Novos fósseis antárticos jogam luz sobre evolução das espécies na região
Novos estudos apresentados por pesquisadores brasileiros sugerem que meteoro que atingiu a Terra não provocou o mesmo efeito em todo o planeta
Os pesquisadores do projeto Paleoantar do Museu Nacional, da UFRJ, anunciaram nesta sexta-feira, 8, a descoberta de novos fósseis encontrados na Península Antártica. O time de paleontólogos apresentou dois novos exemplares de aves fósseis coletados na Ilha Vega, que ajudam a compreender como espécies primitivas já possuíam características encontradas até hoje em algumas aves atuais.
A equipe ficou acampada durante 50 dias no verão de 2018/2019. Inicialmente, o objetivo era encontrar fósseis de dinossauros não-avianos e amostras de rochas, mas os pesquisadores ficaram surpresos com a quantidade de fósseis de aves. Com o auxílio de tomografia computadorizada, os pesquisadores encontraram um padrão de estruturas internas das vértebras sacrais (região da coluna vertebral) semelhantes às encontradas no grupo Neornithes, que envolve as aves modernas.
Um dos maiores mistérios da paleontologia é descobrir o porquê que aves modernas sobreviveram à extinção no final do Cretáceo, mas as primitivas, não. As aves viventes hoje são descendentes diretas dos dinossauros que viveram na Era Mesozoica, a chamada Era dos Dinossauros. As aves desse período eram emplumadas e surgiram muito antes do Tyrannosaurus rex. “Durante a maior parte da Era Mesozoica, os dinossauros avianos e não-avianos coexistiram lado a lado em vários ecossistemas terrestres”, diz Geovane Souza. “Existem vários sítios paleontológicos onde fósseis de aves primitivas são encontrados em grande quantidade. Estas pertencem a várias linhagens aparentadas às aves modernas, que chamamos de Ichtyornithes, Enantiornithes, Hesperornithes, só para citar algumas. Aves modernas, assim como as viventes hoje, pertencem a uma outra linhagem que já existia desde a Era dos Dinossauros e são chamadas de Neornithes”.
As descobertas ajudam os pesquisadores a compreender os impactos do meteoro que atingiu o Hemisfério Norte há 66 milhões de anos e provocou a extinção dos dinossauros. Segundo os cientistas, os fósseis de plantas não registram qualquer tipo de mudanças bruscas na abundância ou composição florística durante a passagem do Cretáceo para o Período seguinte, o Paleoceno, o que sugere que a devastação não tenha sido igual nos dois hemisférios. “Nesse cenário, a Antártica teria atuado como um refúgio para a vida terrestre durante o cataclisma, principalmente para as Neornithes que viviam em abundância por ali”, afirma Geovane Souza, discente de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Zoologia (PPGZoo), primeiro autor do trabalho, em comunicado sobre a descoberta.
Um segundo estudo novos registros de interações inseto-planta, do Cretáceo Superior, na Ilha Nelson, Península Antártica. O material consiste em 15 espécimes foliares de Nothofagus sp., uma angiosperma, que preservaram vestígios de atividade de insetos. Segundo os cientistas, as interações entre plantas e insetos representam um tema pouco estudo. As novas evidências coletadas permitem identificar a presença de insetos como um importante componente das teias alimentares nesses ecossistemas há cerca de 80-70 milhões de anos.