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Pesquisadora encontra nova versão de famoso soneto de Shakespeare

Pesquisadora da Universidade de Oxford descobriu a rara cópia em uma coleção de poesias do século XVII

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 4 mar 2025, 15h00

A pesquisadora da Universidade de Oxford Leah Veronese descobriu uma rara cópia manuscrita do famoso Soneto 116 de Shakespeare em uma coleção de poesias do século XVII. A descoberta ocorreu na Biblioteca Bodleian, em meio aos documentos de Elias Ashmole (1617–1692), fundador do Museu Ashmolean e defensor da monarquia durante a Guerra Civil Inglesa. Esta é apenas a segunda cópia manuscrita conhecida do soneto.

Veronese encontrou o tesouro enquanto pesquisava sua tese de doutorado. O manuscrito faz parte de uma “miscelânea”, um tipo de documento escrito à mão que contém uma seleção de textos de diferentes autores sobre vários temas. A pesquisadora explica que o poema chamou sua atenção por ser uma versão incomum do Soneto 116.

Ao consultar o catálogo, Veronese percebeu que o poema era descrito como “sobre a constância no amor”, sem menção a Shakespeare. “Eu acho que a combinação da linha inicial adicional (“Self-blinding error seize those minds”) e a ausência de Shakespeare na descrição original do catálogo podem ter feito com que o poema passasse despercebido por tantos anos”, disse ela, por meio de comunicado.

Adaptação Política

O que torna esta versão particularmente fascinante é a forma como o poema foi adaptado. O soneto está inserido em meio a obras com forte carga política, como canções de Natal proibidas e poemas satíricos sobre os eventos tumultuosos do início da década de 1640. Nesta cópia, o soneto foi adaptado como uma canção musicada pelo compositor Henry Lawes. A música em si pode ser encontrada em um livro de canções na Biblioteca Pública de Nova York. A versão musicada inclui sete versos adicionais e alterações no início e no dístico final original de Shakespeare.

MISTÉRIO - A imagem clássica de Shakespeare: ser ou não ser?
MISTÉRIO - A imagem clássica de Shakespeare: ser ou não ser? (Stock Montage/Getty Images)
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Emma Smith, professora de Estudos de Shakespeare na Universidade de Oxford, destaca que a descoberta demonstra que séculos de busca por evidências sobre Shakespeare e sua recepção inicial ainda não esgotaram os arquivos. “Enquanto outros sonetos foram amplamente divulgados e citados, apenas uma referência anterior a este era conhecida.”, disse ela, acrescentando que a investigação de Veronese mostra que o soneto está sendo compreendido no contexto da política monarquista – muito longe de seu papel nos casamentos modernos.

Abaixo, as versões original e adaptada da abertura do soneto:

Original:
Let me not to the marriage of true minds
Admit impediments; love is not love
Which alters when it alteration finds

Tradução de Ivo Barroso:
Que eu não vejo empecilhos na sincera
União de duas almas. Não amor
É o que encontrando alterações se altera

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Nova versão:
Self blinding error seize all those minds
Who with false appellations call that love
Which alters when it alterations finds

Tradução livre:
O erro de cegar-se a si domina as mentes
Que com falsos nomes chamam de amor
Aquilo que, ao mudar, também se altera

Uma razão prática provável para as linhas adicionais é criar mais versos para serem cantados. No entanto, no contexto da Guerra Civil Inglesa, as linhas adicionais também podem ser lidas como um apelo à lealdade religiosa e política. As linhas adicionadas transformam o soneto de uma meditação sobre o amor romântico em uma poderosa declaração política. Veronese enfatiza que este texto nos fornece um novo exemplo de como Shakespeare estava sendo lido durante a guerra civil, e como seus textos estavam sendo politicamente reaproveitados para atender às questões da época.

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Soneto 116 – Tradução de Ivo Barroso

Que eu não vejo empecilhos na sincera
União de duas almas. Não amor
É o que encontrando alterações se altera
Ou diminui se o atinge o desamor
Oh, não! amor é ponto assaz constante
Que ileso os bravos temporais defronta.
É a estrela guia do baixel errante,
De brilho certo, mas valor sem conta.
O amor não é jogral do Tempo, embora
Em seu declínio os lábios nos entorte.
O amor não muda com o dia e a hora.
Mas persevera ao limiar da morte.
__E, se se prova que num erro estou,
__Nunca fiz versos nem jamais se amou.

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