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Programa da Nasa indica planetas mais favoráveis à vida que a Terra

O Rocke 3D analisa dados como composição química da atmosfera e temperatura na superfície

Por André Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h54 - Publicado em 30 ago 2019, 07h40

“O universo é um lugar bem grande. Se não existe vida fora da Terra, então é um terrível desperdício de espaço.” Era assim, com extraordinária assertividade, que o astrofísico americano Carl Sagan (1934-1996) rejeitava a ideia de que, em todo o cosmo, a Terra seria o único planeta com o privilégio de abrigar animais e plantas. Mas, se há tanto lugar para ETs, por que ainda não os encontramos? A resposta está no célebre Paradoxo de Fermi, elaborado em 1950 pelo físico italiano Enrico Fermi (1901-1954). O cientista realizou um cálculo simples, porém revelador. Partindo da ideia de que a Terra seria só mais um entre incontáveis mundos presentes no universo, ele elaborou uma equação baseada em observações do sistema solar. Assim, chegou à conclusão de que algo como 1% dos planetas que existem cosmo afora poderia abrigar seres vivos. Levando-se em consideração que haja no universo 70 sextilhões de estrelas, isso daria, por estimativas, 100 planetas para cada grão de areia que existe na Terra. Se aquele 1% tiver vida, chega-­se à definição de que há um corpo celeste com seres vivos para cada grãozinho de areia. No entanto, nunca topamos com eles: eis o paradoxo. Pudera: tais mundos estão a anos-­luz de distância. O que nos impossibilita, hoje, de chegar lá — não, contudo, de teorizar como eles sejam. Foi o que comprovou um software recém-apresentado pela Nasa. Com resultados surpreendentes.

O novo programa de computador, que ganhou o nome de Rocke 3D, foi desenvolvido pelo Instituto Goddard de Estudos Espaciais (GISS), departamento de pesquisas avançadas da Nasa. Ele é guiado por um algoritmo que, alimentado com uma série de variáveis acerca de um determinado planeta — como a distância em relação à estrela do sistema que orbita, a composição química da atmosfera e a temperatura na superfície —, calcula a probabilidade de existência de oceanos repletos de vida por lá. Com o uso do software, pesquisadores da Universidade de Chicago, também ligados à agência espacial dos Estados Unidos, se propuseram a analisar, entre outros casos, o sistema estelar Trappist-1.

Localizado a 39 anos-luz — à velocidade da luz levaria 39 anos para aterrissar nele —, o Trappist-1 foi descoberto em 2017. Ele conta com sete planetas. No ano passado, um estudo da Nasa avaliou que pelo menos três deles têm chance de abrigar água líquida — poderiam gerar vida. Mais que isso: o trio, em tese, possuiria oceanos ainda mais agitados que os da Terra, o que facilitaria a circulação de nutrientes. Alimentado pelas características sabidas daqueles longínquos corpos celestes, o Rocke 3D mostrou que um deles deve ter, ou ter tido, condições ainda mais amigáveis a seres marinhos do que a Terra. “Verificou-se a possibilidade de existência de mares com atividades intensas, com ampla gama de nutrientes”, analisou o astrônomo peruano Jorge Melendez, especializado em exoplanetas e professor da USP. Agora, os pesquisadores de Chicago ambicionam avaliar, com critérios iguais, ao menos outros 300 planetas. Não, ainda não contatamos extraterrestres. Mas podemos ter achado onde eles estão.

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(./.)

Publicado em VEJA de 4 de setembro de 2019, edição nº 2650

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