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Alberto Carlos Almeida

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Opinião política baseada em fatos

O eleitorado do PSDB foi transplantado para Bolsonaro

O transplante foi possível porque o PSDB resolveu doá-lo inadvertidamente

Por Alberto Carlos Almeida Atualizado em 4 dez 2019, 17h13 - Publicado em 4 dez 2019, 17h08

Pensando na eleição de 2022, uma das vagas no segundo turno tende a ser de Bolsonaro. É muito difícil que um presidente da república que disputa uma reeleição fique fora do segundo turno. Outro motivo que me faz pensar assim é que o eleitor que levou Bolsonaro ao segundo turno em 2018 foi do mesmo eleitorado que levou o PSDB ao segundo turno em quatro eleições contra o PT e foi determinante para que o candidato tucano, Fernando Henrique, vencesse no primeiro turno duas eleições presidenciais. O eleitorado do PSDB foi transplantado para Bolsonaro em 2018. Em meu livro O voto do brasileiro previ que o segundo turno de 2018 seria entre PT e PSDB. A previsão, feita com mais de um ano de antecedência, foi 50% correta e 50% errada. A imprecisão ocorreu no nome próprio de um dos que iria disputar o segundo turno. Em vez do nome próprio ter sido PSDB, foi Bolsonaro.

 

Contudo, a previsão sem nome próprio foi 100% correta. O livro mostra quais os eleitorados da esquerda e quais os eleitorados da direita nos mínimos detalhes, município por município. Essa divisão entre direita e esquerda prevaleceu em todas as eleições, desde 1994. Alem dessas duas faixas, existiu sempre cerca de um terço dos eleitores que oscilaram entre um lado e outro, conforme a eleição. Quanto a este aspecto, o livro não poderia ter sido mais certeiro. A questão que se coloca é o que o PSDB fez ou deixou de fazer que permitiu que seu eleitorado fosse transplantado por inteiro para Bolsonaro.

Talvez o PSDB tenha começado a cavar seu túmulo da eleição presidencial no dia em que Dilma foi reeleita em 2014. A partir dali, liderado por Aécio Neves, o partido passou a questionar o resultado da eleição. Considero surpreendente que Aécio, neto de Tancredo Neves, um dos políticos mais sábios do Brasil e um grande democrata, tenha feito o que fez. Certamente Tancredo se revira no túmulo até hoje por causa desse seu comportamento.

Quando Aécio colocou em dúvida a lisura da eleição de 2014 ele cometeu o erro crasso de fragilizar a democracia e o sistema político. Ele disse para todos os seus eleitores não reconhecerem o resultado das urnas, disse que o processo eleitoral tinha fraudado a vontade dos eleitores. Ele estava plantando a semente que veio a ser regada com muito empenho pela Lava Jato: a semente do descrédito dos políticos.

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Aécio abriu assim as portas da radicalização pela direita, ele convocou o eleitorado fiel ao PSDB a se tornar mais radical, radical ao ponto de apoiar e ser simpático à ideia de fraude do processo eleitoral. Aécio e o PSDB não pararam aí.

Eles incentivaram sobremaneira o discurso radical contra o PT pela direita ao apoiarem várias pautas-bomba que inviabilizaram completamente o Governo Dilma. Ao votar a favor das pautas-bomba, que resultavam na piora da situação fiscal do Brasil, eles estavam dizendo para seus eleitores: não importam os meios, o fim último, o fim maior é prejudicar o Governo Dilma. A mensagem era clara: a finalidade era tão somente criar os maiores problemas possíveis para Dilma e o PT, mesmo que para isso ele e seu partido apoiassem decisões que arrastavam o país para o desfiladeiro fiscal.

Aécio e o PSDB abandonavam assim todo o discurso que caracterizava o partido, de responsabilidade fiscal, de estabilidade na economia e segurança jurídica, pontos que haviam defendido a vida inteira e iam contra suas ideias e princípios, apenas para que isso cumprisse o objetivo maior de derrubar o governo do PT.

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Outro movimento importante foi o apoio determinado ao impeachment. Todo o eleitorado de Aécio e do PSDB se lembra dele vestido de camisa amarela, acompanhado de Alckmin e Serra na Avenida Paulista, pedindo o afastamento de Dilma. Aécio também foi estrela em outros comícios e manifestações a favor do impeachment, como um ocorrido no Rio de Janeiro.

