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Novo satélite promete revelar em detalhes as drásticas mudanças climáticas na Terra

Parceria entre agências dos Estados Unidos e da Índia, o Nisar põe o planeta sob uma lente inédita, como um Grande Irmão benigno

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 30 ago 2025, 08h00

Vista do espaço, a Terra, o “pálido ponto azul”, na linda definição do astrofísico americano Carl Sagan, nunca pareceu tão frágil. É preciso vigiá-la, mais do que nunca, e é esse o objetivo seminal do satélite Nisar, o acrônimo de Nasa-Isro Synthetic Aperture Radar, fruto de parceria entre a Nasa e a Organização Indiana de Pesquisa Espacial (Isro). A promessa: revelar detalhes dos movimentos invisíveis do planeta. A sonda acaba de abrir a maior antena já utilizada numa missão — um círculo dourado de 12 metros de diâmetro, com aparência de guarda-chuva futurista.

O que faz do Nisar uma peça de engenharia única é a forma como a antena funciona. Pode-se pensar nela como uma câmera de alta precisão: quanto maior a “lente”, mais nítido o retrato. Em sondas postas em órbita, tal recurso significaria hastes de quilômetros de comprimento — algo impossível de ser lançado ao espaço. A saída foi uma solução engenhosa, em que o equipamento tira fotos de uma mesma área em ângulos diferentes. Depois, um software combina todas as imagens em uma só, como se tivesse sido feita por uma antena gigantesca. Na prática, consegue enxergar detalhes de até 1 centímetro na superfície terrestre, mesmo a 750 quilômetros — quase a distância de Brasília a Belo Horizonte.

 

RESOLUÇÃO - Imagem da região da Amazônia feita do alto: o Nisar promete registros ainda mais precisos
RESOLUÇÃO - Imagem da região da Amazônia feita do alto: o Nisar promete registros ainda mais precisos (NASA/JPL-Caltech/.)

Essa capacidade será usada para explorar terrenos que até hoje eram praticamente inacessíveis aos sensores tradicionais. O Nisar opera com dois radares diferentes, capazes de atravessar nuvens, alcançar áreas sob a copa das árvores e registrar transformações em massas de gelo. “O satélite permitirá monitorar enchentes, deslizamentos, erupções e terremotos com um nível de detalhe inédito”, afirma Álvaro Penteado Crósta, professor de geologia da Unicamp e membro da Academia Brasileira de Ciências.

A iniciativa tem sido especialmente celebrada em países tropicais. Na Amazônia, por exemplo, a cobertura quase constante de nuvens sempre dificultou o monitoramento em tempo real. Agora será possível acompanhar com muito mais rigor o avanço do desmatamento, identificar queimadas e observar mudanças no uso do solo. A tecnologia também pode trazer novas descobertas sobre o passado da região. Com frequência crescente, arqueólogos vêm encontrando estruturas soterradas sob a floresta que sugerem formas complexas de ocupação humana na pré-história. “Será mais fácil mapear essas feições a partir das imagens do Nisar”, diz Crósta.

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O alcance global é igualmente impressionante. O satélite será capaz de medir deslocamentos mínimos da crosta terrestre, revelando falhas que antecedem deslizamentos e instabilidades em encostas e barragens. Permitirá observar o derretimento das geleiras com precisão inédita, além de monitorar a elevação do nível dos oceanos — fenômenos que definem o futuro do clima. O volume de informações gerado é proporcional à ambição do projeto (veja no quadro). Mas o diferencial é o tipo de dado que será produzido — séries capazes de mostrar mudanças centímetro a centímetro, catorze vezes por dia. “O Nisar abre uma nova etapa para as ciências climáticas”, diz Crósta.

arte Nisar

O satélite também simboliza, em saudável movimento de um mundo polarizado, o poder da cooperação científica. Estados Unidos e Índia dividem a empreitada sem arrogância. Cada um oferece o que tem de mais avançado, com evidente e natural primazia americana. O Brasil, lembre-se, já participou de esforço semelhante com a China, no programa CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), criado para monitorar desmatamento e mudanças ambientais a partir do espaço.

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O Nisar, enfim, põe a Terra sob uma lente inédita, como um Grande Irmão benigno, no avesso daquele imaginado pelo escritor George Orwell no clássico 1984. Ele enxerga, lá de cima, o que parecia invisível, não para exercer o controle autoritário, ao contrário. Trata-se de esmiuçar os estragos e, com isso, iluminar a relação do ser humano com o planeta, de modo a respeitá-lo. É a tecnologia de mãos dadas com a sensatez. Do sul-­coreano Ban Ki-moon, ex-secretário-­geral da ONU: “Não há plano B porque não existe um planeta B”. É verdade inquestionável, e somos realmente um pálido ponto azul perdido no espaço a exigir cuidado, muito cuidado.

Publicado em VEJA de 29 de agosto de 2025, edição nº 2959

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