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A boa e velha reportagem

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Conheça o movimento radical islâmico anti-jihadista

Toda vez que um grupo islâmico comete um atentado terrorista, os muçulmanos moderados ouvem o questionamento: por que não fazem nada?

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 set 2017, 13h33 - Publicado em 4 jan 2016, 11h18
Radicalismo pacíficoMuçulmano lê o Corão em uma mesquita em Bangladesh, onde todos os anos ocorre o maior evento do Dawah Tabligh (Foto: Abdul Aziz Apu)

Toda vez que um grupo islâmico comete um atentado terrorista, os muçulmanos moderados ouvem o questionamento: por que não fazem nada, por que não combatem o jihadismo (a concepção de que tudo e todos que não obedecem a uma visão fundamentalista da religião devem ser destruídos)? Pela lógica, não faz mesmo muito sentido esperar que os moderados tenham influência sobre o radicais e que sejam capazes de demovê-los da violência. Os moderados são, por definição, aqueles que não fazem uma interpretação estrita do Islã. Exatamente por isso, são desprezados pelos radicais. E se houvesse um movimento fundamentalista que recusasse a violência como método e o poder político como fim? Pois existe. A questão é saber se ele ajuda a impedir que jovens muçulmanos se juntem a grupos como o Estado Islâmico e a Al Qaeda ou se, ao contrário, apenas serve como mais uma porta de entrada para o radicalismo.

O nome desse movimento é Dawah Tabligh (“Chamado e Proseilitismo”, em árabe), e foi fundado na Índia, em 1927, por Mohammed Ilyas Kandhlawi. O jornalista Taylor Luck, do The Christian Science Monitor, fez um mergulho nas motivações, nas ideias e nos métodos do Dawah Tabligh, cujo resultado pode ser conferido aqui.

Um dos trechos mais interessantes da reportagem é a descrição de uma cena, aparentemente testemunhada pelo repórter, que se desenrolou em um apartamento em Amã, capital da Jordânia. Três militantes do Dawah Tabligh estão na sala diante de um jovem que quer se juntar a algum grupo jihadista na Síria (ele ainda não decidiu qual). Eles tentam convencê-lo, usando argumentos teológicos, a não ir. “A jihad (guerra santa) não é feita em campos de batalha, e sim nos corações de homens e mulheres, muçulmanos e não-muçulmanos. Dawah é a jihad”, diz um deles. O jovem cita um verso do Corão que chama à luta armada. O militante do Dawah replica dizendo que as guerras que afligem o mundo islâmico são um sintoma de algo maior, que é o abandono do verdadeiro Islã pelos muçulmanos.

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Na visão do movimento, as causas políticas — e nisso vão totalmente contra os objetivos de grupos como Irmandade Muçulmana, Al Qaeda e Estado Islâmico — são distrações do “caminho divino para a harmonia islâmica” (para citar um trecho da reportagem de Luck). O Dawah Tabligh quer que os muçulmanos rejeitem a vida moderna e vivam como nos tempos de Maomé (na medida do possível), mas defende que isso deve ser alcançado no nível pessoal e espiritual, não pegando em armas ou instituindo a religião de cima para baixo, valendo-se do controle do Estado. A militância no Dawah Tabligh se dá por meio do proselitismo, que consiste basicamente em ir de porta em porta convocando as pessoas a se juntar ao movimento. Os seguidores devem se dedicar a recrutar novos fiéis três dias por mês, 40 dias consecutivos por ano e, uma vez na vida, durante quatro meses seguidos. Esses trabalhos missionários são chamados de kharooj.

O Dawah Tabligh é fundamentalista até a medula: assim como outros radicais islâmicos, seus integrantes rejeitam o estilo de vida ocidental, a música secular e a TV e não aceitam que as mulheres apareçam em público sem o véu completo, que cobre corpo, cabeça e rosto. Exatamente por essas características, seus integrantes acreditam que podem ser uma alternativa pacífica para jovens radicais que se sentem tentados a unir-se a grupos como o Estado Islâmico.

Da mesma forma que se apresenta como uma porta de saída do jihadismo, porém, o Dawah Tabligh também pode ser uma porta de entrada para o radicalismo islâmico, e daí para grupos violentos. Mohammed Sidique Khan, que participou dos atentados de Londres, em 2005, e John Walker Lindh, que lutou com o Talibã no Afeganistão, frequentaram encontros do Dawah nos Estados Unidos antes de migrar para grupos jihadistas.

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O Dawah Tabligh é um movimento que cresce rapidamente, especialmente em países como o Egito, onde grupos islamistas como a Irmandade Muçulmana estão em decadência. O maior encontro ocorre anualmente em Bangladesh, com cerca de 5 milhões de participantes.

O fundamentalismo islâmico pode ser um antídoto para o terrorismo islâmico?

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