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Nossa espécie só sobrevive por fazer perguntas como ‘do que é feito o universo?’, diz astrofísica

Katherine Freese se dedica a descobrir do que é feita a parcela ainda desconhecida do universo – que compõe 95% do cosmo

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2016, 14h45 - Publicado em 12 ago 2015, 18h34

Atual diretora do Nordita, tradicional instituto de física teórica dos países nórdicos, a astrofísica americana Katherine Freese é uma das precursoras no estudo de energia e matéria escuras, trabalho que resultou na publicação do livro The Cosmic Cocktail: Three Parts Dark Matter (O Coquetel Cósmico: Três Partes de Matéria Escura; R$ 68,69, disponível para Kindle), publicado no ano passado. Em entrevista ao site de VEJA, Katherine fala sobre os assuntos que aborda em sua obra e carreira e das dificuldades de ser mulher no mundo científico.

O que muda se soubermos do que é feita a matéria escura e se ela existe de verdade? Para que investir tanto tempo e dinheiro nisso? É interesse fundamental da espécie humana, sempre liderada por exploradores, querer saber o que está lá fora. Fomos até a Lua só por isso. E agora o próximo passo é tentar desvendar o que compõe 95% do cosmo que nos rodeia, a que damos o nome de matéria e energia escura. Tudo na nossa experiência diária, tudo que vemos, escutamos, inclusive o nosso corpo, o ar, os planetas e as estrelas, é feito de átomos. Mas isso, esses átomos, representa apenas 5% do universo. O grande mistério da ciência moderna reside nos outros 95%. É fundamental ir atrás de respostas. Afinal, nossa espécie só sobreviveu tanto tempo ao fazer perguntas e buscar desvendá-las.

Usar a palavra “escura” para definir o desconhecido é um truque para quando a ciência não sabe do que se trata? A palavra “escura”, na década de 30, foi utilizada para esse fim por Jan Oort, astrofísico que percebeu que algumas galáxias se mexiam rápido demais. Então, ele questionou: e se tiver algo a mais causando esse efeito estranho da gravidade? Foi ele quem definiu pela primeira vez a matéria escura, inicialmente nomeada assim por ser um elemento que aparentemente não emite luz. A energia escura é mais recente, descoberta perto dos anos 2000. Neste caso, realmente, o termo “escuro” faz referência apenas ao mistério.

Até o momento, conhecemos 5% do universo. Dentro desse contexto, o homem é um ser ignorante? Diria o oposto. Há 100 anos cientistas acreditavam que todo objeto brilhante no céu fazia parte da Via Láctea. A descoberta que derrubou isso foi da década de 1920. Foi quando finalmente perceberam que as estrelas estavam longe demais. É incrível o quanto avançamos ao longo desses anos. Já sabemos que quase tudo que chega ao limite do universo é observável, que nada é mais rápido do que a velocidade da luz e que há uma fronteira de quão longe qualquer informação pode chegar. Nossos cérebros são realmente fenomenais quanto à compreensão do universo. Fico impressionada com o que os seres humanos aprenderam no último século.

Em que ponto do caminho estamos? Muitos acreditam que resolveremos a matéria escura na próxima década. Alguns experimentos já veem sinais do que ela pode ser, mas falta a certeza. Por isso decidi escrever meu livro neste momento, por estarmos realmente presenciando um progresso substancial nesse aspecto. A energia escura é um problema mais difícil. Temos ideias, mas o sentimento geral é de estarmos perdidos. Não consigo imaginar quando resolveremos essa questão. O que sei é que é fundamental solucionarmos esses dois elementos se quisermos progredir em nossa compreensão do cosmo.

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Quando se fala em matéria e energia escura, substâncias que nem sabemos se existem de fato, alguns podem julgar cientistas como crentes. O que separa as teorias da pura crença? Fazer ciência é, de certa forma, similar a escrever ficção científica. Inventamos teorias para explicar o que existe, sim. Mas a diferença em comparação com a religião é que precisamos prová-las. Construímos equipamentos, elaboramos testes, tudo em busca de comprovações. Caso achemos uma resposta positiva, ainda precisamos certificar que nossos pares conseguem atingir o mesmo sucesso se repetirem o mesmo passo-a-passo. Assim, garantimos o êxito. Agora, se não achamos a resposta esperada, assumimos o erro e voltamos ao início do processo, em busca da resposta correta. Este é o método científico. Na crença, nada disso ocorre. São inventadas as teorias, mas elas não necessitam de comprovação, nem renovação. Se estão certas ou erradas, pouco importa para o crente.

Feministas defendem que não é fácil ser mulher e cientista. É verdade? Sou filha de pai e mãe cientistas, então o preconceito não existia dentro de casa. Contudo, fui pioneira de minha área, dominada por homens. Não há dúvidas de que eu não me encaixava, e ainda não me encaixo, no estereótipo de um astrofísico. As mulheres eram, e são, vistas por grande parte de nossos pares como jovens meninas, que não sabem do que estão falando. Isso faz com que, na faculdade, mulheres acabem se afastando de cursos como astrofísica. Trata-se de um ambiente difícil para nós. Como exemplo, quando já havia me tornado professora e pedi licença maternidade, minha faculdade disse que não podia arcar com o custo. Como o corpo docente era de homens, majoritariamente, não sabiam lidar com a situação. Felizmente, isso não ocorreria hoje, já que a licença virou um direito legal. Melhoramos muito. O fato de eu assumir a diretoria de um instituto renomado da área é exemplo. Porém, ainda precisamos de mais para que o ambiente da física se torne realmente receptivo às mulheres.

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