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Obra romana de 2.000 anos é reconstruída peça por peça em Londres

Fragmentos de pintura mural foram remontados por arqueólogos e revelam cenas luxuosas, grafites antigos e até a assinatura incompleta de um artista

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 jun 2025, 14h44 - Publicado em 25 jun 2025, 14h44
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Um dos maiores conjuntos de afrescos romanos já encontrados no Reino Unido acaba de ser parcialmente reconstruído por arqueólogos em Londres — e revela não apenas cenas deslumbrantes de instrumentos musicais, flores e pássaros, mas também pistas sobre a identidade de quem os pintou há quase dois mil anos. O material estava em milhares de fragmentos enterrados em Southwark, região que hoje passa por revitalização urbana e que, na Antiguidade, abrigava uma área nobre da Londres romana.

As pinturas estavam espalhadas por cerca de vinte paredes internas de uma luxuosa residência romana construída entre os anos 43 e 150 d.C. e demolida pouco antes do ano 200. Os restos, quebrados e jogados em uma cova durante obras de renovação romanas, foram encontrados por especialistas do Museu de Arqueologia de Londres (MOLA), que desde 2021 vêm trabalhando na escavação da área chamada Liberty of Southwark.

Como foi feita a reconstrução da obra?

O responsável por montar o que vem sendo chamado de “quebra-cabeça mais difícil do mundo” é Han Li, especialista em materiais de construção antigos. Ele passou meses identificando, agrupando e encaixando manualmente os fragmentos de gesso pintado, muitos deles extremamente frágeis e misturados a pedaços de diferentes cômodos. Ao final, imagens começaram a emergir: liras, frutas, guirlandas e até pássaros pintados com tons vivos de amarelo, rosa e verde.

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A reconstrução permitiu à equipe do MOLA, com apoio da British School at Rome — centro britânico de pesquisa voltado à arqueologia e à história da arte —, desenvolver ilustrações digitais e em aquarela de como esses murais decoravam os cômodos da casa. As cores e padrões indicam que os pintores se inspiraram em estilos encontrados na Alemanha e França romanas, como os de Xanten, Colônia e Lyon. Alguns fragmentos imitam pedras de luxo, como o pórfiro egípcio e o mármore amarelo africano, reforçando a hipótese de que o proprietário da casa era alguém de status elevado.

A assinatura perdida de um artista romano

Entre os achados mais notáveis está uma tabuleta decorativa — chamada de tabula ansata — com a inscrição “FECIT”, que em latim significa “fez isto”. Trata-se de um tipo de assinatura usada por artistas romanos, e é a primeira já encontrada na Grã-Bretanha. O fragmento, porém, está quebrado exatamente onde deveria aparecer o nome do autor, o que impede sua identificação completa.

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Fragmentos da pintura mural com a inscrição “FECIT” — “fez isto”, em latim —, usada por artistas romanos para assinar suas obras. (MOLA/Reprodução)

Além disso, um pedaço de gesso traz gravado o alfabeto grego quase completo, uma raridade em solo britânico e possivelmente usado como referência ou controle de estoque, sugerindo que o imóvel também podia ter função comercial. Há ainda rabiscos curiosos, como a figura de uma mulher chorando — talvez uma cena artística inacabada — e esboços geométricos não utilizados pelos pintores, indicando etapas do processo criativo.

Fragmento de gesso com inscrição do alfabeto grego gravada à mão, possivelmente usada como referência prática no cotidiano romano.
Fragmento de gesso com inscrição do alfabeto grego gravada à mão, possivelmente usada como referência prática no cotidiano romano. (MOLA/Reprodução)
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Por que essa descoberta importa?

A riqueza de detalhes e a excepcional preservação dos fragmentos revelam não só aspectos estéticos da elite romana, mas também suas conexões com o restante do império. A equipe de arqueólogos acredita que os artistas que trabalharam no local faziam parte de um grupo itinerante especializado em murais de prestígio, contratados para decorar casas luxuosas durante o período de crescimento urbano de Londinium, como era chamada a capital britânica pelos romanos.

A expectativa é que parte do material seja futuramente exibida ao público. Por ora, a busca pelo fragmento perdido que pode conter o nome do artista continua — peça-chave para personalizar ainda mais uma história que, após 2.000 anos enterrada, volta a ganhar cor.

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