“Zero fora, zero” e outras cinco notas de Carlos Brickmann
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann Levy saiu? Para o país, não há diferença: não se discute o saber, mas o efeito da presença do ministro. Levy, Guido Mantega ou Vagner Love, tanto faz (ou não faz): quem aceita ser ministro de Dilma já sabe mesmo que não vai mandar.
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
Levy saiu? Para o país, não há diferença: não se discute o saber, mas o efeito da presença do ministro. Levy, Guido Mantega ou Vagner Love, tanto faz (ou não faz): quem aceita ser ministro de Dilma já sabe mesmo que não vai mandar.
E o rebaixamento da nota do Brasil por mais uma agência internacional? Também não fez diferença: os grandes fundos não ficam parados esperando que a agência retire o grau de investimento. Sacam o dinheiro bem antes. E os juros mais altos que o Brasil terá de pagar? Também já tinham subido: na segunda-feira, o Brasil pagava 4,7% acima do rendimento dos títulos americanos; na terça, foi rebaixado e perdeu o grau de investimento; na quarta, pagava os mesmos 4,7% acima dos títulos americanos.
Para o mercado internacional, que observa a situação do ponto de vista da rentabilidade, sem paixões políticas, o que quer que se faça no Brasil é mais do mesmo. As providências defensivas foram tomadas há tempos pelos investidores internacionais. Eles podem não ter coração, mas têm cabeça, e precisam prestar contas a quem lhes entrega dinheiro para investir.
Quer dizer que não adianta mexer, porque ninguém influente vai dar bola para isso? Também não é assim: se Dilma entregar a economia a alguém respeitado, e deixar claro que não vai interferir no trabalho, a situação pode melhorar (não na hora, mas quando o mercado se convencer de que ela desistiu de inventar moda).
E se, conforme se comentou, Dilma colocasse Jaques Wagner na Fazenda, o problema já não seria estar no fundo do poço, mas sim que iriam jogar terra em cima.
A sábia voz
Após o rebaixamento do status brasileiro, após a despedida do ministro Joaquim Levy, no momento em que se comentava Jaques Wagner para o Ministério da Fazenda, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse que os títulos brasileiros são um excelente negócio.
Como não disse Tonto a Zorro, quando foram cercados pelos índios, “excelente negócio para quem, cara-pálida?”
De Brahma a Budweiser
Que mundo pequeno! E, veja só, tão cheio de coincidências!
1 – A Budweiser, empresa cervejeira pertencente à multinacional InBev (que reúne Brahma, Antarctica, Stella Artois, Skol, Corona, e domina um terço do mercado mundial de cerveja), inicia grande campanha publicitária para promover o futebol americano no Brasil, com amplo uso de propaganda pelo smartphone. A Budweiser, Bud para os íntimos, é a cerveja oficial da Liga Nacional de Futebol Americano, NFL. Hoje, o futebol americano é pouco difundido no Brasil.
2 – O empresário Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, é diretor-geral e sócio da empresa Touchdown, que se dedica a promover o futebol americano no Brasil. Luís Cláudio também faz captação de recursos para o Torneio Touchdown, com 16 clubes e sete patrocinadores, o principal do país.
E a coincidência curiosa: o pai do promotor do esporte patrocinado principalmente pela Budweiser é, em certos setores, conhecido pelo apelido Brahma.
Trabalhar cansa 1
Há presos aguardando o julgamento de habeas corpus (que, se concedidos, lhes permitiriam passar o Natal e o Ano Novo com a família). Há gente que aguarda o julgamento de ações cíveis e o pagamento a que forem condenados seus adversários. Há pessoas detidas para interrogatório e o interrogatório não sai. Mas as férias do Judiciário são intocáveis: começaram na sexta e terminam em fevereiro, que ninguém é de ferro. Fica um plantão no Supremo para os casos mais graves, e só. E não se diga que os juízes precisam tirar férias: isso é óbvio, claro que precisam. Mas por que tirá-las todos ao mesmo tempo?
Numa grande empresa multinacional, todos os funcionários tiram férias, e a empresa não para por causa disso. As férias são escalonadas e todos se beneficiam.
Trabalhar cansa 2
O Senado entrou de férias no final da sessão de quinta-feira. Deveria haver sessões na segunda e na terça (às quais, é certo, o comparecimento seria mínimo), nas o presidente do Senado, Renan Calheiros, explicou que a Casa não poderia funcionar, porque “haverá obras de recuperação” no banheiro feminino. Enquanto isso, o impeachment, que mantém o governo e o país paralisados, fica para quando os nobres parlamentares já tiverem repousado o suficiente.
Quem sabe depois do Carnaval haja uma decisão? Ou, talvez, da Semana Santa?
E parar de trabalhar?
O trabalho, dizem, enobrece. Mas há gente que prefere aposentar-se, desde que bem. Como Valéria Perillo, esposa do governador goiano Marconi Perillo, do PSDB. A aposentadoria de Valéria Perillo foi aprovada por unanimidade pelo Tribunal de Contas do Estado: R$ 15.206,43 mensais, remuneração integral.
Valéria Perillo foi funcionária da Assembleia na década de 1980 e desde 1998 não exerce o cargo. Para que a aposentadoria fosse aprovada, o Tribunal de Contas do Estado considerou o período de serviços prestados à Organização das Voluntárias de Goiás. Como uma das funções da primeira-dama goiana é dirigir a OVG (trabalho voluntário, sem pagamento), Valéria Perillo recebeu esta missão.
Mas inovou: de graça, nem trabalho social. E continuou a receber da Assembleia.