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Primeira astronauta árabe da Nasa quer ‘inspirar futuras gerações’

Em entrevista a VEJA, Nora Al Matrooshi fala sobre aspirações e experiência no treinamento

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 ago 2024, 17h39

Quando criança, Nora Al Matrooshi olhava para as estrelas e sonhava com viagens espaciais. Agora, essa aspiração está mais próxima do que nunca de se tornar realidade: em março, ela se tornou astronauta pela Nasa, conquistando o título de primeira mulher árabe a passar pelo treinamento da mais profícua agência aeroespacial do mundo. 

Enquanto crescia, Al Matrooshi não conheceu muitas mulheres astronautas, mas, sempre boa em matemática, se agarrou ao sonho e o perseguiu com afinco. Se tornou engenheira e, em 2021, após uma tentativa frustrada, conseguiu entrar no programa de astronautas do Centro Espacial Mohammed bin Rashid, nos Emirados Árabes. 

Neste ano, uma parceria inédita do país com os Estados Unidos abriu uma oportunidade: ela e Mohammed Al Mulla, o outro selecionado, fariam parte do programa de treinamento de astronautas da Nasa. Em entrevista a VEJA, ela falou sobre como foi essa experiência, suas aspirações para o futuro e sobre o sentimento de ser a primeira a realizar esse feito.

AL MATROOSHI - Nora: sonho de pisar na Lua
AL MATROOSHI – Nora: sonho de pisar na Lua (ROBERT MARKOWITZ/NASA/Divulgação)

Você sempre quis ser astronauta? Na época em que decidi que queria me tornar um astronauta, não havia programa de astronautas nos Emirados Árabes Unidos. No entanto, fiz disso um dos meus objetivos, certificando-me de seguir todos os passos corretos para estar pronto quando finalmente surgisse a oportunidade.

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Quando você percebeu que o sonho de se tornar uma astronauta poderia se tornar realidade? Quando os Emirados Árabes Unidos anunciaram pela primeira vez que estavam começando um programa de astronautas, me inscrevi imediatamente. Infelizmente, não fui selecionada para a primeira turma. No entanto, nos Emirados, nós valorizamos muito o desenvolvimento, então, não foi uma grande surpresa quando anunciaram que estavam procurando pessoas para uma segunda turma. Me inscrevi e fui selecionada. Foi um momento muito surreal.

E como foi isso para a sua família? Minha família sempre foi incrivelmente apoiadora de tudo o que escolhi perseguir. Isso é uma característica comum nos Emirados Árabes Unidos. Minha família, especificamente, sempre me incentivou a seguir minhas paixões e forneceu um apoio inabalável ao longo da minha jornada. O encorajamento deles tem sido uma força motriz por trás da minha busca pelos meus sonhos.

Antes de se tornar astronauta, você se formou em engenharia. Isso fazia parte dos planos para se tornar uma astronauta? Eu escolhi estudar engenharia mecânica porque gosto de números. E uma das razões pelas quais escolhi especificamente engenharia mecânica foi porque assisti a um documentário no ensino médio sobre um dos lançamentos da Soyuz. O papel do engenheiro mecânico na indústria espacial foi muito destacado nesse documentário, então, decidi que, se eu queria mesmo seguir uma carreira na indústria espacial e me tornar astronauta, engenharia mecânica era o caminho. 

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Você foi a primeira astronauta a se formar em uma turma de astronautas pela Nasa. Como é isso para você? Alcançar esse marco tem um significado imenso para mim pessoalmente e para o meu país. Desde a sua fundação, os Emirados Árabes Unidos destacaram o papel fundamental que as mulheres desempenham em seu desenvolvimento. Me tornar astronauta e treinar na NASA é o desenvolvimento natural disso e espero que isso inspire futuras gerações de mulheres árabes e árabes em geral a seguir seus sonhos sem limitações. Mas é preciso destacar que uma outra mulher árabe já chegou ao espaço, a astronauta Rayyanah Barnawi, pela missão Axiom 2. 

Como foi o treinamento? Meu treinamento com a NASA mostra exatamente como o espaço une países. Foi uma colaboração entre os Emirados Árabes Unidos e os EUA para que eu e Mohammed Al Mulla treinássemos como parte da turma da NASA. Foi emocionante, foi desafiador e foi divertido. Eu não trocaria essa experiência por nada. 

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TREINAMENTO – Nasa: água simula baixa gravidade (NASA/Divulgação)
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Os Estados Unidos, através do Artemis, pretende levar humanos de volta ao espaço muito em breve. Você pretende ser um desses astronautas? Os Emirados estão comprometidos em contribuir para a exploração e utilização pacífica do espaço. Recentemente anunciamos que os EAU construirão a câmara de acoplamento para o Gateway, que é uma estação espacial que orbitará a Lua. Tenho certeza de que se você perguntar a qualquer astronauta se eles gostariam de uma missão à Lua, a resposta seria sim. Claro que ficarei feliz em participar de qualquer missão para a qual eu seja designada, mas o sonho de infância de caminhar na Lua ainda está presente. Seria uma honra. Mas, novamente, não estamos apenas mirando na Lua; nosso objetivo é explorar todo o nosso sistema solar. 

Pode falar sobre alguns dos momentos que você mais gostou do treinamento? Houve muitos momentos em que pensei comigo mesmo: esse é o melhor trabalho que eu poderia pedir. Foi e tem sido muito divertido. Um dos momentos foi voar em um T-38 e ir mais rápido que a velocidade do som. Outro momento foi vestir o traje e ser colocada na água para treinar caminhadas espaciais. Outro foi passar pelos simuladores, onde você está na cúpula controlando o braço robótico e capturando um dos veículos que está chegando à ISS. Foram muitos momentos divertidos ao longo do treinamento.

Qual a importância da multiculturalidade na exploração espacial? Acredito que a exploração espacial transcende fronteiras nacionais e diferenças culturais. Se você perguntar a qualquer astronauta que esteve no espaço e olhou para a Terra, ele te dirá que é tudo apenas um grande planeta no qual todos vivemos. Você não vê essas diferenças quando está no espaço. E eu acho que promover a colaboração e a compreensão mútua entre as nações é fundamental para essa atividade. O espaço, ou a exploração espacial especificamente, serve como um lembrete da nossa humanidade compartilhada. A importância de diferentes países e culturas se unirem nesse esforço reside nas diferentes e diversas perspectivas e especialidades que eles trazem. 

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