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A bancada dos sérgios moraes avisa que Pelé acertou no ângulo

Mas só se aprende a votar votando, deveria ter acrescentado Pelé, depois de trocar por uma vírgula o ponto final da frase lastimavelmente verdadeira: brasileiro não sabe votar. Por não adotar tal cautela, e por ter sido sincero antes que se encerrasse a era dos generais, o Rei foi incluído entre os alvos preferenciais dos patrulheiros ideológicos. Os que […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 5 jun 2024, 18h36 - Publicado em 8 Maio 2009, 23h42

Mas só se aprende a votar votando, deveria ter acrescentado Pelé, depois de trocar por uma vírgula o ponto final da frase lastimavelmente verdadeira: brasileiro não sabe votar. Por não adotar tal cautela, e por ter sido sincero antes que se encerrasse a era dos generais, o Rei foi incluído entre os alvos preferenciais dos patrulheiros ideológicos.

Os que sabem votar  não se sentiram ofendidos: o maior craque da história acertara no ângulo. A turma que celebra a democracia cubana, sonha com o partido único e despreza a liberdade tratou de reduzi-lo a sócio-atleta do Clube Militar, camisa 10 do time dos serviçais da ditadura e agente da elite paulista. Só um loiro de olhos azuis como Pelé ousaria dizer que brasileiro não sabe votar.

Não sabe mesmo, berra o coro imenso dos delinquentes perigosos e estelionatários gentis, ineptos de carteirinha e cretinos fundamentais, todos  fantasiados de senador, deputado, governador, prefeito, vereador, síndico de prédio ou presidente da República.  Seja qual for o partido a que pertencem, obedecem ao comando da bancada da bandidagem. Seja qual for o nível de escolaridade, são  todos doutores em patifarias. Seja qual for o sotaque que identifica a origem, todos falam com fluência a língua geral dos fora-da-lei.

Pelé decerto pensava nos grotões embrutecidos pela miséria e pela ignorância, nos currais eleitorais subjugados desde o começo dos tempos por coronéis brutais. Menos de 40 anos depois de divulgada, a frase inspirada nesse mundo primitivo vale para o país inteiro. Aos rebanhos conduzidos desde sempre pelos pastores do atraso, juntaram-se os que pastam nos campos da civilização.  Não chega a ser surpreendente que o eleitorado de João Alfredo envie ao Congresso um Severino Cavalcanti, nem que o transforme em prefeito depois de expelido da presidência da Câmara por gatunagem.

O que surpreende é a contemplação do que anda acontecendo em cidades plantadas no Brasil moderno. Santa Cruz do Sul, por exemplo. Fundada por imigrantes alemães no coração do Rio Grande do Sul, a 150 quilômetros de Porto Alegre, tem boas escolas, aeroporto, até um autódromo. A cada ano, a maioria dos habitantes, mais de 120 mil, diverte-se na maior Oktoberfest do interior gaúcho. A cada dois anos, faz o que manda o deputado Sérgio Moraes.

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Caso se candidatasse a orador da turma do manicômio, até os doidos de pedra achariam insensato eleger alguém que se lixa para a opinião pública. É muita insensatez. Até os napoleões de hospício negariam o voto a quem trata seus partidários como perfeitos idiotas. É muita maluquice. Até os que babam na gravata compreenderiam que o prontuário de Sérgio Moraes só o credencia a candidatar-se a xerife de cadeia. O histórico resumido em junho de 2008 pelo jornalista Alexandre Oltramari, em junho de 2008, na edição 2066 de Veja, é mais que suficiente para convencer qualquer cérebro com mais de três neurônios de que nem o Congresso brasileiro merece alguém assim.

A maioria do eleitorado de Santa Cruz do Sul discorda. Antes de despachá-lo para a Câmara, elegeu-o vereador, prefeito (duas vezes) e deputado estadual. A prefeita é sua mulher, Kelly, companheira de lutas desde os tempos em que lucravam com um o aluguel de garotas de programa numa casa de prostituição disfarçada de “clube noturno”. Esses e outros empreendimentos fizeram do deputado um freguês da Justiça. A freguesia eleitoral acha isso tudo irrelevante.

“Entro num ginásio e sou aplaudido”, gabou-se Moraes numa entrevista ao Estadão.  “São 27 anos com mandato. E com um detalhe: escolhendo dentro de casa”.  O monarca municipal simulou uma sessão deliberativa doméstica em que define o próprio destino, o da mulher prefeita, o do filho vereador e o da cidade:  “Escuta, o que tu vai ser agora? Ah, quero ser prefeito. Ah, então tá. Então eu vou ser deputado federal. Quem sabe tu não sai a deputado estadual? Tu sai a vereador”.

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A fórmula lhe parece irretocável:  “A gente decide dentro de casa e só informa a população. E em todas a gente ganha. Lá, eu ganho o que eu quero”. “Lá” quer dizer Santa Cruz do Sul. Para redimir-se dos pecados recorrentes, basta que a cidade transforme a próxima eleição no instrumento da vingança merecidíssima. Se mantiver no cargo o presidente do clube dos cafajestes, se ratificar o voto de obediência ao clã, ficará claro que a manada majoritária merece o sinuelo debochado.

Quem não merece uma cidade assim são os habitantes ajuizados e o Rio Grande do Sul moderno. Quem não merece um Congresso infestado de sérgios moraes é o Brasil que presta.

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