Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Imagem Blog

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

‘Pirâmides de insensatez’, de Dorrit Harazim

Publicado no Globo deste domingo DORRIT HARAZIM Não é preciso ter dado aulas de Direito Constitucional em Harvard nem ter recebido o Prêmio Nobel da Paz ou ocupar o cargo de presidente dos Estados Unidos da América para saber que a troca de governo que derrubou o presidente egípcio Mohamed Mursi no início de julho […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 05h35 - Publicado em 19 ago 2013, 14h27

Publicado no Globo deste domingo

DORRIT HARAZIM

Não é preciso ter dado aulas de Direito Constitucional em Harvard nem ter recebido o Prêmio Nobel da Paz ou ocupar o cargo de presidente dos Estados Unidos da América para saber que a troca de governo que derrubou o presidente egípcio Mohamed Mursi no início de julho foi um golpe militar. Barack Obama, com tantas credenciais, sabia.

Sabia, mas preferiu não saber. E perdeu a chance de fazer então o que talvez venha a ser compelido a fazer algum dia: cortar a ajuda militar anual de US$ 1,3 bilhão que os EUA fornecem às Forças Armadas egípcias desde 1979, para garantir a defesa de Israel. Pressionado pelas imagens dos mais de 600 cadáveres recolhidos nas ruas do Cairo após a matança desta quarta-feira, Obama anunciou apenas a suspensão dos exercícios militares conjuntos com o Egito, programados para setembro. Para muitos, foi muito pouco e veio tarde.

Continua após a publicidade

O contorcionismo verbal de Obama para não chamar o golpe de golpe, e neste caso ser obrigado por lei a suspender a ajuda, persistiu mesmo depois da fuzilaria. “Sabemos que muitos egípcios, milhões de egípcios, talvez mesmo uma maioria de egípcios pediam uma mudança de curso”, comentou o presidente ao lamentar as mortes.

A convicção de que o cordão umbilical bilionário com o Cairo é vital aos interesses americanos se baseia na suposição de que ele permite aos EUA manter sua influência na região e exercer um papel decisivo nos rumos tomados pelos líderes do Egito. Só que tudo na evolução do golpe liderado pelo general Abel Fattah al-Sisi aponta em direção contrária.

Se a derrubada do caótico governo de Mohamed Mursi teve pontos de interesse comum para os militares egípcios e o governo americano — livraram-se da indigesta Irmandade Muçulmana no poder —, é possível que Washington tenha pouca serventia para os generais do Cairo agora que o golpe adquiriu dinâmica própria. O influxo de US$ 12 bilhões que a Arábia Saudita e os emirados do Golfo se apressaram a oferecer aos golpistas também empalidece bastante o poder de barganha americano.

Continua após a publicidade

Enquanto isso, é bom não esquecer, o primeiro presidente eleito do Egito continua preso e incomunicável em algum lugar do país.

O dilema de Washington tem a ver com o que a eterna voz dissidente de Noam Chomsky, professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofia do MIT, chama de “Síndrome do planeta perdido”. Ou seja, a difícil transição dos Estados Unidos para um mundo mais diversificado, mais salpicado de centros de poder.

Afinal, não faz tanto tempo assim que o país se encontrava no ápice de seu poderio, ao término da Segunda Guerra. Detinha a metade das riquezas mundiais e todos os seus competidores estavam ou arruinados ou destroçados pelo conflito. Essa posição de rara invulnerabilidade permitiu aos americanos desenvolver uma política de liderança mundial alicerçada em bases concretas. Apenas o império soviético tinha estatura de inimigo oficial.

Continua após a publicidade

Desde a ocorrência do primeiro desarranjo neste mapa hegemônico, porém — a arrancada solitária da China, em 1949 —, os Estados Unidos têm dificuldades de se acomodar à perda de influência.

Como observa Chomsky, que tem ouvido duplamente aguçado para o significado de palavras, o Departamento de Estado até hoje se refere ao episódio como “a perda da China”. E já transcorreu mais de meio século. “Ora”, diz ele, “você só pode perder o que você considera ser seu. O conceito ainda continua em vigor, baseado na premissa de que qualquer coisa que enfraqueça nosso controle é uma perda que devemos nos empenhar em recuperar. É um tipo de paranoia: se você não tem tudo, é um desastre. Só se fala em declínio da América. A capa de uma edição recente da Foreign Affairs, a principal publicação do establishment nacional, perguntava: ‘A América acabou?’”

Longe disso. Este pode ser o momento para Barack Obama reatar a política americana com um elo do qual ela tem se desgarrado. Sabidamente, o atual ocupante da Casa Branca se notabilizou por perseguir uma diplomacia que procura brechas para estabelecer pontes com todos os regimes possíveis, por mais ditatoriais que sejam. É a chamada diplomacia “consequencial”, da busca de resultados, em oposição a arroubos de indignação.

Continua após a publicidade

No dia seguinte ao massacre de quarta-feira, o escritor e jornalista americano James Traub engatou nesta linha de raciocínio para escrever um artigo. O texto, publicado no site da revista Foreign Policy, logo se tornou viral. Ele termina assim:

“Eu gostaria de dizer que suspender a ajuda militar ao Egito agora é do interesse nacional dos Estados Unidos. Mas talvez não seja. Então digo que se trata de uma questão de autorrespeito nacional. Uma democracia precisa ser capaz de se olhar no espelho e aceitar o que vê, mesmo que não goste.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.