Não troque seu iPhone (ainda)
Hoje, a Apple lançou um iPhone mais barato, e menor, além de um novo modelo de iPad Pro. Como de costume, vendeu as novidades como as “maiores coisas que você já viu até agora”. Só que, sempre que assisto aos eventos da Apple, é inevitável me lembrar de uma conversa que tive há quatro anos […]
Hoje, a Apple lançou um iPhone mais barato, e menor, além de um novo modelo de iPad Pro. Como de costume, vendeu as novidades como as “maiores coisas que você já viu até agora”. Só que, sempre que assisto aos eventos da Apple, é inevitável me lembrar de uma conversa que tive há quatro anos com uma jovem pesquisadora da celebrada universidade americana MIT, Nadya Peek. O que ela me disse, e que perdura hoje (e, chuto, sempre continuará): “cara, não troque seu celular sempre que lançam um novo”.
À época, Nadya tinha aparecido na mídia especializada por ter desenvolvido uma impressora 3D barata e que era transportada em uma maleta. Estávamos lá para falar disso. Contudo, conversa vai, conversa vem, e começamos a papear sobre iPhones. Eu exibia um novo modelo, o 5, que acabara de chegar às lojas. Ela era dona de um iPhone 3G (nem era 3GS).
– A verdade é que nada de substancial muda pulando uma ou duas gerações do aparelho. Pra valer, só há algo novo depois de uns três, quatro, anos – apontava Nadya – De resto, é marketing.
Nisso, ela me mostrou um iPhone 3G aberto, exibindo a estrutura (lembrete: trata-se de uma pesquisadora do MIT).
– Se você checa um 3G por dentro, ou um 5, quase tudo é igual. A experiência não muda para quem usa – completou – Não cairei nessa enganação.
Convenhamos, caso você já tenha trocado de smartphone mais de uma vez, deve ter notado o mesmo. Nada muda. Ok, pode ser um pouco mais rápido, ou ter uma função bacaninha, como a de sentir variações da pressão do toque na tela. Agora, isso vale seu dinheiro?
Caso queira ter um bom padrão tecnológico para trocar seu smartphone ou tablet, sugiro seguir a Lei de Moore, do americano Gordon Moore, fundador da Intel. Lá nos anos 60, ele já previa que a capacidade de processamento de aparelhos computadorizados dobraria, sem aumento de custo, a cada dois anos (mais ou menos). O tempo mostrou que ele estava certo de diversas formas. Esse não é só um bom prazo para estipular quando há um salto real em uma tecnologia de processamento, como em tudo que abrange um novo dispositivo – qualidade gráfica, software etc. Ou seja, dois anos é um bom tempo para ficar com um celular que acabou de comprar.
A mim parece, inclusive, que os consumidores estão cansados de tantas atualizações de produtos, de seis em seis meses, como de praxe. Em uma reportagem recente que assinei em VEJA, destaquei uma pesquisa da organização americana Underwriters Laboratories, segunda a qual metade das pessoas acreditavam que fabricantes se excedem ao lançar modelos novos de produtos mais rapidamente do que se precisa deles. Isso não quer dizer que a outra metade gosta das novidades incessantes – na real, a maioria desses deveria ser indiferente ao assunto.
Em relação às novidades da Apple, recordo que já no lançamento do iPhone 5 haviam muitas reclamações sobre como ele não trazia inovações substanciais. Circulava pela internet, então, um meme no qual Bill Gates, representando a Microsoft, questionava Steve Jobs, ícone da Apple: “Qual é sua estratégia para vender mais?” A resposta: “Vou aumentar um pouquinho o tamanho de meu smartphone antigo.” Hoje, a lógica se inverteu. Caso Tim Cook, CEO da companhia, fosse perguntado “qual é sua estratégia para vender mais?”, provavelmente responderia “vou diminuir um pouquinho o iPhone 6S”. Foi o que aconteceu.
Casey Newton, jornalista do The Verge, fez uma boa piada sobre essa nova “fase de diminuição” da marca da maçã: “Eu gosto desse ciclo estilo Benjamin Button (aquele filme do Brad Pitt) da Apple. No próximo ano ela vai argumentar que a maioria das pessoas odeia realizar chamadas de telefone e irá lançar um velho iPod.”
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