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Pesquisadora cria mapa para encontrar meteoros na Antártica

Estimativas apontam que apenas 13% das rochas espaciais do continente já foram encontradas

Por Marília Monitchele
20 mar 2023, 19h12

Imagine descobrir um outro planeta antes de descobrir um continente vizinho? Foi exatamente isso que aconteceu com a Antártica. Enquanto Urano foi descoberto em 1781,o continente branco só seria desvendado em 1820. De lá para cá, não deixou de despertar a imaginação de escritores, navegadores e pesquisadores. E foi esse fascínio pelo continente, e suas relações extraterrestres, que levou a glaciologista holandesa Veronica Tollenaar a empreender uma verdadeira saga em busca de rochas espaciais de outros mundos. 

Sob a alva cobertura de neve, não há monstros ou criaturas misteriosas, como já se acreditou no passado, mas sim uma quantidade considerável de meteoritos que podem ajudar a recontar a história da nossa galáxia. Embora a concepção da Antártica como potencial sítio arqueológico para itens alienígenas não seja necessariamente nova, o geólogo Japonês Masao Gorai já brincava com a ideia em plena corrida espacial em 1969, Tollenaar é a primeira a tentar desenvolver um método sistemático de buscas. 

O primeiro meteorito antártico foi recolhido em 1912, pelo explorador inglês Frank Bickerton. Na expedição de Gorai, foram surpreendentes nove meteoritos em 10 dias. 

Até hoje, o continente já nos presenteou com quase 50 mil rochas espaciais, 62% de todas as encontradas na Terra. Tollenaar acredita que algumas centenas delas pousam no gelo anualmente, sendo gentilmente cobertas pelo manto branco. 

Mas não há motivos para pensar que o solo antártico é especialmente atrativo para essas relíquias.  O que temos são reações em cadeia que tornam essas pedras escuras perfeitamente detectáveis. O segredo é relativamente simples: as rochas caem sobre a neve e afundam nas camadas de gelo milenares.  Ao longo de dezenas de milhares de anos, essas rochas celestes se movem pelo gelo seguindo o fluxo da geleira e quando encontram um obstáculo, os meteoritos surgem em áreas de gelo azul. Os meteoritos, portanto, se acumulam em áreas específicas, e o contraste os torna facilmente visíveis para quem sabe o que procura. O que a glaciologa fez foi tornar muito mais fácil o trabalho de quem empreende esse tipo de busca. 

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Através de um sistema computadorizado, Tollenaar consegue estimar, com precisão de 80%, a localização dos meteoritos. O resultado foi um mapa público intitulado: “Onde pegar uma estrela cadente?”. E não vão faltar artefatos. Uma pesquisa publicada pela própria Tollenaar na Science, em 2022, calcula que menos de 13% dos meteoritos da superfície continental foram encontrados. Isso deixa aproximadamente 340.000 rochas disponíveis e mapeadas pela holandesa. Ela mesma espera encontrar alguns na expedição de 18 dias que empreende no continente gelado. 

O mais interessante de tudo é que as chances de Tollenaar liderar esse tipo de missão poderiam ser tão mínimas quanto encontrar uma rocha alienígena num oceano. A glacióloga se dedicou por anos à música,se tornando flautista profissional e dominando repertórios que iam do medieval ao contemporâneo. Depois, estudou engenharia civil, onde aprendeu a usar ferramentas de inteligência artificial, conhecimento ainda pouco difundido entre seus colegas glaciólogos. E foi justamente esse repertório intelectual incomum possibilitou a criação do mapa do tesouro de meteoritos antárticos, que fez parte da tese de doutorado que defendeu.  

O mapa pode ajudar, e muito, as pesquisas futuras. Mas o continente ainda tem suas artimanhas para defender seus pertences. Com temperaturas de até 89 graus negativos e ventos de mais de 300 quilômetros por hora, ainda serão necessários alguns anos de treinamento, planejamento e logística para os exploradores que se aventuram na missão. Mas, quem sabe, um dos pontinhos pretos já apontados por Tollenaar, pode nos contar, em breve, mais algum grande mistério cósmico.

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