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Augusto Nunes

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‘Vaia e vandalismo contra a péssima gestão pública’, de José Nêumanne

PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA QUARTA-FEIRA JOSÉ NÊUMANNE Nunca, desde sempre, a expressão “óbvio ululante”, cunhada por Nelson Rodrigues, foi tão exata quanto neste sábado, quando a presidente Dilma Rousseff foi vaiada pela torcida presente à estreia da seleção brasileira na Copa das Confederações, na “arena” Mané Garrincha, em Brasília. “Qualquer político que fosse anunciado no […]

Por Branca Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 05h58 - Publicado em 20 jun 2013, 11h30

PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA QUARTA-FEIRA

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JOSÉ NÊUMANNE

Nunca, desde sempre, a expressão “óbvio ululante”, cunhada por Nelson Rodrigues, foi tão exata quanto neste sábado, quando a presidente Dilma Rousseff foi vaiada pela torcida presente à estreia da seleção brasileira na Copa das Confederações, na “arena” Mané Garrincha, em Brasília. “Qualquer político que fosse anunciado no estádio receberia vaias”, concluiu, em raro rasgo de lucidez, o líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados, José Guimarães (CE), irmão do ex-guerrilheiro, ex-presidente nacional petista e réu condenado por corrupção e formação de quadrilha no processo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), José Genoino. E na ocupação da Avenida Rio Branco, no Rio, anteontem, à noite – imagem de grande impacto e significação.

De fato, torcedor de futebol não tem muita paciência com político que dá uma de papagaio de pirata em estádio, tentando tirar sua casquinha da paixão dele por seus ídolos, seja de clube, seja especialmente da seleção. O cidadão pode até fazer parte da Pátria “em” chuteiras (assim batizada por Nelson) – e não “de” chuteiras, como parodia equivocadamente oportunista anúncio oficial veiculado em rádio e TV durante a Copa da Fifa, disputada no Brasil. Mas nunca perdoa demagogia barata feita para tirar proveito de sua paixão, principalmente depois de suar em bicas para pagar o ingresso caro do jogo.

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De qualquer maneira, não deixa de ser tentador relacionar os apupos à queda de oito pontos porcentuais na popularidade e de sete na intenção de votos da chefe do governo, favorita para a reeleição em 2014. Os índices apurados ainda lhe garantem a vitória no primeiro turno, mas a tendência de queda não deve estar sendo comemorada no Palácio do Planalto. E mais tentador ainda é situar as vaias de Brasília no panorama de ocupação das ruas de 12 metrópoles brasileiras pela manifestação de insatisfação generalizada da multidão, que teve os canais de debate político interditados nesta democracia unívoca do PT e seus aliados.

Sem causa aparente pela qual lutar, mas trazendo às ruas uma pauta de queixas que os governantes e opositores fingem ouvir, mas para as quais ambos os lados do sistema político fechado e impermeável aos interesses da cidadania fazem ouvidos de mercador, os manifestantes reclamam de praticamente tudo, com razão e justiça. No Twitter, o autor de novelas da Globo Aguinaldo Silva estranhou que as pessoas saiam às ruas para reclamar de um reajuste de menos da metade da inflação do período depois de conquistarem poder de compra para adquirir bens de consumo de valor bem superior, por exemplo, aos 20 centavos a mais nas passagens dos coletivos na capital paulista.

É. Pode ser. Mas, em primeiro lugar, convém levar em conta a observação feita pelo aclamado marqueteiro Duda Mendonça, um dos réus absolvidos do mensalão, em entrevista à Folha de S.Paulo de domingo. “As pessoas se habituam com as conquistas. Na hora que sentem que qualquer coisa mexeu, esquecem um pouco tudo de bom que ganharam. Querem mais”, disse ele, prevendo risco na disputa de um segundo turno no ano que vem, particularmente se o adversário for o ainda aliado Eduardo Campos, governador de Pernambuco e dono do Partido Socialista Brasileiro (PSB).

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Esse é um lado a considerar, mas há outro ainda mais grave. E os aliados com que a presidente mais conta para ficar no posto máximo percebem muito bem isso. Depois das vaias no Mané Garrincha, o contestado, mas poderoso, líder da bancada da segunda legenda na coalizão governamental, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), acertou na mosca ao constatar: “Estamos tendo um movimento de reação à inflação. O que o governo tem de fazer é trabalhar para combatê-la”. O risco é a moeda derreter e a economia desabar.

Qualquer um sabe que a sorte de Dilma na sucessão depende da mesma receita que reelegeu seu patrono, Luiz Inácio Lula da Silva, e garantiu a própria ascensão ao topo do pódio sem nunca ter disputado cargo algum antes. A análise de Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central (BC), na entrevista das páginas amarelas da Veja, aponta com lucidez nessa direção. “Estamos presos na armadilha do crescimento baixo”, diagnosticou. E identificou o nó górdio na corda que precisa ser decepado para libertar o brasileiro da prisão: “A inflação está em alta. Há um aumento generalizado. Os reajustes no setor de serviços mantêm-se acima de 8% ao ano. É um quadro grave”.

Dilma e seu ministro Guido Mantega na certa darão atenção ao alerta de Duda Mendonça, mas dificilmente levarão a sério o do professor da Universidade de São Paulo (USP) e o do aliado fluminense prevendo dificuldades na economia por culpa da inflação. Poderiam atentar mais para o instinto de sobrevivência de Cunha e saber que Pastore não fala muito e só avisa quando tem certeza.

A presidente faria bem se contivesse o oportunismo de subordinados que buscam levar vantagem eleiçoeira dos acontecimentos inculpando adversários sem sequer saberem de que se trata. A cúpula federal nada sabe, como reconheceu o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, pois, desde que Fernando Collor extinguiu o Serviço Nacional de Informações (SNI), não dispõe de uma inteligência digna do nome para acompanhar movimentos sociais. Mas salta aos olhos que, mesmo sendo o transporte público muito ruim, a rebeldia popular manifesta o medo da volta da inflação e a indignação contra a péssima gestão de um Estado ineficaz, estroina, insensível e corrupto. Querer tornar Geraldo Alckmin alvo preferencial para derrotá-lo na próxima eleição é insensato, pois também estão em jogo a ambição de Dilma Rousseff e a carreira de Fernando Haddad. É esperar para conferir.

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