Microrganismos vivos são descobertos no deserto mais seco do mundo
O Atacama, no Chile, guarda uma diversidade de seres microscópicos que podem ajudar na formação do solo
O Chile guarda um dos locais mais extremos da Terra. Intocado por processos erosivos há mais de 150 milhões de anos, o Deserto do Atacama é um dos locais mais antigos e mais secos do planeta, com cerca de um episódio de chuva a cada década. Isso não impede, no entanto, que a vida prospere: um estudo recente aponta que o local é o habitat para uma grande diversidade de microrganismos.
Esse dado foi revelado por um artigo publicado no periódico científico Applied and Environmental Microbiology. De acordo com os autores, até nas áreas mais inóspitas, cerca de 60 quilômetros para dentro do deserto, há uma diversidade de bactérias, que podem ter um papel essencial na conversão desse solo – mas isso só foi possível devido a um processo inovador de análise.
O que os microrganismos fazem no deserto?
Esses microrganismos não estão espalhados pelo deserto de maneira homogênea. Enquanto as regiões mais periféricas e mais úmidas têm uma maior diversidade de microrganismos, as regiões chamadas de hiperáridas tem apenas microrganismos especializados nesses ambientes, como s grupos de Acidimicrobiia, Geodermatophilaceae, Frankiales e Burkholderiaceae.
Esses seres desempenham papéis importantes na transformação desse substrato, favorecendo a formação de solo, a fixação de carbono e o intemperismo mineral, o que pode, no futuro, fazer com que esse seja um ambiente mais fértil. “Os micróbios são os pioneiros colonizando esse tipo de ambiente e preparando o solo para a próxima sucessão de vida”, diz Dirk Wagner, autor do estudo, em comunicado. “Isso também pode se aplicar a novos terrenos que se formam após terremotos ou deslizamentos de terra, onde você tem mais ou menos a mesma situação, um substrato mineral ou rochoso.”
Qual a inovação deste estudo?
Hoje, existem diversos métodos convencionais para fazer essa investigação e eles se baseiam em material genético – basicamente, os pesquisadores coletam amostras de um ambiente, purificam o DNA (removendo impurezas) e analisam de que organismo é aquela sequência.
Há, no entanto, um problema. “Se você extrair todo o DNA, terá DNA de organismos vivos e também DNA que pode representar organismos que acabaram de morrer ou que morreram há muito tempo”, explica Wagner. Assim, mesmo que outras análises já tivessem sido feitas no Atacama, era impossível saber quanto daquele material vinha de seres viáveis.
O trabalho mais recente, contudo, resolveu esse problema. Durante o processo de análise, os pesquisadores conseguiram separar as células inteiras antes de purificar o DNA e remover as impurezas. Assim, foi possível saber qual material genético estava no ambiente, e qual estava dentro das células – e, portanto, tinha origem em seres vivos.
No futuro, estudos chamados de metagenômica serão realizados. Através deles, é possível investigar toda a comunidade de microrganismos e ter uma ideia de função que eles desempenham.