Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Vagando pelo espaço: os detritos que ameaçam astronautas

Satélites desativados, restos de foguetes e peças de aeronaves põem em risco missões para outros planetas

Por Sabrina Brito Atualizado em 2 out 2020, 11h03 - Publicado em 2 out 2020, 06h00

No filme Gravidade, vencedor de sete estatuetas do Oscar, dois cientistas ficam à deriva no espaço depois de colidir com um satélite desativado. Por um triz, algo parecido não ocorreu na vida real. No dia 22 de setembro, três astronautas (um americano e dois russos) tiveram de buscar abrigo em um anexo da Estação Espacial Internacional para se proteger de uma possível trombada com detritos espaciais. Para evitar a tragédia, operadores em solo terráqueo alteraram a rota da EEI e afastaram os tripulantes do perigo. Mas a segurança deles — e dos próximos cosmonautas — está longe de ser garantida. Isso porque flutuam no espaço, em uma faixa de 160 a 2 000 quilômetros acima da Terra, todo tipo de satélite (ativo ou não), restos de foguetes e peças de aeronaves já enviadas ao espaço. Juntos, eles somam 170 milhões de objetos, que formam o que se chama de lixo espacial.

A maior parte desses detritos é minúscula: partículas de tintas de foguetes e pedaços milimétricos de antenas, por exemplo. Estima-se que 95% deles não possuam nenhuma função além de vagar sem destino no infinito. No entanto, segundo calcula a Nasa, a agência espacial americana, mais de 500 000 desses artefatos são maiores do que bolas de gude, o representa um perigo real para naves espaciais e, acima de tudo, astronautas em órbita. Os destroços, afinal, voam numa velocidade até dez vezes maior do que balas de revólver, e o encontro com outros viajantes celestes seria devastador.

Com o aumento expressivo do número de satélites e naves enviados ao espaço — são 400, em média, por ano, mas chegarão a 1 100 até 2025 —, o problema está ficando sério. “No curto prazo, há dois grandes desafios envolvidos”, disse a VEJA William Schonberg, professor de engenharia da Missouri University of Science and Technology e consultor da Nasa. “Do ponto de vista da engenharia, precisamos desenvolver naves resistentes a colisões, mas ao mesmo tempo leves para voar bem.” Segundo o especialista, o outro aspecto envolve questões legais. Se um satélite, digamos, chinês bater em uma nave americana, de quem será a responsabilidade por eventuais danos? Por ora, não há resposta para essa pergunta.

SUCATA - Sputnik 1: lançado em 1957, o satélite russo ainda está em órbita – (Sovfoto/Universal Images Group/Getty Images)

O que sabe é que os cientistas espaciais precisam encontrar uma saída, e rapidamente. Muitos projetos já foram propostos para “limpar” a órbi­ta terrestre, com governos até considerando a possibilidade de oferecer prêmios a entidades que se dispusessem a coletar os escombros espaciais. Outra ideia é lançar uma espécie de “satélite-­lixeiro”, que seria capaz de apanhar os detritos. Tudo isso, obviamente, exigiria grandes investimentos e cooperação internacional, ativos em falta no mundo atual.

Continua após a publicidade

Enquanto nenhum projeto sai do papel, algumas organizações têm se dedicado a enfrentar o problema. É o caso da Rede de Vigilância Espacial dos EUA, que pretende catalogar os objetos perdidos no espaço. Já a Agência Espacial Europeia vem planejando, desde 2012, uma missão que tem por meta remover grandes pedaços de lixo espacial da órbita da Terra. De acordo com a programação, o plano será posto em prática em 2021.

Alguns obstáculos podem impedir que projetos desse tipo sejam bem-sucedidos. Como grande parte dos detritos é resultado de criações e tecnologias nacionais, outros países podem não dar autorização para terceiros recolhê-los. Uma segunda dificuldade diz respeito a aspectos econômicos. A limpeza do espaço poderá custar bilhões de dólares, e é incerto que traga retornos financeiros. Como se sabe, não há país ou empresa no mundo que se disponha a rasgar dinheiro.

Os que permanecem insensíveis à questão devem ter em mente que o custo pode ser maior quanto mais tempo os especialistas levarem para eliminar o lixo espacial. Apenas a Estação Espacial Internacional, um dos maiores experimentos científicos já realizados, consumiu 150 bilhões de dólares em investimentos. E se ela for danificada em uma colisão? Ou, mais grave ainda: e se um astronauta perder a vida? Embora essas perguntas continuem sem respostas, a verdade é que as nações precisam agir logo — pelo bem de toda a humanidade.

Publicado em VEJA de 7 de outubro de 2020, edição nº 2707

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.