Um estudo publicado nesta quarta-feira, 13, no periódico científico Science Advances estima que a atividade humana contribuiu para que a Terra ultrapassasse seis dos nove limites planetários estabelecidos para assegurar a estabilidade e a resiliência do planeta. Os limites foram demarcados a partir da definição dos processos físicos e químicos que regulam a estabilidade dos sistemas terrestres em suas múltiplas variações.
A estrutura visa a delinear e quantificar os níveis de perturbação causados pela ação humana e fixam pontos em que o estado de cada sistema se torna significativamente diferente do estado interglacial “semelhante ao Holoceno”, em que as funções ambientais globais e os sistemas de suporte à vida permanecem próximos ao experimentado nos últimos 10.000 anos, momento que os autores definem como o estado planetário preferido para o bem-estar humano.
O período escolhido começou com o fim da última era glacial e coincidiu com o desenvolvimento da agricultura e a evolução das civilizações modernas. Nele, o planeta gozava de condições relativamente estáveis e clima quente. “As atividades humanas trouxeram a Terra para fora dessa janela de controle ambiental do Holoceno dando origem ao Antropoceno”, diz o estudo. “Como consequência, a Terra pós-Holoceno ainda está em evolução e as condições ambientais globais finais permanecem incertas.”
Os nove processos analisados incluem a integridade da biosfera, mudanças climáticas, mudanças no acesso e na qualidade da água, acidificação dos oceanos, destruição da camada de ozônio, carga de aerossóis atmosféricos, mudanças nos sistemas terrestres, introdução de novos componentes, como produtos químicos sintéticos e resíduos nucleares e fluxos biogeoquímicos, como o movimento do nitrogênio em seu ciclo de ação. Todos os limites individuais, portanto, adotam as condições pré-industriais do Holoceno como referência para avaliar a magnitude dos desvios causados pela ação humana.
O artigo sugere que todos os processos estão além do ponto ideal para a vida, com exceção da destruição da camada de ozônio, acidificação dos oceanos, que se aproxima do limite, e carga de aerossóis atmosféricos, cujo limite foi ultrapassado em algumas regiões, mas ainda não foi violado em escala planetária.
Os autores apontam que essas alterações ambientais causadas pelo homem geralmente são tratadas individualmente, como quando se analisam as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade ou os efeitos da poluição atmosférica, por exemplo. Para eles, esse tipo de abordagem é insuficiente para perceber as interações não lineares dessas perturbações e os efeitos agregados que impactam no estado geral do sistema terrestre. Os investigadores esperam que a estrutura de limites planetários ajude os cientistas a avaliar como esses processos interagem e impactam uns aos outros. “O foco está sempre no sistema terrestre como um todo e não na escala regional”, observam.