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‘O inimigo interno’, por Robson Bonin

PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DE VEJA ROBSON BONIN O presidente da Câmara dos Deputados é o segundo na linha sucessória da República. O cargo, muito cobiçado, é sinônimo de poder. Na manhã do  último dia 4 de fevereiro, funcionários dos gabinetes dos deputados federais encontraram embaixo da porta uma misteriosa correspondência marcada com um carimbo de “sigiloso”. Lacrado, o envelope pardo trazia um dossiê sem autoria com […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 06h40 - Publicado em 16 mar 2013, 11h40

PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DE VEJA

dossie-henriquealves

Trecho do dossiê

ROBSON BONIN

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O presidente da Câmara dos Deputados é o segundo na linha sucessória da República. O cargo, muito cobiçado, é sinônimo de poder. Na manhã do  último dia 4 de fevereiro, funcionários dos gabinetes dos deputados federais encontraram embaixo da porta uma misteriosa correspondência marcada com um carimbo de “sigiloso”. Lacrado, o envelope pardo trazia um dossiê sem autoria com denúncias contra o então candidato à  presidência da Casa Henrique Alves. Impresso com qualidade de revista, o livreto colorido reunia reportagens publicadas e detalhes de processos  judiciais que envolviam o peemedebista. Na capa, em letras garrafais, os dizeres: “Candidato condenado no Rio Grande do Norte, com direitos  políticos cassados e responde a vários processos”. O dossiê foi alvo de acalorados debates nas horas que antecederam a escolha do novo presidente, mas não chegou a comprometer o resultado. Henrique Alves foi eleito com 271 votos. Inútil como estratégia de difamação, o  documento acabou, porém, abrindo uma ferida na relação do novo comandante da Câmara com alguns de seus correligionários do PMDB ─  apontados como os prováveis autores do dossiê apócrifo.

VEJA teve acesso ao conteúdo de um relatório de investigação produzido pela Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados por solicitação de Henrique Alves. O documento tem cinquenta páginas e coloca a deputada Rose de Freitas, do PMDB do Espírito Santo, como suspeita de produzir e  distribuir o dossiê. Os dois peemedebistas eram adversários na disputa pela presidência. Para identificar os responsáveis, os agentes fizeram uma  varredura nas imagens captadas pelas câmeras de segurança nos momentos que antecederam a eleição. Não foi difícil chegar aos autores. A primeira pista foi fornecida pelas câmeras instaladas no prédio onde mora a deputada. Os agentes identificaram um Gol vermelho carregado com  envelopes idênticos aos que apareceram nos gabinetes. Minutos depois de deixar a residência, o carro foi filmado parado numa das entradas do  Congresso, dessa vez descarregando os envelopes. O material foi entregue a um segundo homem, que passou a distribuí-lo nos gabinetes.

Pela placa, os policiais chegaram ao motorista do carro ─ um assessor de Rose de Freitas. Intimado a depor e confrontado com as imagens, ele admitiu ter transportado os envelopes que continham a “revista” com informações sobre Henrique Alves. Os agentes também identificaram o homem filmado distribuindo os envelopes ─ outro assessor de Rose de Freitas. Este, porém, disse que os envelopes continham material de  campanha da deputada, então vice-presidente da Câmara. “O meu gabinete também recebeu o envelope”, explicou Rose de Freitas, eximindo-se de qualquer responsabilidade pelo documento apócrifo. Segundo ela, a culpa pelo dossiê, se os fatos se deram mesmo como descritos no relatório, é  de seus subalternos, que teriam agido por conta própria, sem sua autorização. “Eles já foram inclusive demitidos”, garante.

Durante as investigações, os agentes também interrogaram assessores do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), e dos deputados Izalci Lucas (PSDB- DF) e Júlio Delgado (PSBMG), que também disputou a presidência. Principal aliado de Rose na campanha, Izalci negou qualquer participação na  confecção ou distribuição do dossiê. “Não entrei nisso, não. Não faria nem se eu fosse o candidato, imagine na campanha dos outros”, ponderou o  tucano. O socialista Júlio Delgado mostrou-se surpreso com a informação de que um de seus assessores chegou a ser ouvido no caso: “Vou até  checar se o meu pessoal foi ouvido mesmo e não me contou”, disse. Eduardo Cunha, que durante a campanha chegou a se desentender com  Henrique Alves, afirmou que sua assessoria foi interrogada apenas para dar detalhes de como o material apócrifo chegou ao seu gabinete: “No dia,  eles só receberam o envelope e me entregaram. Falei imediatamente com o Henrique depois disso”. A direção da Câmara já entregou o resultado  da investigação ─ incluindo um CD com as imagens do circuito interno ─ a Henrique Alves. O relatório, embora não faça uma acusação direta,  aponta as evidências do envolvimento da deputada Rose de Freitas ─ uma suspeita que os assessores do presidente não escondiam desde que o  caso foi divulgado. De posse do documento, o presidente da Câmara procurou os colegas para avisar que o caso estava encerrado: “Já perdoei  quem fez isso comigo. Estou de alma tranquila”.

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