Presidente da Fundação Butantan renuncia ao cargo
Segundo nota oficial, Montoro Filho deixou a função porque discordava do modelo de gestão proposto pelo Conselho Curador da fundação

O diretor-presidente da Fundação Butantan, André Franco Montoro Filho, pediu demissão do cargo nesta quarta-feira durante uma reunião da diretoria. Segundo uma nota oficial divulgada pela assessoria da fundação, ele deixou a função por “discordar do modelo de gestão proposto” pelo Conselho Curador da fundação – entidade privada que cuida da gestão financeira e administrativa do Instituto Butantan, principal fabricante e centro de pesquisas de vacinas e soros do país. Montoro Filho será substituído interinamente por Erney Camargo, que já ocupou o cargo anteriormente e é atual membro do Conselho.
Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, Montoro leu uma carta durante o encontro com o conselho diretor na qual denunciava irregularidades na gestão financeira do Butantan, incluindo pagamentos sem contrato e um número excessivo de contratações de emergência sem necessidade. “Recusei seguir tais práticas”, disse ele em sua fala, segundo o jornal.
Montoro ocupava o cargo de diretor-presidente da fundação desde 2015, quando substituiu o médico imunologista Jorge Kalil, que à época também acumulava a função de presidente do Instituto Butantan. Kalil foi afastado do seu cargo na fundação por decisão do secretário de Saúde do Estado, David Uip, porém ainda permanece como diretor do instituto.
Apesar do instituto ficar encarregado de fabricar as vacinas, apenas a fundação pode comercializá-las. Segundo a reportagem da Folha, no início do mês, Kalil alterou o estatuto da fundação com apoio de outros conselheiros, repassando todas as tratativas e negociações para o instituto e deixando a fundação sem poderes. Dessa forma, ele assumiu o controle sobre um orçamento de 1,2 bilhão de reais.
O jornal afirma que este seria um dos motivos pelo qual Montoro renunciou ao seu cargo, já que não concordava com a mudança. “Minhas ações foram consideradas como intromissões em assuntos privativos do senhor Kalil”, ele disse ao conselho, segundo a reportagem.
Investimentos
A decisão de Montoro foi anunciada no mesmo dia em que o ministro da Saúde, Ricardo Barros, assinou um convênio de 54 milhões de reais com o Instituto Butantan para investir na infraestrutura de produção de vacinas. Segundo o Ministério, o documento prevê um valor cerca de 50% maior do que foi repassado nos últimos oito anos, que correspondeu a um total de 36,3 milhões de reais.
Com a verba o instituto pretende finalizar a produção da vacina Pentavalente, que está prestes a ter seu registro na Anvisa aprovado. Ela inclui doses para a imunização contra tétano, pertussis, hepatite B, difteria e haemophilus influenza B – vírus que causa a gripe.
Em 2016, o Ministério da Saúde destinou ao Instituto Butantan mais de 1,5 bilhão de reais para a compra de vacinas e soros. O número corresponde a 40% do total investido pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), que distribui cerca de 300 milhões de imunobiológicos anualmente a toda a população.