Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99

Pesquisadores anunciam a descoberta de uma cor jamais vista na natureza

Ela só se tornou perceptível ao olho humano graças a estímulos de raios laser

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 Maio 2025, 08h00

Enxergar cores em profusão é uma daquelas habilidades que diferenciam os humanos do restante dos seres vivos. O complexo sistema começa na retina, a película que cobre o fundo do olho. Suas células em formato de cone captam os raios luminosos de diferentes tons, que vibram em frequências específicas. Esse gigantesco conjunto de informações é então transformado em impulsos elétricos, que viajam pelo nervo óptico até o cérebro, responsável por decodificar cada um deles, distinguindo milhões de matizes. As distâncias entre cada ponto do espectro são tão tênues que faltam até nomes para caracterizá-los. No início do ano, cientistas da Universidade da Califórnia, em Berkeley, cravaram o feito de descobrir a olo, uma cor jamais vista antes, por nenhuma pessoa no planeta. Ela poderia ser descrita como um tom especial de azul-esverdeado, mas só pode ser observada com ajuda da tecnologia.

MARCO VISUAL - Tecnologia: estudo foi o primeiro a estimular células específicas da paleta verde
MARCO VISUAL - Tecnologia: estudo foi o primeiro a estimular células específicas da paleta verde (Longhua Liao/Getty Images)

O achado foi obtido com a exposição de cinco voluntários a um sinal luminoso inexistente na natureza, produzido artificialmente por um canhão de raio laser conhecido como Oz. Com precisão micrométrica, a equipe conseguiu estimular um único tipo de célula da retina, responsável pela percepção da paleta verde. Enquanto os participantes do experimento permaneciam imóveis, com os olhos fixos em cenário neutro, os raios miraram cerca de 1 000 desses minúsculos cones. É uma situação inédita, já que no dia a dia a retina absorve raios de luz simultaneamente, sobrepondo tons de vermelho, verde e azul. Ao separarem o processo, eis que surgiu a nova cor, cuja existência foi confirmada com testes objetivos em que os participantes eram convidados a ajustar as tonalidades em um computador, até se aproximarem com o máximo de precisão do que seus olhos haviam identificado.

Só foi possível igualar milimetricamente as percepções quando os especialistas adicionaram doses de branco à tela. Todos afirmaram enxergar um azul-esverdeado, muito mais vivo e saturado do que qualquer outro observado no mundo real. Seu nome é fruto de uma daquelas brincadeiras de cientista, inspirado nos tipos de célula da retina. Como apenas uma das três categorias foi ativada, a situação poderia ser traduzida na fórmula 0-1-0, ou “olo”, se transposta para o alfabeto.

O ALVO - A experiência de Berkeley: feixes miraram tecido no fundo do globo
O ALVO – A experiência de Berkeley: feixes miraram tecido no fundo do globo (Christoph Burgstedt/Getty Images)
Continua após a publicidade

O estudo só se tornou viável graças a uma tecnologia extremamente sofisticada. Antes de dar início aos disparos de laser no globo ocular, os pesquisadores tiveram de mapear individualmente a retina de cada voluntário para delimitar a posição exata dos conezinhos. A tarefa é extremamente complexa porque se dá sobre um tecido orgânico com metabolismo ativo e em constante transformação. Vencidos os obstáculos, o trabalho foi publicado na Science Advances, uma subsidiária da prestigiada revista Science, e obteve reconhecimento internacional imediato. “O ensaio exigiu uma convergência rara de conhecimentos técnicos e chegou a resultados consistentes”, afirma o biofísico Bruss Lima, pesquisador apoiado pelo IDOR Ciência Pioneira e pelo Instituto Serrapilheira.

Por enquanto, a olo é apenas uma cor que cinco pessoas no planeta conseguiram enxergar. A descoberta figura no rol da ciência pura, sem aplicações práticas imediatas, mas ajuda a esclarecer o potencial e os limites da visão humana. “O sistema visual opera por comparação, avaliando os contrastes e o contexto das imagens captadas por nossos olhos”, explica Bruss. Os especialistas, no entanto, acreditam em outros usos para a tecnologia que revelou a nova cor, como em tratamentos para o daltonismo, causado por uma seletividade imprópria na ação dos cones. Uma segunda linha a ser desenvolvida envolve treinar o sistema visual para se adaptar a terapias com base em genes, que poderiam modificar as estruturas celulares do globo ocular. Serão necessárias ainda novas pesquisas, mas são possibilidades que trazem um novo olhar para essa área de conhecimento.

Publicado em VEJA de 2 de maio de 2025, edição nº 2942

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.