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Por que a ginasta Simone Biles é também um fenômeno científico

A americana de 19 anos que conquistou seu quarto outro nesta terça-feira parece desafiar as leis da física. Saiba como consegue seus saltos perfeitos

Por Da redação
Atualizado em 16 ago 2016, 17h52 - Publicado em 16 ago 2016, 13h34

A ginasta americana Simone Biles tornou-se um fenômeno da Rio-2106. Ganhou ouro nas provas por equipes, individual geral, salto e, nesta terça-feira, no solo, em sua última competição. Conquistou ainda um bronze na trave, sua única participação um pouco mais distante da perfeição. A participação incrível mostra que Simone pode não ser apenas a melhor ginasta das Olimpíadas – é, possivelmente, a melhor ginasta de todos os tempos. Aos 19 anos, é a atleta que acumula mais ouros na história dos campeonatos mundiais de ginástica artística, tem dez títulos (em aparelhos, por equipes e com três campeonatos no individual geral) e é a primeira a ganhar três deles em sequência.

Para quem a vê em ação, seu domínio de todas as modalidades parece desafiar, constantemente, as leis da física. Em apenas 1,45 metro e 47 quilos concentra uma combinação aparentemente improvável de flexibilidade, concentração, potência e força, muita força.

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Graças a essa reunião de qualidades, a atleta tem até mesmo um movimento com seu nome, o “Biles” – que não é, nem de longe, o mais difícil para ela. Mas, desde que inaugurou o movimento no campeonato mundial de 2013, o “Biles” se tornou sua assinatura – um mortal duplo estendido com um meio giro:

O movimento, aos olhos da ciência, é “incrível”, segundo afirmação da física Faye Barras, da Universidade do Estado do Oregon, nos Estados Unidos, ao site Inverse, especializado em ciência e tecnologia.

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Quando salta, Simone Biles chega a quase duas vezes a sua altura. Para alcançar esse ponto dentro dos limites restritos do solo ou aparelhos, ela percorre durante a corrida que lhe dá impulso uma distância menor que seus colegas – que precisam correr mais alguns metros para atingir a mesma altura. Com uma corrida mais curta, sobra para a atleta mais espaço durante os saltos – que podem ser completados com elementos acrobáticos a mais. Ou seja, assim ela ganha também mais pontos, como os incríveis 2,1 pontos que abriu sobre a segunda colocada na prova individual geral – a maior margem já registrada na pontuação da ginástica em Olimpíadas. Mas, afinal, como ela consegue fazer isso?

Expert em física

O mortal estendido é mais difícil que o carpado – aquele no qual a ginasta Daiane dos Santos era especialista, quando deixava o corpo dobrado em um ângulo menor que 90 graus. No estendido, ele não é curvado, o que exige muita velocidade para que ele se complete. Isso porque o corpo estendido é mais resistente aos rodopios que o curvado (por causa de uma unidade de medida chamada inércia rotacional: quanto mais perto do eixo, mais algo gira).

Biles tem a capacidade de colocar seu corpo em uma posição exata para fazer os dois mortais e, pouco antes do final do segundo, recolher os braços para executar o meio giro no ar. Assim, consegue ficar mais próxima ao eixo para executar o giro e conseguir terminar o mortal.

Além disso, a ginasta é capaz de alcançar uma alta velocidade junto a uma grande potência que permite a realização das acrobacias. A reunião das duas capacidades, o que se costuma chamar potência ou explosão, é apontada por diversos especialistas como uma das maiores qualidades da atleta.

Ela tem o físico diferente de ginastas como a longilínea Nadia Comaneci, a romena que ganhou o primeiro dez perfeito da história, nas Olimpíadas de Montreal, no Canadá, em 1976. Simone Biles é musculosa, com uma porcentagem elevada de fibras musculares de contração rápida, que permitem esforços intensos e velozes, na panturrilha e no quadríceps (músculos das coxas).

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“O que é incrível é que, pouco antes do salto, ela ganha velocidade e energia suficientes para atingir aquela altura. Acredito que ela pegue um pouco da energia dos dois primeiros saltos [ainda no solo]. Como ela precisa chegar ainda mais alto, ela realmente tem que colocar muita força ali. Basta olhar para seus músculos, não há qualquer possibilidade de que ela consiga fazer tudo isso sem eles”, afirmou Barras ao Inverse.

A ginasta Simone Biles, dos Estados Unidos, durante a final individual, dos Jogos Olímpicos Rio 2016 (Mike Ehrmann/Getty Images)

São essas fibras musculares que também ajudam a atleta fazer finalizações perfeitas, pois precisa absorver todo o impacto para que o movimento termine em equilíbrio. A ação de dobrar os joelhos, com o apoio do solo macio, ajuda a espalhar a energia. Ainda assim, a força que precisa ser dispersada é imensa – segundo os cálculos aproximados de Barras, após o “Biles”, a força acumulada para ser absorvida terminaria em algo equivalente a uma tonelada. Os músculos e tendões de Simone Biles, portanto, são altamente eficientes para suportar tanta carga.

Força e flexibilidade

Outro ponto que chama a atenção nos movimentos da ginasta é a junção de toda essa explosão e força com a flexibilidade. Essas características fazem com que ela execute movimentos e aterrissagens com muita precisão e segurança. Segundo a treinadora Aimee Boorman, a atleta tem também uma orientação espaço-temporal excepcional. Em entrevista ao site do jornal americano The New York Times, Aimee afirmou que a garota é capaz de aprender em dias movimentos que ginastas experientes levam anos. “Você tem a sensação de que, mesmo dando voltas, ela sabe sempre onde está e como e quando vai chegar”, disse.

Simone Biles sabe que reúne características únicas para executar tantas façanhas que deixam atletas – e cientistas – boquiabertos. Por isso, logo nos primeiros dias dos jogos, fez uma afirmação que deixou claro o que pretende alcançar: “Eu não sou a próxima Michael Phelps e nem a próxima Usain Bolt. Eu sou a primeira Simone Biles.”

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