O sonho da noite estrelada
Astrônomos do Observatório Vera C. Rubin revelaram ao mundo uma coleção de imagens oníricas do firmamento que remetem a Van Gogh

Em 1889, da janela de um quarto gelado do sanatório de Saint-Rémy-de-Provence, no sul da França, Vincent van Gogh criou uma de suas mais celebradas telas a óleo, A Noite Estrelada, hoje nas paredes do MoMA, em Nova York. Pintada durante o dia, era a imagem do céu noturno que ele tinha na memória. “Confesso não saber a razão, mas olhar as estrelas sempre me faz sonhar”, escreveria em carta para o irmão, Theo. Na terça-feira 24, os astrônomos do Observatório Vera C. Rubin, instalado no Deserto do Atacama, no Chile, revelaram ao mundo uma coleção de imagens oníricas do firmamento que remetem a Van Gogh. As fotografias foram tiradas por uma câmera digital recordista, a de maior resolução jamais construída, com 3 200 megapixels. Cada imagem equivale a 400 televisores ultra HD colocados lado a lado. O conjunto revelou detalhes da Nebulosa Trífida, distante cerca de 5 000 anos-luz da Terra, em lindos desenhos de nuvens gasosas em meio a um mar espacial cintilante. De quebra, em anúncio espetacular, a engrenagem identificou a existência de exatos 2 104 novos asteroides, sete deles classificados como NEOs (objetos próximos à Terra), mas nenhum deles oferecendo risco de colisão com o nosso frágil e combalido planeta. O arsenal é fruto de meros sete dias de registros. Há muito mais pela frente, em passo da ciência que nos faz sonhar como Van Gogh no século XIX e que evidencia nosso pequenino tamanho ante tão infinita grandeza.
Publicado em VEJA de 27 de junho de 2025, edição nº 2950