Pesquisadores identificam mais de 1700 vírus ancestrais em geleira da Ásia
Estudo investigou como microrganismos evoluíram frente às mudanças climáticas desde o último período glacial
À medida que as mudanças climáticas ganham força, o perigo das inevitáveis e imprevisíveis adaptações dos microrganismos também se tornam um problema iminente. Para tentar entender como esse processo ocorre, pesquisadores coletaram amostras de permafrost de nove períodos históricos diferentes e identificaram como 1 705 espécies diferentes de vírus ancestrais evoluíram para sobreviver aos climas diferentes.
A pesquisa, publicada nesta segunda-feira, 26, no periódico científico Nature Geoscience, foi feita com amostras da geleira Guliya, no Platô Tibetano, e leva 41 mil anos em consideração. Ela revela que as mudanças drásticas do clima tem um grande potencial de modificar a comunidade viral circulante, trazendo novos desafios às populações atingidas.
Isso ficou mais evidente na variação observada na amostra que corresponde a 11,5 mil anos atrás, quando o mundo passou pela transição entre o último período glacial e o Holoceno, tempo geológico que dura até hoje. “Isto sugere que as condições climáticas únicas durante os períodos frios e quentes influenciaram profundamente a composição das comunidades virais”, dizem os autores, em um artigo publicado no The Conversation.
O trabalho também fez uma outra revelação sobre os vírus ancestrais. Segundo os pesquisadores, eles conseguiam roubar genes dos seus hospedeiros, um tipo de bactéria comum nesse ambiente. Ao incorporar esses pedaços de material genético, responsáveis pelo metabolismo de vitaminas, aminoácidos e carboidratos, eles conseguiam fazer com que novas vítimas se tornassem mais resistentes a ambientes desafiadores, aumentando assim o próprio sucesso evolutivo.
O estudo ainda foi importante por aumentar em quase 50 vezes o número de registros de vírus ancestrais em bancos de dados amplamente utilizados.
Como o estudo foi feito?
Geleiras, assim como outros permafrosts (regiões que ficam congeladas de maneira perenes), são bons registros históricos porque elas mantêm preservadas amostras do ar e do ambiente que foram se depositando ao longo do tempo.
A identificação de microrganismos é feita utilizando a técnica de metagenômica, que sequencia todo o material genético presente em um determinado ambiente e, só posteriormente, designa a espécie a qual ele pertence.
Através dessa investigação, será possível aumentar a rastreabilidade desses seres, além de entender melhor como os microrganismos circulantes hoje podem ser modificados frente aos desafios climáticos que estão em curso.