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Augusto Nunes

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A menina que ficou presa numa cela com 26 homens faz 18 anos

Texto publicado na Folha desta quinta-feira VIDA EM LOOPING Eliane Trindade Os dreadlocks no cabelo são só uma nova etapa na vida de L., 18. Foi assim que a garota, que ganhou notoriedade ao ficar presa 26 dias numa cela com 26 homens no Pará, deixou a comunidade terapêutica em que cumpriu 18 meses de […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 14h38 - Publicado em 5 ago 2010, 13h42

Texto publicado na Folha desta quinta-feira

VIDA EM LOOPING

Eliane Trindade

Os dreadlocks no cabelo são só uma nova etapa na vida de L., 18. Foi assim que a garota, que ganhou notoriedade ao ficar presa 26 dias numa cela com 26 homens no Pará, deixou a comunidade terapêutica em que cumpriu 18 meses de medida socioeducativa, a 35 km de Brasília. A maioridade é mais um início numa trajetória vivida em looping constante, plena de manobras e acrobacias -quase sempre na vertical.

A última vez que ela havia deixado os muros e as cercas eletrificadas para trás foi numa fuga no final de 2009. Uma entre tantas escapadas da garota que, há três anos, está no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM), da Secretaria de Direitos Humanos, da Presidência da República.

Apesar do sigilo que cerca o programa por questões de segurança, a Folha comprovou que ao longo dos últimos dois anos e meio, a trajetória de L. ficou marcada por fugas, pequenos furtos e episódios de prostituição para bancar o vício em crack. Sempre que escapava, L. vagava pelas cidades-satélites em busca da droga. Assim foi parar numa maloca na cracolândia da Ceilândia.

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Na tarde de terça, a “tia” que controla a área, conhecida como Castelinho, baixou a guarda ao ouvir o nome de L. Ela não sabe precisar a data, mas se recorda de que o primeiro contato com a menina “mirradinha e bonitinha” foi no final de 2008. “Aquela ratazana era maior que as outras”, conta ela sobre sua reação diante da garota que se escondia em um dos becos pichados. O espaço de uns cinco metros quadrados, com paredes arrebentadas e lixo espalhado, fica em uma das extremidades da obra abandonada.

Não demorou muito para “noias” e traficantes descobrirem que a desconhecida era a “garota do Pará, aquela que apareceu na televisão”. Era assim que L., contrariando todas as regras do esquema de proteção, apresentava-se à galera do crack. “É por isso que levaram ela para a clínica. Querem ela bem caladinha”, diz a “tia”. Refere-se à Mansão Vida, clínica de reabilitação de luxo em Santo Antônio do Descoberto, a 35 km de Brasília.

A diária varia de R$ 150 a R$ 300. L. fugiu pelo menos três vezes da clínica com piscina, sauna, salão de jogos e cinco refeições por dia. Tomava oito remédios por dia. Mais simples, a comunidade terapêutica, a 10 km da clínica, é confortável, mas sem luxos. Ali, dividia o alojamento com outras 11 dependentes químicas. Não estava só em tratamento, mas cumprindo pena por furto.

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Em fevereiro de 2009, a sequência de fugas de L. foi interrompida, quando, então com 17 anos, foi presa na cidade-satélite do Guará. Com uma faca, tentou furtar uma jovem, mas acabou presa. Por determinação da Justiça, L. foi mandada para o Caje (Centro de Atendimento Juvenil Especializado), a unidade de internação para menores infratores do DF. De lá, foi levada para a comunidade terapêutica.

Ao completar a maioridade em 10 de dezembro de 2009, o destino de L. voltou a ser debatido pelas autoridades. Deve trocar o PPCAAM, pelo similar para adultos, o Provita. Um novo recomeço. Quando chegou ao Distrito Federal, ela já era uma dor de cabeça para as autoridades. Ela foi recusada por vários Estados. A fama de que ela havia “tocado o terror” no Rio se espalhou, segundo um profissional que acompanhou a vinda dela para o DF. A primeira estratégia foi a mãe. Não funcionou.

Na saga para definir quem iria ficar com ela, técnicos do governo descobriram que o homem que a registrara como filha não era o pai biológico. Feito um exame de DNA, o pai verdadeiro foi aceito no programa, e L. passou a viver com ele e a madrasta em uma chácara. A menina novamente não se adaptou à vida familiar. Cresceu sem pai nem mãe e não gostava do mato. “Gastaram muito tempo e dinheiro com ela, mas L. não sabe o que fará da vida. Nesses três anos, o que foi construído?”, indaga uma amiga dela.

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