‘Broche, chicote e cipó’, por Nelson Motta
Publicado no Globo desta sexta-feira NELSON MOTTA Com o encarceramento do deputado federal Natan Donadon, condenado pelo STF a 13 anos e 4 meses por corrupção, quebrou-se o tabu centenário de o Supremo não condenar um parlamentar à prisão, e abriu-se a temporada de caça a políticos corruptos, de todos os partidos. Um detalhe fofo: […]
Publicado no Globo desta sexta-feira
NELSON MOTTA
Com o encarceramento do deputado federal Natan Donadon, condenado pelo STF a 13 anos e 4 meses por corrupção, quebrou-se o tabu centenário de o Supremo não condenar um parlamentar à prisão, e abriu-se a temporada de caça a políticos corruptos, de todos os partidos. Um detalhe fofo: quando se entregou à polícia e deu entrada no presídio, Donadon fez questão de manter na lapela o broche da Câmara dos Deputados, que agora deve estar usando no seu macacão laranja.
Em seguida, o senador Ivo Cassol foi condenado pelo Supremo, por unanimidade, a 4 anos e 8 meses de prisão por fraudar licitações para empresas de parentes e amigos quando era prefeito de Rolim de Moura. Mas, assim que o Senado cassar seu mandato e o elemento começar a cumprir sua pena no regime semiaberto, dormindo na cadeia, a sua cadeira será ocupada, como se fosse hereditária, por Reditário Cassol, seu suplente e pai.
Em outubro de 2011, quando o filho se licenciou para lhe permitir desfrutar de três meses como senador da República, Reditário subiu à tribuna para defender que os presos sejam obrigados a trabalhar nos presídios para ajudar o Estado a pagar a sua manutenção, e, caso se recusem, devem ser chicoteados.
O senador Suplicy protestou: chicote não, é medieval.
Talvez Reditário nunca tenha ouvido a música “Cipó de aroeira”, de Geraldo Vandré, um clássico petista, e nunca imaginou que, se dependesse dele, um dia seu filho teria que pegar no pesado na cadeia ou receber “a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”.
Darcy Ribeiro dizia que o Senado era o céu, com a vantagem de não se precisar morrer para chegar lá. Mas, ainda melhor do que ser senador, é ser suplente, sem precisar fazer campanha, sem votos, sem nenhum compromisso, a não ser os financeiros ─ muitos suplentes financiam a campanha e recebem em troca alguns meses ou até anos de mandato do titular ─, sem qualquer qualificação ou legitimidade, e cobertos pela legalidade indecente que eles mesmos criaram, e que só agora, como medida marqueteira da “agenda positiva” do Senado, começa a acabar.
Mais espantoso que acabar é ter durado tanto.