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Augusto Nunes

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‘Alianças estratégicas’, um artigo de Roberto Pompeu de Toledo

Publicado na edição impressa de VEJA Roberto Pompeu de Toledo O jovem professor Leandro Ferro, um ativista contra maus-tratos em animais, expôs seus sentimentos com indignação, na reportagem de VEJA da semana passada sobre o sequestro dos beagles. “Quem disse que um cavalo foi feito para ser montado?”, perguntou. Ora, professor, com todo o respeito: então […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h59 - Publicado em 15 nov 2013, 17h18

Publicado na edição impressa de VEJA

Roberto Pompeu de Toledo

O jovem professor Leandro Ferro, um ativista contra maus-tratos em animais, expôs seus sentimentos com indignação, na reportagem de VEJA da semana passada sobre o sequestro dos beagles. “Quem disse que um cavalo foi feito para ser montado?”, perguntou. Ora, professor, com todo o respeito: então por que aquele dorso arqueado, um convidativo vale entre o pescoço e a garupa, tão seguro e confortável para o pouso dos humanos traseiros? Por que os flancos em suave curva, na justa medida para a acomodação das humanas pernas? Por que a passada em ritmos tão ajustados ao subir e descer do humano arcabouço que até parecem, o que monta e o que é montado, grudados um ao outro? O camelo sim, embora seja cavalgável (vá lá a palavra), obriga o humano cavalgador a sofridos contorcionismos. Do elefante nem se fala. O cavalo, diria um criacionista, não foi esculpido pelo Grande Designer para outro propósito. Mas passemos adiante. Nossa intenção é demonstrar que o cavalo não só foi feito para ser montado, mas que tira proveito disso.

As relações entre humanos e cavalos são reguladas por antiquíssimo pacto. Sinais deixados pelos freios em dentes de cavalo, descobertos por arqueólogos nas estepes do Cazaquistão, no fim da década passada, indicaram que o uso desses animais para montaria teve início por volta do ano 3.500 a.C., 1.000 anos antes do que se calculava anteriormente. O pacto, com características de aliança estratégica, data daí, e o proveito, para os humanos, foi enorme. Segundo um dos envolvidos na pesquisa, tal qual relatado na revista New Scientist (edição de março de 2009), a domesticação dos cavalos é um marco equiparável, na história da humanidade, à invenção da roda.

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Imagine-se o que seria do homem caso tivesse de esperar a invenção do trem ou do automóvel para superar a limitação de só se movimentar pelas próprias pernas. Não, não dá nem para imaginar. O homem confinado a seu canto de nascença, ou a pouco mais do que isso, teria parca ou nenhuma relação com outras tribos, não trocaria experiências que lhe permitissem acumular conhecimento, disporia de limitadas possibilidades de comércio e contaria com limitados estímulos para produzir. Tudo somado ─ inclusive a capacidade de miscigenar e de fazer guerra  ─, o homo a pé seria outra espécie, não a que resultou do homo montado. Tivesse o professor Leandro Ferro vivido numa era sem cavalos e anterior ao trem e ao automóvel, não seria capaz de correr a São Roque em socorro dos beagles.

Do lado do cavalo o pacto foi igualmente proveitoso. Livrou-o, para começar, de uma vida selvagem, que, entre outros inconvenientes, ocasiona a perene incerteza quanto à alimentação. A primeira linha do pacto com o homem é: você me dá sua velocidade, e eu lhe dou do que comer. Se pastos não fossem preservados pelo homem ─ vamos lá, aqui não é a New Scientist, são conclusões do Instituto Pompeu de Livres Especulações (Iple) ─, os cavalos, assim como os bois e as vacas, poderiam ser animais hoje em extinção. Bois e vacas têm a má sorte de ser preservados para morrer. Cavalos em alguma medida também foram e continuam sendo criados para o açougue, mas em medida maior foram poupados, por prestar os nobres serviços de oferecer montaria e de puxar carroças, e até ampliaram o pacto: além da comida, eu lhes dou o veterinário, para curar-lhes as doenças, e a estrebaria, para abrigá-los da intempérie.

Pacto similar, e de alcance igualmente estratégico, regula a relação, mais estreita ainda, entre o homem e o cão. Nós caçamos juntos e você me dá uma parte da presa. Eu vigio enquanto você dorme, e você me dá abrigo para descansar. Nós combatemos juntos o inimigo e você cuida dos meus ferimentos. Eu faço gracinhas e lambo sua mão e você me dá amor. O rompimento unilateral desse pacto é que faz as pessoas invadir um instituto de pesquisa para resgatar os cães que serviam de cobaia. O caso dos beagles mostra a primazia do pacto sobre um genérico amor pelos animais. Os invasores levaram os coelhos que encontraram, além dos cachorros, e deixaram os ratos para trás. Os coelhos é bem capaz de virem a acabar em alguma panela, e poucos se importarão com isso. Com eles não temos pacto. Os ratos estão do lado mais infame da relação humanos-animais. Virarem cobaia é até uma promoção, para eles.

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