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Augusto Nunes

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‘Este país não era assim’: crônica de uma fila na Venezuela

Publicado no Estadão VALENTINA OROPEZA Sentado em uma cadeira dobrável para suportar a espera na fila na frente de uma farmácia em Caracas, Hernando lamenta a escassez. “Esse país não era assim. Antes tínhamos liberdade para comprar, investir e crescer”, afirmou. Há meses, filas longas, lentas e tensas antecedem a compra de produtos escassos como […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 02h03 - Publicado em 24 fev 2015, 22h55

Publicado no Estadão

Pessoas fazem fila para comprar comida em um supermercado de San Cristobal, sudoeste de Caracas (Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Pessoas fazem fila para comprar comida em um supermercado de San Cristóbal, sudoeste de Caracas (Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

VALENTINA OROPEZA

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Sentado em uma cadeira dobrável para suportar a espera na fila na frente de uma farmácia em Caracas, Hernando lamenta a escassez. “Esse país não era assim. Antes tínhamos liberdade para comprar, investir e crescer”, afirmou. Há meses, filas longas, lentas e tensas antecedem a compra de produtos escassos como leite, café, fraldas, sabão em pó ou xampu.

O governo de Nicolás Maduro diz que o desabastecimento é consequência de uma “guerra econômica” dos empresários contra a sua gestão, por meio da especulação.

O setor privado, no entanto, afirma que a escassez é resultado do controle cambial vigente desde 2003, que não garante divisas para pagamento das empresas importadoras e fomenta a corrupção e o contrabando. A queda dos preços do petróleo também contribui para o desabastecimento.

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“Agora comemos o que o governo decide colocar nas prateleiras”, comentou Hernando, depois de contar que um vendedor ambulante lhe ofereceu um pacote com 32 fraldas por 950 bolívares. Ao preço de tabela, custaria 150 bolívares.

Logo que amanheceu, a professora Lorena saiu de casa para encarar a fila da mesma farmácia, uma filial da Farmatodo – cadeia particular acusada por Maduro de promover filas para “irritar a população”.

Às 7h30 (horário local), as portas do estabelecimento foram abertas. Os empregados disseram que estava para chegar um caminhão com mercadorias. Uma hora depois, dois empregados escoltados por dois guardas saíram com três caixas de sabonete, duas de xampu e uma instrução clara: dois exemplares de cada produto por pessoa.

“Dois xampus e dois sabonetes, ganhamos na loteria”, disse Lorena, enquanto arregaçava as mangas pronta para se apoderar da sua parte de bens regulamentados pelo governo.

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Após um minuto acabou o xampu, mas ainda restava uma caixa de sabonetes. Surgiram dois agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) e pediram para o empregado da farmácia lhes entregar a caixa. O alvoroço transformou-se em silêncio, interrompido por uma compradora. “Isso é um abuso, levamos só dois sabonetes e vocês ficam com tudo!”

Os agentes, com suas armas na cintura e algemas presas no cinturão abriram caminho em meio aos compradores e desapareceram por uma porta com o aviso “somente pessoas autorizadas”.

O governo de Maduro ordenou às unidades de segurança para protegerem os estabelecimentos, enquanto funcionários impedem os repórteres fotográficos de retratarem as filas ou as prateleiras vazias.

Na mesma fila, Sofía contou que há três meses está à caça de um nebulizador contra asma. “Coloquei toda minha família e meus amigos na procura de um inalador. Estou pedindo até pelo Twitter”, disse ela.

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Diante da escassez, a estudante universitária de 23 anos pensa em viajar até a fronteira com a Colômbia. “Vou trazer inaladores para o ano todo.”

Nos mercados controlados pelo Estado, as filas são organizadas com base em números marcados no braço dos compradores ou no documento de identidade: as pessoas cujos números nas cédulas terminam em 0 e 1 podem comprar às segundas-feiras; 2 e 3, às terças e assim sucessivamente.

Alguns consumidores tentam fazer negócio com a situação. Vender o lugar na fila ou fazer o mercado e cobrar uma remuneração diária por isso são soluções encontradas para enfrentar a crise econômica no país que fechou 2014 com a inflação em 68,5%.

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