A coluna responde à carta de Greenhalgh (Caso Lubeca)
Na resposta ao post publicado nesta seção com o título O primeiro andor da interminável procissão de escândalos, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh dedica cada um dos cinco ítens a temas diferentes. A partir de hoje, a coluna vai republicar e comentar um ítem a cada dois dias. O primeiro trata do Caso Lubeca. Seguem-se o texto de Greenhalgh (em itálico) e a tréplica do colunista: 1) Homens […]
Na resposta ao post publicado nesta seção com o título O primeiro andor da interminável procissão de escândalos, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh dedica cada um dos cinco ítens a temas diferentes. A partir de hoje, a coluna vai republicar e comentar um ítem a cada dois dias. O primeiro trata do Caso Lubeca. Seguem-se o texto de Greenhalgh (em itálico) e a tréplica do colunista:
1) Homens públicos são passíveis de denúncias nem sempre verdadeiras. Em 1989, em um debate televisivo durante a campanha presidencial, o então presidente da UDR, Ronaldo Caiado, fez uma acusação de que uma empresa teria contribuído para a campanha presidencial de Lula em troca de favores na prefeitura municipal de São Paulo. Imediatamente, foram abertos procedimentos administrativos e inquérito policial para a aferição da denúncia. Os procedimentos administrativos não me atribuíram nenhuma responsabilidade. O inquérito policial, presidido por um ex-integrante do DEOPS e acompanhado por um promotor (que veio a ser deputado estadual pelo PSDB) também, apesar do esforço demandado por ambos, não conseguiu estabelecer responsabilidade minha. Ministro corregedor do STJ, verificando a utilização eleitoral do caso Lubeca determinou a remessa dos autos à Polícia Federal, competente para a apuração das denúncias eleitorais. O resultado do inquérito foi o indiciamento do denunciante Ronaldo Caiado como incurso nas sanções do crime de denunciação caluniosa. O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal exatamente porque o indiciado elegeu-se deputado federal por Goiás. E o processo foi arquivado pelo STF porque não houve autorização da Câmara dos Deputados para processar o parlamentar.
O parágrafo acima reproduzido não é uma réplica, é uma redundância. Em linguagem de tribunal, Luiz Eduardo Greenhalgh apenas repete informações incorporadas à reportagem sobre o Caso Lubeca: nem a polícia nem as comissões de inquérito viram provas suficientes para condenar o acusado. Disso os leitores já sabiam. O que o país continua ignorando é o que teria enxergado a prefeita Luiza Erundina para demitir o vice-prefeito do comando da Secretaria de Negócios Jurídicos.
“Quebra de confiança”, foi o motivo invocado por Erundina. Ou sobra de evidências, sugere a gravação da conversa entre dois assessores de Greenhalgh, José Firmo Ferraz Filho e Eduardo Pizarro Carnelós, repleta de menções ao chefe, à prefeita e ao Caso Lubeca. Dias antes de formalizar a demissão, Erundina ouviu a fita. Segundo a polícia, a gravação não foi incluída no inquérito por ter aparecido tarde demais. Por falta de tempo, faltou a prova mais contundente, divulgada em parte pelo Jornal da Tarde, em 1990, e, 15 anos depois, pela Folha de S. Paulo. Confira o que a Folha publicou:
A certa altura, Ferraz Filho diz: “Teve aquele problema da grana e avaliou-se. Não pega a grana. Vamos pegar? Podemos pegar. Tem armação, não vamos pegar”. E segue: “O partido pediu grana. É ato de preposto [representante legal], cara! E mais, o cara é vice-prefeito. Se ele pedir, os caras dão”. Adiante, Ferraz Filho afirma: “O Luiz estava por trás do projeto? Estava. Já tinha um homem do gabinete dele no projeto.”
Em seguida, Ferraz Filho diz: “Eu fui plantado na Lubeca. Fui plantado”. “Por quem?”, indaga Carnelós. “O Luiz [Eduardo Greenhalgh]. O Luiz. Pronto. Cara, você vai segurar?”, pergunta Ferraz Filho.
Na fita, Ferraz Filho procura convencer Carnelós a não tornar a história pública. Ele fala diversas vezes sobre a doação: “Meu amor, a história é a seguinte: é a filosofia do lobo. Os caras dando isso…, eles estão o quê? Pagando o seguro tipo máfia. Não tem sacanagem. Isso é a filosofia deles”.
“O Zé Firmo não podia aparecer…”, diz Ferraz Filho, referindo-se a si próprio. “O Luiz [Eduardo Greenhalgh] fez uma cagada? Fez. E atribuo isso exclusivamente a ato falho. Não perdoo o Luiz. Inabilidade, incompetência, seja lá que nome for. Agora, não é por causa disso que a gente tem de atirar merda no ventilador.”
A carta-resposta passa ao largo do episódio da demissão e não dedica sequer um ponto de exclamação à conversa suspeitíssima. O colunista pergunta se Greenhalgh tem algo a dizer.