidade para a comunicação se estabelecer.

Nas outras redes, eu só posso “ser” seu amigo se você me “aceitar” como seu amigo. No Twitter, sigo quem bem entender. Quem quiser me seguir que siga. Nem é preciso saber quem são os seguidores, como, aliás, na vida real. Pesquisa acadêmica recente mostrou que reciprocidade não passa de 22,1% no Twitter.

O Twitter pode mudar o curso dos rios caudalosos da comunicação pessoal. Há muitos que preferem o Twitter ao e-mail. Outros usam o canal para falar cobras e lagartos de empresas; e muitas empresas nem sabem. Com o agravante de que qualquer coisa escrita ali poderá aparecer em buscas do tipo Google.

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Quando seguimos o Twitter de um veículo de comunicação, recebemos suas manchetes. E o Twitter se traveste de Clark Kent, como rede global de informação em tempo real, descentralizada, espontânea, incontrolável, utilíssima em situações de riscos e conflitos. Serve perfeitamente ao ativismo, inclusive o fictício, como a campanha para salvar o Galvão, que seria um pássaro da Amazônia ameaçado de extinção pelo uso de suas penas nas fantasias do Carnaval.

Esse ativismo piadista seguiu-se a outra brincadeira, que foi o uso intensivo da expressão #calabocagalvão, zoeira com o narrador esportivo que chegou ao topo do ranking mundial de menções no Twitter.

O Twitter é como um microfone aberto 24 horas por dia na boca de milhões de pessoas, inclusive falsas, dizendo banalidades ou coisas importantes, numa linha do tempo organizada do agora para o antes, sendo que o antes raramente é lido, pois, enquanto lemos o agora, o depois se superpõe.

Nesse rio caudaloso, o usuário pode desenvolver ansiedade e perder muito tempo para ver o que andam falando, mesmo que seja muita bobagem. Ou não. Essa é a questão.

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