Paralelamente a isso, a Lava Jata liderada por Sérgio Moro apertava o cerco contra o PT e contra Lula. A grande cobertura midiática da operação jogava quase todo o sistema político, em particular o PT, na vala da corrupção. É fato que até certo momento Aécio não estava nesta vala. Melhor ainda, Aécio comparecia aos mesmos eventos que Sérgio Moro e era fotografado ao seu lado em meio a troca de cochichos e sorrisos. Sua proximidade simbólica a Sérgio Moro era mais um fator que levava seu eleitorado a radicalizar.

O que defendo aqui é que a radicalização do eleitorado de direita, antes que Bolsonaro aparecesse, foi promovida por diversas ações de Aécio e do PSDB a partir do resultado da eleição de 2014 até, pelo menos, 2016. Foram dois anos de esmero, dois anos levando seus liderados a se tornarem mais e mais radicais. Quem não se lembra da posse de Michel Temer como presidente logo após o impeachment de Dilma? Quem não se lembra da foto repleta de homens brancos e mais velhos? Naquele evento Aécio se comportou como se fosse primeiro-ministro. Era maio de 2016.

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Pouco menos de um ano mais tarde, em março de 2017, Aécio sucumbiria ao que eu costumo chamar de Joesley Day: grampos e gravações de diversas conversas telefônicas nas quais Aécio negociava milhões em reais e brincava com a conveniência de matar um eventual delator, que era seu primo.

O arauto da moralidade, o cavaleiro antipetista, o líder da radicalização deixaria órfão, a partir daquele episódio, o seu eleitorado. O quase vencedor da eleição de 2014 estava soterrado, abrindo caminho para que Geraldo Alckmin assumisse a candidatura de um PSDB combalido pelo escândalo que envolvera Aécio. O Joesley Day foi responsável pela debacle tanto de Aécio quanto do PSDB. Porém, só viríamos saber disso na eleição de 2018.

Todos os meus estudos que relacionam avaliação de governo e voto mostram que o ótimo e bom de um governante tem que estar no mínimo em 45% para que ele comece a ser competitivo em uma eleição. Digo isso porque Geraldo Alckmin, como governador de São Paulo, tinha um ótimo e bom girando em torno de 36%. Não era uma avaliação ruim, mas também não era grande coisa. Esse nível de avaliação indicava que o eleitorado de seu estado não estava insatisfeito com seu governo, mas também não estava empolgado com ele.

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Esse foi o último e derradeiro ingrediente que pavimentou o transplante do eleitorado do PSDB para Bolsonaro. Recapitulando: Aécio e o PSDB radicalizaram a partir do dia em que Dilma foi reeleita. Pediram a anulação da eleição, promoveram pautas-bomba, lideraram as manifestações a favor do impeachment, aproximaram-se de Sérgio Moro, foram a público louvar a Lava Jato. Tudo isso levou seus eleitores mais para a direita, em particular os de São Paulo.

Por outro lado Aécio foi pego em áudios demasiadamente comprometedores, que carimbaram nele e no PSDB a pecha de corruptos, e Alckmin não vinha fazendo em São Paulo um governo bem avaliado. Eleitor radical, a favor da Lava Jato, contra o PT, tendo como opções Aécio e o PSDB, considerados corruptos e um Alckmin chocho, preferiu ficar com a direita raiz, foi de Bolsonaro. Bolsonaro fez mais de 46% dos votos no primeiro turno e Alckmin ficou com menos de 5%.

Os mapas eleitorais de meu livro O voto do brasileiro quando colocados ao lado do mapa eleitoral do segundo turno da eleição de 2018 revelam o óbvio: o segmento do eleitorado que votou no PSDB por seis eleições seguidas migrou para Bolsonaro. E continua apoiando o seu governo. Mais do que isso, o governo Bolsonaro tem dezenas de técnicos de segundo escalão anteriormente ligados ao PSDB, que não escondem de ninguém que apoiam a política econômica de Bolsonaro e se sentem muito à vontade com isso. Não será fácil para o PSDB reconquistar o eleitorado que lhe deu duas vitórias presidenciais e o colocou como segundo colocado em quatro outras. Esse lugar está devidamente ocupado por Bolsonaro, com a ajuda do PSDB.

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