Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Imagem Blog

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Abaixo a ditadura, pô!

Defensores da ditadura dizem que pelo menos não havia corrupção. Errado. Havia. Apenas não podia ser descoberta

Por Carlos Alberto Sardenberg
Atualizado em 30 jul 2020, 20h27 - Publicado em 17 Maio 2018, 19h47

Carlos Alberto Sardenberg (publicado no Globo)

Estamos em 1969, o governo militar havia editado o Ato Institucional número 5, no que foi um endurecimento do regime e uma escalada da repressão. Em São Paulo, na esquina da Rua Itambé com a Avenida Higienópolis, havia um casarão protegido por muros altos e compridos. Tela ideal para as pichações a que se dedicavam os movimentos estudantis alojados na Faculdade de Filosofia, ali ao lado, na Rua Maria Antônia.

Assim, numa manhã, o muro apareceu com letras enormes: Abaixo a ditadura. Logo no dia seguinte, porém, as paredes estavam branquinhas de novo. Mais um dia e, lá estava, Abaixo a ditadura, slogan da época, posto durante a noite. Mais um dia, e o muro amanhece lavado e pintado. Na quinta manhã dessa disputa, os pichadores perdiam a paciência, mas não o humor. Escreveram: Abaixo a ditadura, pô!

Lembrei-me do slogan nos últimos dias, quando ouvintes do meu programa na CBN enviaram e-mails defendendo a ditadura militar dos anos 60 e 70 e pedindo a sua volta. Reagiam ao noticiário sobre documentos da CIA que mostravam que os presidentes Ernesto Geisel e João Figueiredo não apenas sabiam como autorizavam a execução de “subversivos perigosos”.

Confesso que me surpreendi com essa reação. Pensava que a ideia de ditadura militar estava sepultada na nossa história, sendo defendida, talvez, por pequenos grupos desavisados. Parece que é mais gente do que isso.

O que exige o comentário, aqui reproduzindo e ampliando o que disse na CBN.

Continua após a publicidade

Os que defendem a ditadura militar recorrem a quatro argumentos.

O primeiro sustenta que o regime dos anos 60 e 70 foi muito eficiente na promoção do desenvolvimento econômico. O exemplo é o período de 1968 a 73, quando o país cresceu a mais de 10% ao ano.

Verdade que cresceu, mas esse foi um momento de prosperidade mundial. Havia crescimento em boa parte do mundo e liquidez abundante, capitais externos para investimentos e empréstimos a juros baixos. O regime militar pegou essa onda. E pegou mal, porque quando a situação externa piorou, com a crise do petróleo e dos juros internacionais, o país estava despreparado. Caiu na inflação, na recessão e na moratória de uma dívida externa insustentável.

A queda foi pesada. Quando os militares se retiraram, em 1985, o Brasil estava assim: inflação de quase 200%; dívida pública equivalente a 30% do PIB, vindo de apenas 5% no início dos anos 70; dívida externa 20 vezes maior que a de 1970.

Continua após a publicidade

Além disso, muitas obras faraônicas deixadas pelo caminho, como a Transamazônica e a Ferrovia do Aço (“loucura de botar sujeito na cadeia”, segundo comentário de Eugênio Gudin), estatais endividadas.

Eficiência?

No segundo argumento, os defensores da ditadura dizem que pelo menos não havia corrupção. Errado de novo. Havia. Apenas não podia ser descoberta. Mas o pessoal de dentro sabia. O que levou Mário Henrique Simonsen, ministro de Geisel e Figueiredo, a deixar uma de suas frases históricas: “Às vezes, é melhor pagar a comissão e não fazer a obra; sai mais barato”.

Argumentam ainda os saudosos da ditadura que o regime botava ordem na casa. Com censura à imprensa, restrição severa sobre o Judiciário e o Congresso, aniquilação de opositores e eleições controladas.

Continua após a publicidade

Finalmente, quarto argumento, dizem que é melhor uma ditadura militar do que uma ditadura comunista. E voltam assim à tragédia política dos anos 60 e 70: a direita justificava a sua ditadura como meio de evitar a instalação de um regime à cubana por aqui. A esquerda revolucionária, que de fato treinava em Cuba, atacava a ditadura militar esperando que sua derrubada levasse não à democracia que chamavam de burguesa, mas ao socialismo da ilha, que também aniquilava seus opositores.

Foi uma triste história.

Mas prevaleceram os verdadeiros democratas, liderados por Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e Franco Montoro.

Parecia que a lição estava aprendida. E aí aparecem, de um lado, os defensores do regime militar, dizendo que nossa democracia é fraca para conter as esquerdas e os corruptos. No outro, as esquerdas, dizendo que a democracia é ilegítima, que é contra os pobres e pune Lula e seu pessoal não porque são corruptos, mas porque são do povo.

Continua após a publicidade

É de se lamentar. Dos dois lados, um desprezo pela democracia, pelo Judiciário, pela imprensa livre.

Por isso é preciso repetir: Abaixo a ditadura, pô! Mas acrescentando o que os jovens daquele momento não escreveram: E viva a democracia!

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.