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Augusto Nunes

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‘Dois males’, por João Pereira Coutinho

JOÃO PEREIRA COUTINHO Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como dizia um conhecido conterrâneo meu. Ainda me lembro, com duas lágrimas nostálgicas, dos protestos contra Mubarak no Egito. Quem não se lembra?

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 05h48 - Publicado em 10 jul 2013, 11h11

JOÃO PEREIRA COUTINHO

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como dizia um conhecido conterrâneo meu. Ainda me lembro, com duas lágrimas nostálgicas, dos protestos contra Mubarak no Egito. Quem não se lembra?

O ditador, depois de três décadas de mando, era acossado nas ruas por milhares, milhões de manifestantes. E não houve jornalista ocidental com credenciais progressistas em dia que não tenha escrito os seus poemas em homenagem à praça Tahrir.

Eis a cabeça do progressista típico: Mubarak = Mau; Protestos = Bons; Irmandade Muçulmana = Melhor que Mubarak.

Aqui, uma pessoa alfabetizada sentia uma leve tontura intelectual. Mubarak não era flor que se cheirasse ─ um ditador é um ditador é um ditador.

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Mas os progressistas conheciam mesmo a Irmandade Muçulmana, esse brilhante grupo fundado por Hassan al Banna em finais da década de 1920 que representa tudo aquilo que a inteligência progressista abomina?

Dito de outra forma: os jornalistas que toleravam a irmandade conheciam as posições do clube sobre as relações entre o Estado e a religião, os direitos das mulheres, dos gays, das minorias religiosas, e etc. etc.?

Conheciam os atentados terroristas promovidos pelos seus líderes ou cometidos em seu nome (o palestino Hamas é apenas o melhor exemplo)?

E estariam dispostos a trocar um Egito autocrático por um Egito submetido aos preceitos da sharia (lei islâmica) sem pensar duas vezes?

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Perguntas sem sentido. Retorno ao pensamento circular do progressista circular: se Mubarak era mau e os protestos eram bons, a irmandade só poderia ser melhor que Mubarak.

Pena que os egípcios não sejam tão generosos com Mohammed Mursi, agora deposto. Conta a revista Economist que 94% da população considera os militares a instituição mais respeitável do país.

A mesma revista informa que o número de manifestantes que tomou novamente as ruas do Egito contra o faraó deposto oscila entre os 10 milhões e os 14 milhões (o país terá 81 milhões). Motivos para tanto ruído e fúria?

Todos e mais alguns. A incompetência do governo Mursi. A corrupção. A venalidade. A insegurança. A fome. A falta de energia. A violência contra minorias religiosas e étnicas. Os crimes contra mulheres ─ não, não temos espaço nesta Folha. E que dizem os progressistas de ontem sobre as manifestações de hoje?

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Estranhamente, não vi os poetas da praça Tahrir com novos sonetos sobre os descontentamentos dos egípcios.

Aliás, a julgar pelos textos publicados, parece que o golpe militar contra Mursi aconteceu por capricho ─ e não pela ruína política, econômica e social a que ele conduziu o país.

Sem falar da ruína moral: uma das suas nomeações políticas mais notáveis foi indicar Adel al-Khayat para governador da turística cidade de Luxor. Quem é al-Khayat? Digamos apenas que é alguém que entende de turismo. Ou, mais especificamente, de como rebentar com turistas. Em 1997, na mesma cidade de Luxor, foram 58 estrangeiros e 4 nativos em atentado de grupo islamita a que al-Khayat pertence.

Moral da história?

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Sim, o presidente Mursi foi eleito democraticamente ─ uma importante diferença em relação ao seu antecessor.

Mas será que a legitimidade democrática absolve qualquer governante das suas derivas antidemocráticas? Sobretudo quando entre essas derivas está o golpe constitucional de novembro de 2012, através do qual Mursi pretendia governar autocraticamente como Mubarak antes dele?

Ponto de ordem: não se trata aqui de defender o golpe militar. Trata-se, pelo contrário, de defender o direito a não se defender ninguém: nem Mursi, nem os militares, nem sequer Mubarak.

Porque sem instituições democráticas fortes ─ tradução: separação de poderes; judiciário independente; liberdade de expressão; respeito pela iniciativa privada; e etc. etc. ─ qualquer orgasmo democrático com o Egito atual corre o risco de ser apenas ejaculação precoce.

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Ao contrário do que pensam as cabeças infantis, a política não é uma luta permanente entre o bem e o mal. Às vezes, é uma luta entre dois males igualmente perversos.

E, nestas matérias, recordo sempre a sagaz observação de Kissinger sobre a guerra Irã x Iraque: “É uma pena que não possam perder os dois.”

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