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A empatia ou a caneta?

Qual governante a turma vai culpar quando a Covid-19 passar?

Por Alon Feuerwerker Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h37 - Publicado em 15 Maio 2020, 06h00

Resiliência é a propriedade de um corpo de voltar à forma original após submetido a uma deformação elástica. Jair Bolsonaro tem isso em bom grau. E, se as últimas pesquisas mostram uma parte do “regular” migrando para “ruim/péssimo”, o “ótimo/bom” resiste. E continua pelos 30% do total do eleitorado. Mais ou menos o que o presidente teve no primeiro turno em 2018.

Bolsonaro mostrou resiliência no segundo semestre do ano passado. Pouco a pouco seus índices voltaram ao “um terço, um terço, um terço”, depois de o presidente sofrer um desgaste pontual por causa da repercussão dos incêndios na Amazônia. Mas o noticiário sobre o tema murchou, e os desgarrados acabaram retornando. Como será agora?

Diferentemente de então, as crises sanitária e econômica do momento não levam jeito de querer murchar num prazo curto. Nem médio. O Sars-CoV-2 está aí para ficar, pelo menos até surgir uma vacina e/ou a maioria da população imunizar-se contra o vírus. Isso se acharem mesmo uma vacina e/ou o vírus provocar imunização duradoura. Ninguém tem ainda certeza de nada.

Na economia, tampouco se vislumbra solução rápida. O retorno a níveis próximos aos da pré-pandemia depende muito da retomada da confiança — que será também em função de como as autoridades lidam com a Covid-19. Se esta não dá sinais de desfecho rápido, é ingenuidade imaginar empresas voltando a investir e o consumidor correndo para comprar só porque o governo mandou.

Governadores culpam o presidente por mortes, e este joga para eles a conta da depressão econômica

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Então o país e o próprio poder público precisam preparar-se para uma longa travessia. E, se as autoridades não estão assim tão empenhadas em dar a real ao povão sobre o futuro, esmeram-se em táticas que procuram transferir a fatura aos adversários. Os governadores tentando colocar a conta das mortes em Bolsonaro e este jogando para eles a conta da depressão econômica.

Por enquanto a popularidade dos governadores está anabolizada e a do presidente sofre. Mas como vai ser quando a Covid-19 virar parte da paisagem e as preocupações com a economia ganharem o palco? Bolsonaro joga com o conceito imortalizado por Cláudio Coutinho, de “ponto futuro”. Acredita que uma hora as pessoas vão lhe dar razão por não querer a paradeira.

As idas e vindas dos países na saída da crise sanitária mostram o problema econômico com mais fôlego que o sanitário. Também porque o tal achatamento da curva de contágio protege o sistema hospitalar do colapso, mas prolonga a paralisia econômica e portanto aumenta a destruição de forças produtivas. Um monte de gente vai ficar na chuva.

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Quem a turma vai culpar? Isso dependerá da contabilidade de mortos, desempregados, falidos. De como estará o espírito de quem perdeu entes queridos, perdeu o emprego ou viu a construção empresarial de uma vida ir embora. E dependerá principalmente da percepção popular sobre quanto cada líder político se preocupou em oferecer alguma solução para as perdas.

Nessa corrida, Jair Bolsonaro está em desvantagem pela evidente falta de empatia. Mas tem a vantagem da caneta, de poder fazer dívida e distribuir benefícios com mais liberdade que os governadores.

No fim, o que vai prevalecer?

Publicado em VEJA de 20 de maio de 2020, edição nº 2687

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