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Augusto Nunes

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A cigarra, a formiga e o Código Florestal

Texto publicado no Estadão desta sexta-feira. Marcos Sá Corrêa Pior que o novo Código Florestal é a esterilidade do bate-boca que ele deixa pelo caminho. Na prática, pode até ser um código mais ou menos igual aos outros. Retardatário e inócuo, como todos que o Brasil teve e não usou, desde as ordenações portuguesas contra […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 14h47 - Publicado em 16 jul 2010, 15h22

Texto publicado no Estadão desta sexta-feira.

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Marcos Sá Corrêa

Pior que o novo Código Florestal é a esterilidade do bate-boca que ele deixa pelo caminho. Na prática, pode até ser um código mais ou menos igual aos outros. Retardatário e inócuo, como todos que o Brasil teve e não usou, desde as ordenações portuguesas contra a depredação das matas nativas, que a colônia soberbamente rebarbou. Se as cumprisse, bastaria deixá-las em vigor para hoje o País ser ambientalmente mais adiantado do que é.

Os Códigos Florestais anteriores, se não tiveram melhores resultados, pelo menos vinham recheados de ideias. O de 1934, que os políticos remancharam desde o Segundo Reinado, lastreou-se nas expedições botânicas que fundaram, no fim do século 19, as pesquisas genuinamente brasileiras em ciências naturais. Não pegou. Mas tinha pedigree respeitável.

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O segundo, de 1965, além de incorporar um debate científico que floresceu aqui nos trópicos durante a primeira metade do século 20, foi um marco da infiltração esquerdista na ditadura militar ? graças à insolência do desembargador Osny Duarte Pereira que, desafeto do regime, ligado à história das lutas sindicais no Brasil, aproveitou a chance que lhe caiu nas mãos por descuido para botar a conservação na frente do conservadorismo.

Seu código também não colou, em parte porque a única iniciativa de governo que costuma pegar no campo é o crédito subsidiado. E agora coube, por ironia, ao deputado Aldo Rabelo, importante relíquia do Partido Comunista do Brasil, desmontar esse entulho do esquerdismo. Não vale xingar sua proposta de retrógrada. Esse não é seu defeito, mas seu propósito ? fazer a lei recuar até o ponto onde se encontra quem, por quase meio século, apostou que ela jamais iria alcançá-lo atrás da cerca.

Elogio da desobediência

Se vai pegá-lo adiante, ainda que seja lá atrás, o tempo dirá. De cara, o código consagra a desobediência. Ou o princípio de que no Brasil só valem para valer os costumes vigentes. O resto é conversa de congresso acadêmico ou choradeira de ONG. Tanto é assim que, de todos esses meses de discussão, a memória só extrai agora do noticiário um único argumento com referência bibliográfica. É a fábula da cigarra e da formiga, popularizada por Jean de La Fontaine.

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Ela foi citada com insistência para dizer que os ambientalistas chiam e os agricultores trabalham. E essa fica sendo seu defeito de nascença. A tal fábula, mais que o novo código, é um atestado clássico de desinformação e atraso. Lá vão quase 120 anos que o entomólogo francês Jean-Henri Fabre dissecou a história de La Fontaine como modelo da ignorância humana diante da natureza.

As cigarras, lembrou Fabre, nunca passam aperto no inverno, porque arrebentam de cantar muito antes da estação. Jamais pediriam às formigas “um grão de trigo”, por serem incapazes de comê-lo com sua tromba, feita para sugar a seiva das árvores, que é seu único alimento. E se pudessem engoli-lo, não encontrariam uma só formiga em trânsito para mendigar fosse o que fosse. No frio, a formiga hiberna.

Aliás, é a formiga que prejudica a cigarra. Em vida, rouba-lhe agressivamente as minas de líquido açucarado que ela fura nos caules. Na morte, esquarteja seus corpos, para abastecer de matéria orgânica as cavas dos formigueiros. La Fontaine errou de alto a baixo. Ele, mais que Aldo Rabelo, mereceria ser entronizado como padroeiro do novo Código Florestal.

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