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Difícil embate em dois polos

Não se pode depender tanto da falta de entendimento entre inimigos

Por Alon Feuerwerker Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h49 - Publicado em 12 set 2021, 08h00

Qual é hoje a situação do presidente da República no teatro de operações? Jair Bolsonaro e os dele são um grande exército, razoavelmente coeso e muito disposto a combater, mas cercado.

À esquerda estão acampadas as tropas do PT, que trabalham a favor do tempo. Têm o candidato que, por ora, aparece melhor na corrida eleitoral. Para o petismo, o ideal é nada mudar nos próximos meses. Mas esse tempo na política é mais que uma eternidade.

E a outra tropa que completa o cerco a Bolsonaro sabe que não pode deixar a inércia prevalecer, o relógio correr solto. Para não ser linha auxiliar do petismo. O assim chamado “centro” precisa criar um fato novo. Pois ambiciona o poder. Ainda que nos últimos tempos tenha tido mais sucesso em derrubar governos e menos em ganhar eleições.

Daí que esquerda e “centro” percorram estes dias com um olho no peixe e outro no gato. O peixe é Bolsonaro. O gato, para cada um deles, é o outro, o parceiro de momento da “ampla frente democrática” e inimigo já contratado para o futuro.

O adversário eleitoral mais perigoso hoje para Bolsonaro, ou alguém do grupo dele, é Luiz Inácio Lula da Silva, ou alguém apoiado pelo ex-presidente. Mas o adversário político mais letal da hora é o amálgama dos que precisam, a qualquer custo, remover o presidente da corrida para retomar o projeto de 2015/16.

Das diversas escolhas duvidosas de Jair Bolsonaro, e entre elas figuram com destaque as más avaliações e decisões sobre a pandemia, talvez a menos falada e potencialmente mais daninha tenha sido não fugir de travar a guerra em duas frentes.

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“Esquerda e centro veem um no outro o parceiro de momento e o inimigo contratado para o futuro”

Por convicção ou para satisfazer o núcleo mais fiel da sua base, o presidente buscou apertar cada vez mais o torniquete no pescoço da esquerda. E talvez não tenha alocado forças suficientes para enfrentar o inimigo político mais feroz no momento. E circunstancialmente mais perigoso, pelas conexões no establishment e influência superestrutural. Por exemplo, no Judiciário.

A esquerda não pode simplesmente abrir mão de buscar enfraquecer Bolsonaro, pois sabe que uma eventual reeleição do presidente abrirá para ela quatro anos ainda mais difíceis na luta pela sobrevivência contra o inimigo ideológico.

E a direita tradicional, hoje agrupada no chamado “centro”, precisa, como dito acima, livrar-se do presidente para melhor visualizar seu objetivo de poder.

Bolsonaro reúne por enquanto forças para resistir, por ter sólida base de massas, mas também pela falta de consenso entre os oponentes sobre como organizar o poder na ausência dele. Não há uma saída “natural”. Se um extraterrestre chegasse à Terra e pedisse para ser levado ao líder do “centro”, ninguém saberia a quem levá-lo.

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Itamar Franco foi conveniente aos adversários de Fernando Collor porque não podia concorrer à reeleição. Michel Temer acabou consolidando-se como uma boa opção para PSDB e PMDB (hoje MDB) por apresentar-se antes de tudo como uma ponte para o futuro. Ou pinguela, na fala dos mais sinceros.

E agora?

Não se sabe, mas nunca é seguro depender tanto assim da falta de entendimento entre os inimigos.

Publicado em VEJA de 15 de setembro de 2021, edição nº 2755

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