Lagarta ‘colecionadora de ossos’ usa restos de suas presas para camuflagem
Nova espécie rara descoberta no Havaí se alimenta de insetos mortos e decora sua carapaça com partes dos corpos das presa

Uma lagarta carnívora que vive entre teias de aranha e se disfarça com os restos das presas que consome. A descrição parece saída de um filme de terror, mas retrata com precisão o comportamento de uma espécie recém-descoberta no Havaí, descrita nesta quinta-feira (24) na revista Science. Apelidada de bone collector — algo como “colecionadora de ossos” —, a lagarta não apenas se alimenta de outros insetos, como também utiliza suas partes para camuflar o próprio corpo e evitar predadores.
Como vive essa lagarta carnívora?
A espécie foi observada em teias de aranha dentro de cavidades de árvores, rochas e troncos caídos em uma pequena faixa de floresta montanhosa na ilha de Oʻahu. Ali, em vez de folhas, ela se alimenta de insetos fracos ou mortos que ficam presos nas teias, chegando a romper os fios pegajosos para alcançar a refeição. Em seguida, incorpora pedaços dos corpos ao seu invólucro de seda — uma estrutura que protege a lagarta durante o estágio larval — criando uma espécie de armadura grotesca feita de exoesqueletos, asas e pernas de formigas e moscas.
Essa decoração não é aleatória. Os cientistas notaram que a lagarta seleciona e posiciona cuidadosamente os fragmentos, chegando a roê-los para ajustar o tamanho e o encaixe perfeito na estrutura. Testes mostraram que ela rejeita qualquer outro tipo de material: só partes de insetos servem como adorno.

Um comportamento raro e ameaçado
Cerca de 200 mil espécies de borboletas e mariposas são conhecidas atualmente, e menos de 0,1% delas são carnívoras. Ainda mais incomum é encontrar uma que combine alimentação predatória com um comportamento tão elaborado de camuflagem. Segundo os pesquisadores, só uma espécie como essa foi encontrada após mais de duas décadas de busca — e apenas 62 indivíduos foram identificados nesse período.
A espécie, que pode ter surgido há mais de 6 milhões de anos, é mais antiga do que a própria ilha em que vive. Hoje, ela está restrita a uma área de apenas 15 km², tornando-se extremamente vulnerável à extinção. Entre os fatores de risco estão a destruição do habitat e a presença de espécies invasoras.