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Um dos inventores do transistor era racista, diz revista científica

Editorial da 'Science' expõe faceta preconceituosa de William Shockley e diz que colocará aviso em textos sobre físico ganhador do Prêmio Nobel

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 nov 2022, 16h01

Em 1947, os físicos americanos John Bardeen (1908 – 1991), William Shockley (1910 – 1989) e Walter Brattain (1902 – 1987) estavam trabalhando em um estudo sobre as propriedades do silício quando descobriram que o elemento tinha a propriedade de amplificar a corrente elétrica ou barrar a sua passagem. Assim nasceu o transistor, dispositivo que formou a base da maioria das tecnologias eletrônicas nos últimos 75 anos. Uma invenção tão revolucionária que permitiu o avanço de muitas facilidades cotidianas, como ler este texto em um computador ou um smartphone. Pelo feito, receberam o Prêmio Nobel de Física de 1956, um reconhecimento que projetou suas carreiras. No caso de Shockley, até demais. Na parte final de sua vida, o cientista usou o prestígio acumulado para escrever textos acadêmicos validando ideias racistas e a eugenia.

Em uma edição especial dedicada à efeméride do transistor, a revista Science publicou um editorial a respeito de Shockley e sua faceta preconceituosa. Assinado pelo químico e empresário americano Herbert Holden Thorp, editor-chefe da publicação científica, o texto reconhece as contribuições dele para o progresso da tecnologia e da indústria eletrônica. No entanto, Thorp não se furta a lamentar que nos seus últimos anos o cientista tenha se dedicado a promover ideias “argumentando que QIs mais altos entre os negros estavam correlacionados com maiores extensões de ascendência caucasiana e defendendo a esterilização voluntária de mulheres negras”.

Além de colocar uma lente de aumento nas posições condenáveis de Shockley, o editor-chefe da Science faz um longo mea culpa. Ele admite que a publicação não tratou o físico como aquilo que realmente havia se tornado, “um charlatão”. Já em 1968, a revista publicou uma carta em que se lamentava o fato de ele ter sido proibido de falar no Instituto Politécnico do Brooklyn, em Nova York, sob a justificativa frágil de que “estava simplesmente fazendo perguntas sobre o papel da raça na inteligência”. Mas ele simplesmente não tinha nenhuma base científica ou tese revisada para fazer tais afirmações.

Thorp afirma que o debate e a divulgação científicos não são os únicos objetivos de uma publicação como a Science. É preciso, diz ele, reforçar a ideia de que a defesa da humanidade orienta os seus princípios. “O processo da ciência é de revisão contínua, mas também deve ter consciência”, escreve. Ele nota ainda que, até 2001, Shockley era descrito nas páginas da Science como um dos inventores do transistor e “teórico racial”. “Isso não vai mais acontecer”, promete o editor-chefe. “A partir de hoje, um link para este editorial aparecerá junto com qualquer menção a Shockley nesta revista. Não cometa erros. Shockley era um racista. Shockley era um eugenista. Isso é tudo.”

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