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Novas pesquisas revelam como manter o cérebro ativo por mais tempo

A ciência mostra que é possível superar a passagem implacável dos anos — e nem é preciso fazer tanto esforço assim

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h26 - Publicado em 15 jul 2022, 06h00
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(iStock/Getty Images)

Em 1998, o neurocientista americano Fred Gage surpreendeu a comunidade médica ao provar que adultos continuavam produzindo novas células cerebrais. Antes, acreditava-se que o ser humano nascia com um número definitivo de neu­rônios que desapareceriam ao longo da vida, o que explicaria a perda de memória e outros danos neurológicos decorrentes da idade avançada. Desde então, as pesquisas em neurociência avançam em ritmo acelerado, e o mais extraordinário dos órgãos humanos acabaria sendo desvendado por uma série de novos conceitos. O resultado é a compreensão muito mais aguçada de como chegar aos 70, 80 e 90 — até acima dos 100 anos — com o cérebro saudável e evitar as temidas doenças degenerativas, como Parkinson e Alzheimer, que turvam a memória. A boa notícia é que manter a mente jovem é mais simples do que se imagina.

arte mente jovem

O cérebro saudável não é apenas o que não tem indícios de doenças, incluindo tumores, traumas ou má circulação sanguínea, como se costumava acreditar há alguns anos. “Na verdade, é aquele capaz de tomar boas decisões quando desafiado por situações difíceis”, afirmou a VEJA o celebrado neurocirurgião americano Sanjay Gupta (leia a entrevista), correspondente médico da CNN e autor de Mente Afiada (Editora Sextante), livro que chegou há pouco às prateleiras brasileiras e que oferece um panorama das pesquisas mais recentes sobre o tema. “Algumas pessoas, quando encaram problemas, tendem a ficar paralisadas. No caso de uma mente saudável, é quase como ir à academia. Os desafios favorecem respostas rápidas e conexões entre diferentes áreas do cérebro”, afirma o especialista.

Para chegar à vitalidade cerebral, o primeiro passo é manter um estilo de vida saudável, colocando o cérebro no centro das atenções. Significa fazer exercícios físicos regulares e adotar uma alimentação com baixo teor de gordura e açúcar. E, assim, todas as outras funções corporais também vão se beneficiar. O ideal, diz Gupta, é praticar o máximo de atividades físicas, principalmente se forem diferentes. Se você está acostumado apenas a caminhar ou correr, vale a pena, digamos, praticar natação ou ciclismo, que oferecem novas perspectivas de movimento e coordenação motora. Os exercícios também ajudam a circulação sanguínea e a eliminar toxinas que poderiam se alojar no cérebro. A dieta tem papel determinante em como a mente vai se manter jovem. Um estudo publicado no início de julho por pesquisadores da Universidade da Austrália Meridional, o mais recente de uma série de pesquisas semelhantes, constatou que uma dieta rica em gordura aumenta o risco de desenvolver depressão e ansiedade e piora os sintomas de Alz­heimer. A mesma pesquisa revelou que altos níveis de açúcar no sangue são igualmente prejudiciais para a saúde cerebral.

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PASSEIO NO PARQUE - Atividades físicas: elas são vitais para o cérebro sadio -
PASSEIO NO PARQUE - Atividades físicas: elas são vitais para o cérebro sadio – (Renato S. Cerqueira/Futura Press)

A ciência sabe que o cérebro precisa ser permanentemente instigado — assim como o frequentador de academia flexiona os músculos para torná-­los mais robustos, é necessário pôr os neurônios em movimento para que façam melhores conexões entre si e atinjam níveis cada vez mais elevados. Especialistas advertem que o importante é buscar o máximo de novos conhecimentos, o tempo todo e enquanto a vida durar — ou seja, para sempre. Não adianta apenas ler ou fazer palavras cruzadas, embora ambas sejam atividades reconhecidamente valiosas. Um estudo realizado pela Universidade do Texas, em Dallas, constatou que adotar novos hobbies, como pintura ou fotografia, aprender idiomas e até jogar videogame são atividades que, sim, fortalecem o cérebro. Até atitudes simples, como usar a mão não dominante para fazer algumas tarefas cotidianas, obrigam a mente a fazer novas conexões. “O cérebro funciona como uma cidade”, pontua Gupta. “Passamos boa parte do tempo em nossa casa e usamos estradas para chegar a alguns lugares. Não passamos tanto tempo nelas, mas elas são necessárias.” Segundo o neurocirurgião, as pessoas chegam aos 65 anos e param de estimular o cérebro quando se aposentam. “Como os músculos, o cérebro se atrofia se não for usado”, afirma.

