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Augusto Nunes

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A liberdade de decidir

PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA QUINTA-FEIRA Fernando Reinach Imagine que você esta sentado à mesa jantando. Na sua frente estão dois copos, um com água, outro com vinho. Durante a refeição você escolhe diversas vezes se deseja tomar um gole de vinho ou de água. Como ocorre cada decisão. O que percebemos é que existem dois […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 10h17 - Publicado em 3 nov 2011, 12h31

PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA QUINTA-FEIRA

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Fernando Reinach

Imagine que você esta sentado à mesa jantando. Na sua frente estão dois copos, um com água, outro com vinho. Durante a refeição você escolhe diversas vezes se deseja tomar um gole de vinho ou de água. Como ocorre cada decisão.

O que percebemos é que existem dois momentos. No primeiro você decide conscientemente o que quer tomar (água por exemplo). No segundo momento, tomada a decisão, seu cérebro direciona sua mão para o copo e você bebe um gole. Nos últimos anos diversos experimentos demonstraram que isso é uma ilusão.

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O ato de escolher um copo na verdade ocorre em três tempos. No primeiro momento seu cérebro decide que bebida vai tomar. No segundo momento esta decisão aparece na sua consciência (e você pensa que está tomando a decisão – uma ilusão, porque ela já está tomada). E no terceiro momento sua mão se dirige para o copo. Em outras palavras, a decisão é tomada inconscientemente e somente depois aparece na nossa consciência.

A prova de que este primeiro momento existe, e é real, foi obtida em experimentos nos quais a atividade do cérebro foi medida antes, durante e depois do processo de decisão. Os experimentos colocam em xeque o próprio conceito de que nossa consciência é a responsável por nossos atos. Vale a pena entender como estes experimentos foram feitos.

O voluntário é colocado na frente de uma tela de computador onde aparece somente uma das letras do alfabeto, escolhida de maneira aleatória. A letra é trocada a cada meio segundo. O voluntário coloca a mão esquerda sobre um botão (o copo de água) e a mão direita sobre outro botão (o copo de vinho). A instrução é simples. O voluntário observa as letras por quanto tempo quiser até decidir apertar o botão esquerdo ou o direito. Mas quando ele decidir, deve apertar o botão imediatamente e memorizar a letra que estava na tela. Quando ele aperta o botão, a tela deixa de trocar as letras e as últimas três letras mostradas antes dele apertar o botão são apresentadas. Ele deve escolher a letra que estava na tela quando decidiu qual botão iria apertar. Como o tempo entre decidir e apertar o botão é de menos de meio segundo, a letra escolhida é quase sempre a mostrada meio segundo antes do botão ter sido apertado.

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Mas tudo isto é feito com o voluntário dentro de uma máquina de ressonância magnética capaz de medir a atividade cerebral de cada milímetro cúbico do cérebro do voluntário a cada meio segundo. Desta maneira os cientistas conseguem saber o que está ocorrendo em cada pedaço do cérebro, a cada meio segundo, nos 10 segundos anteriores à pessoa decidir apertar um dos botões.

Analisando o padrão de atividade do cérebro nos 10 segundos anteriores à pessoa decidir apertar o botão, e comparando a atividade do cérebro, os cientistas descobriram áreas do cérebro em que a atividade era diferente dependendo de que botão a pessoa escolheria. Agora, analisando somente estas áreas nos segundos que antecediam a decisão, um computador é capaz de, antes da pessoa decidir que botão vai apertar, prever o botão que ela irá apertar.

Quase sete segundos antes da pessoa apertar um dos botões é possível saber com 60% de certeza qual botão ela vai escolher. Dois segundos antes é possível saber com 90% de segurança que botão vai ser escolhido. Isso demonstra que existe um intervalo de tempo em que o cérebro já decidiu, mas a decisão tomada ainda não surgiu no nosso pensamento consciente.

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Pode parecer estranho, mas na realidade existe um número enorme de decisões que nosso cérebro toma e executa sem informar nossa consciência. Quando decidimos caminhar, a decisão de caminhar é consciente, mas logo em seguido nosso cérebro assume o controle e coordena a ação de dezenas de músculos nas pernas e braços que garantem que um passo seja seguido de outro. Quando lemos um texto não temos consciência de como o cérebro comanda o movimento dos olhos. Na verdade, a decisão de tomar água ou vinho também é tomada de forma inconsciente e somente depois surge na consciência, criando a ilusão de que estamos decidindo.

Atualmente ninguém duvida deste resultado empírico, mas filósofos e cientistas estão envolvidos em uma ferrenha discussão sobre o significado desta descoberta. Será que ela implica que a liberdade de decisão não existe? Ou será que decidimos livremente, mas de forma inconsciente, utilizando dados de nossa experiência? O mais interessante é que esta descoberta confirma uma das hipóteses mais queridas de Sigmund Freud, de que parte de nossas ações é controlada pelo inconsciente.

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