Enigma: revelados os segredos do peculiar lago australiano
Além de não ser completamente congelado, corpo de água salgada guarda formas únicas de vida
A região mais ao sul da Austrália, na porção antártica do país, guarda um dos lagos mais curiosos já descobertos: perenemente congelado, o Enigma é, não apenas o maior da Austrália, mas também o maior lago salgado do mundo. Por muito tempo, especialistas acreditaram que se tratava de um corpo inteiramente sólido, completamente congelado, mas um estudo divulgado agora revela que ele possui, na verdade, uma grande porção líquida, que guarda em si um ecossistema único.
A descoberta foi publicada nesta terça-feira, 3, no periódico Communications Earth & Environment, do grupo Nature. De acordo com o artigo, sob os 11 metros de gelo, há uma porção líquida de pelo menos 12 metros de profundidade. E ainda: vive nessa porção do lago uma comunidade bacteriana única, que provavelmente está isolada do resto do mundo há milênios.
Como pode haver bactérias num lago congelado?
Ao longo do ano, o lago passa por temperaturas entre -14 e -40,7 graus celsius, o que faz com que ele esteja sempre congelado. Esse gelo, no entanto, funciona como uma caixa térmica que mantém a porção líquida numa temperatura mais ou menos constante, que permite que ela não congele.
Os pesquisadores analisaram amostras dessa água e viram que ela guarda um ecossistema diferente de outros conhecidos. Além de bactérias únicas, impossíveis de serem encontradas em outros lugares da Terra, o local ainda possui uma grande quantidade de seres do superfilo Patescibacteria, um tipo bacteriano de células muito pequenas, cuja atividade celular é muito pequena.
A presença dessas bactérias faz sentido, já que esse é um local chamado de oligotrófico, ou seja, com pouquíssimos nutrientes, o que faz com que seres que demandem menos alimentos e sejam mais eficientes em suas atividades se adaptem melhor. “No geral, a microbiota do Lago Enigma ocupa diferentes níveis tróficos dentro de uma teia alimentar aquática simples”, escrevem os autores. “A ultrapequena Patescibacteria em particular pode desempenhar papéis incomuns no ecossistema do lago que não ocorrem em outros lagos antárticos cobertos de gelo.”
Pesquisas futuras vão tentar entender melhor a ecologia desse lago, assim como tentar entender se sistemas parecidos ocorrem em outros lugares. O mais interessante, contudo, são as possibilidades que essas novas espécies podem trazer para a ciência.