Um aspecto trazido pelas novas pesquisas que traçam caminhos para manter a mente jovem diz respeito às interações sociais. Hoje já se sabe que elas são vitais para a construção do cérebro ágil. Nem sempre foi assim. Durante muito tempo, a própria ciência celebrou os chamados lobos solitários, os gênios que, enfiados num laboratório ou trancados em casa, faziam descobertas extraordinárias capazes de mudar o mundo. Trata-se de uma visão superficial e equivocada. São raríssimas, especialmente na nova era, as descobertas científicas que não surgiram a partir da troca de ideias e das relações entre pessoas diferentes. Ao conhecer e interagir com o outro, o cérebro assimila conhecimento e expande a sua capacidade de compreensão.

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ESTÍMULO - O hábito de ler desde criança: ferramenta para treinar neurônios -
ESTÍMULO - O hábito de ler desde criança: ferramenta para treinar neurônios – (Rovena Rosa/Agência Brasil)

A pandemia mostrou claramente, com a necessidade de distanciamento físico, como o ser humano precisa de companhia, e sofre sem ela. A Organização Mundial da Saúde identificou um aumento de 25% em casos de depressão causados pelo medo do vírus, mas também pelo isolamento. “A socialização é extremamente importante para manter o cérebro com saúde”, afirma Antônio De Salles, neurocirurgião do Hospital Vila Nova Star, da Rede D’Or. “ Nada faz pensar mais do que ouvir, conversar e discutir problemas com familiares e amigos.” A pandemia teve outro efeito inesperado: sob diversos aspectos, despertou a preocupação com a saúde mental. O cérebro é o bem mais precioso de que dispomos. Cuidar bem dele, mantendo-o jovem e sagaz, é tão vital quanto o próprio ar que respiramos.

“Estamos nos estágios iniciais”

GUPTA - Preconceito: “Há estigmas quando falamos de saúde mental” -
GUPTA - Preconceito: “Há estigmas quando falamos de saúde mental” – (@SanjayGuptaMD/Facebook)
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Em seu novo livro Mente Afiada: Desenvolva um Cérebro Ativo e Saudável em Qualquer Idade (Editora Sextante), o neurocirurgião americano Sanjay Gupta reuniu as evidências mais recentes sobre a saúde cerebral. Em entrevista a VEJA, ele diz que os estudos nesse campo evoluíram muito nos últimos anos, mas avisa que existem instigantes fronteiras que ainda não foram reveladas. A seguir, os principais trechos da conversa.

Como o avanço da ciência tem proporcionado novos conhecimentos sobre o cérebro? Ao escrever esse livro, tentei encontrar o que havia de mais novo e sólido. Quando falamos de colesterol ou pressão alta, temos décadas e décadas de evidências. Quando o assunto é o cérebro, ainda estamos nos estágios iniciais. E isso é muito empolgante. Apenas recentemente conseguimos escanear o cérebro de forma satisfatória, e estamos entendendo como produzir mais neurônios, por exemplo.

Quais são as principais recomendações atuais para manter o cérebro jovem e afiado? A maior parte das evidências aponta para a importância do movimento. Existe uma proteína chamada BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), produzida apenas pelo nosso corpo. Buscamos entender como podemos estimular sua produção, e percebemos a necessidade de exercícios de intensidade moderada. A dieta é outro fator. Se ingerirmos muito açúcar, nosso corpo vai estocar essas calorias na forma de gordura, mas nossos neurônios, mais sensíveis, vão simplesmente parar.

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Como equilibrar as preocupações com problemas maiores do cotidiano, como a pandemia, ou eleições presidenciais, com uma rotina saudável para o cérebro? Não quero diminuir esses problemas, porque eles têm importância, mas não existe uma resposta simples. O que pude perceber tratando pacientes que voltaram do Afeganistão ou passaram por traumas é que eles ficam muito isolados. E o isolamento retira diversos ingredientes para um cérebro saudável. Passar tempo de qualidade com outras pessoas libera ocitocina, hormônio responsável pelo afeto.

O que o senhor chama de relacionamentos saudáveis? São aqueles em que você pode ser vulnerável, pode pedir ajuda. Se você tiver algumas pessoas em seu círculo de amigos e familiares com quem contar nos momentos difíceis, são esses relacionamentos mais associados à produção de ocitocina, que é fundamental para a neurogênese, o processo de formação de novos neurônios.

Com a pandemia, a saúde mental ganhou maior destaque? Sim, mas como neurologista é triste ter de admitir que ainda há muito estigma quando falamos de saúde mental. Além do que as pessoas falam ou deixam de falar sobre o tema, do ponto de vista de políticas públicas não há o mesmo nível de investimento para a saúde mental, nem a mesma quantidade de leitos disponíveis nos hospitais para quem sofre algum distúrbio. Mas a situação está mudando, e acredito que vá mudar ainda mais com a geração atual de jovens. Estou otimista. Converso com minhas filhas sobre isso e vejo a importância do assunto para elas.

Publicado em VEJA de 20 de julho de 2022, edição nº 2798

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